Transporte público sobre concreto
Curitiba reconstrói suas vias exclusivas de ônibus com o objetivo de aposentar o asfalto e dar passagem ao pavimento rígido
Curitiba reconstrói suas vias exclusivas de ônibus com o objetivo de aposentar o asfalto e dar passagem ao pavimento rígido
Com o primeiro trecho inaugurado no final de 2008, a Linha Verde faz de Curitiba uma referência nacional em pavimentação de concreto – a canaleta em que vão trafegar os novos ônibus tem 9,4 quilômetros e é feita toda do material à base de concreto de cimento Portland. A cidade, porém, quer mais. O plano da prefeitura é reconstruir todas as vias exclusivas do transporte público à base de concreto de cimento Portland. Já está sendo assim com a Avenida Marechal Floriano, em um trecho de 4,2 quilômetros onde vão trafegar biarticulados e ligeirões. Em seguida, será a vez dos eixos Leste-Oeste e Norte. A meta é ambiciosa para os padrões nacionais: atingir, no médio prazo, de 8% a 10% da malha viária com concreto. É o que revela nessa entrevista o engenheiro civil Wilson Justus, coordenador-geral da Unidade Técnica Administrativa de Gerenciamento (Utag), órgão ligado à Secretaria Municipal de Obras Públicas da Prefeitura de Curitiba e responsável pelo acompanhamento do processo de implantação do eixo metropolitano de transporte na cidade.
Curitiba, com as obras da Linha Verde e da Marechal Floriano, já pode ser considerada referência nacional em uso de concreto em malha viária. O que fez a prefeitura se render a esse material?
Curitiba é uma das pioneiras no uso desse material, haja vista que o Centro Cívico tem pistas em concreto. Isso ocorreu há mais de 40 anos. Depois a cidade optou pelo asfalto. Mas com a implantação da linha Ligeirinho, o concreto reiniciou uma nova fase. Só ele permite uma situação estável e um perfeito nivelamento para que o ônibus se ligue à estação tubo. Além disso, o solo de Curitiba é de baixa resistência, pois tem muita área de rio, e o pavimento asfáltico exige escavações que podem comprometer estruturas enquanto o concreto não.
Na medida em que o pavimento em concreto foi demonstrando sua eficiência, a prefeitura decidiu não limitá-lo apenas às estações tubo, mas estendê-lo para as avenidas e eixos de transporte público. É isso?
Sim. Daí reformamos a Avenida Iguaçu e precisávamos construir a canaleta na Presidente Faria. No local tem o prédio histórico da Universidade Federal do Paraná, na Praça Santos Andrade, e para não comprometer a estrutura centenária optamos pelo concreto. Hoje, os ônibus trafegam no local sem causar nenhum dano ao patrimônio. Diria que o pavimento rígido, por ter uma estrutura mais esbelta, coexiste melhor com as cidades.
Foi a questão do solo que levou também o pavimento em concreto para a Avenida Santa Bernadethe?
Onde ela foi construída é uma região de rio e também com um solo de baixa resistência. Se fossemos fazer um pavimento flexível, ele exigiria um perfil estrutural muito grande. Teriam que ser feitas escavações de grande profundidade para instalar camadas de resistência que permitissem o solo receber pavimento asfáltico. Com a pavimentação em concreto isso não ocorreu. Ela exigiu um perfil estrutural menor e isto, comparativamente, representou uma economia na obra. Isso mostra que o concreto não é um produto mais caro. Conforme a exigência, conforme for o subsolo, ele pode representar um custo menor.
Quer dizer, sob o ponto de vista de investimento, as vias em concreto acabam se tornando mais baratas para a cidade?
Podem ter um custo inicial maior, mas ao longo da sua vida útil acaba sendo economicamente mais vantajosas. No caso do pavimento asfáltico em vias exclusivas para ônibus, em cinco ou seis anos ele precisa ser refeito. Já o concreto tem vida útil de 15, 20 anos, e com baixa manutenção. Além disso, nas ruas à base de cimento você tem um retorno significativo de iluminação. Com lâmpadas menos potentes se consegue uma maior iluminação. Isso também traz economia para a cidade.
Diante desse cenário, quais são os planos da cidade para ampliar a malha viária em concreto? Há novos projetos em curso?
Nas vias exclusivas para ônibus, o pavimento em concreto só tende a crescer. O material rígido é o ideal para receber o transporte coletivo. O ônibus freia e acelera sempre nos mesmos pontos e isso é um fator de desgaste, de envelhecimento do pavimento em pontos localizados. No asfalto formam-se trilhas e outra série de situações que com o pavimento de concreto não acontecem. Realmente o plano da cidade é ampliar a malha de concreto nas canaletas.
Quais seriam as próximas áreas contempladas com o pavimento rígido?
Tem a segunda etapa da Linha Verde, que irá até o Atuba e também terá canaleta em concreto. Pretendemos trocar o pavimento também no eixo Leste-Oeste e no trecho Norte (João Gualberto e Avenida Paraná, no sentido Santa Cândida).
Sob o ponto de vista do meio ambiente, o uso de pavimento em concreto nas cidades traz benefícios?
Na medida em que você não está lidando com combustível fóssil (e o asfalto é um produto fóssil), o uso do cimento dá mais qualidade ao meio ambiente, com certeza.
Em algumas cidades da Europa, o pavimento em concreto e responsável por até 25% da malha viária. Curitiba pretende alcançar esses índices?
Para o transporte coletivo, o pavimento em concreto já virou prioridade. A partir daí, a médio prazo, podemos estender o percentual, que hoje gira em torno de 2%, para 8% ou 10% da malha viária da cidade.
Tecnicamente falando, esse revestimento em concreto que é usado em Curitiba tem algo especial para ampliar a durabilidade ou ele segue o conceito de todas as obras em concreto?
Em sua maior parte, ele segue o padrão normal. Mas na Marechal Floriano, como ela tem cruzamentos com grande intensidade de tráfego, como Visconde Guarapuava, Silva Jardim, Avenida Iguaçu e Getúlio Vargas, utilizamos uma técnica especial chamada The Fast Track. O concreto foi submetido a um processo químico de endurecimento para permitir que em 48 horas os cruzamentos fossem liberados para o tráfego.
Qual a tecnologia usada no pavimento em concreto de Curitiba?
Utiliza-se muito a Vibro Acabadora, que é um equipamento similar ao que se utiliza no pavimento asfáltico, mas é possível fazer com sucesso com Régua Vibratória. É o que foi usado em parte da Linha Verde e também em trechos da Marechal Floriano, principalmente nos cruzamentos.
“Nas vias exclusivas para ônibus, o pavimento em concreto só tende a crescer. O material rígido é o ideal para receber o transporte coletivo.” Engenheiro Civil Wilson Justus
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