Transportar cimento em trem é tendência mundial
Modal ferroviário torna-se mais relevante na pandemia, por razões econômicas, sanitárias e sustentáveis
No Brasil, segundo dados da Associação Nacional dos Usuários do Transporte de Carga (Anut), o volume de cimento transportado por trem caiu 8% em 2020. O percentual contraria tendência mundial, onde o insumo viaja cada vez mais sobre trilhos. As causas são econômicas, sanitárias e sustentáveis. A econômica se baseia em dados do Banco Mundial, que revela: dependendo do país, o transporte por modal ferroviário pode reduzir em até 6 vezes o custo do frete.
A sanitária é que, por causa da pandemia de COVID-19, países europeus e asiáticos, além de Estados Unidos e Canadá, passaram a estimular o transporte de cargas por trem para diminuir o risco de contágio entre caminhoneiros. Já a razão sustentável mostra que a cada 50 mil toneladas de cimento transportadas por trem é possível reduzir a emissão de CO2 em 321 toneladas. Equivale a tirar 4.600 viagens de caminhões das rodovias ou plantar 1.800 árvores.
O fato do Brasil ter estatísticas que contrariam a tendência mundial no transporte de cimento também está relacionado com o subuso do modal ferroviário no país, onde apenas 15% de toda a carga movimentada viaja por trem. O ministério da Infraestrutura projeta alcançar o volume de 31% a partir de 2025. Em termos comparativos, nos Estados Unidos são 35%. Além disso, a malha ferroviária nos EUA é 9 vezes maior que a do Brasil.
Estudo de 2018 da Fundação Dom Cabral mostra que o país reduziria em 2,4% o custo total de transporte caso 10% da carga movimentada por caminhões fosse transferida para trens. Isso significa economia de 4 bilhões de reais a 5 bilhões de reais na movimentação anual de carga no Brasil. “Nenhum país de dimensão continental consegue ser competitivo se não tiver um sistema ferroviário forte. Grandes distâncias são vencidas através de modos de transportes que carregam características de volume para se atingir eficiência logística pela economia de escala e de distância”, diz o professor Paulo Resende, coordenador do estudo.
No BRICS, Brasil só transporta mais cimento por trens que a África do Sul
Dos países que integram o bloco conhecido como BRICS (Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul), o Brasil só transporta mais cimento por trens que a África do Sul. A Índia, por exemplo, fechou 2020 com aumento de 35% no volume de insumo carregado em modal ferroviário. A Rússia foi mais modesta, mas conseguiu aumentar a carga de cimento por trens em 2% no ano passado. Recordista, a China transportou 131 milhões de toneladas métricas por ferrovias em 2020. O setor chinês de cimento também conseguiu aumentar a produção em 2020. Cresceu 1% (de 2 bilhões e 140 milhões de toneladas para 2 bilhões e 160 milhões de toneladas).
Para Sandra Gehenot, diretora de frete da União Internacional de Ferrovias (UIC, do inglês International Union of Railways), o trem é o meio de transporte que mais cresce na pandemia. “Na crise causada pelo COVID-19 vimos como o transporte ferroviário se transformou na espinha dorsal da sociedade e revelou-se um sistema de transporte sustentável“, afirma. A análise vai ao encontro a dados recentes divulgados pela Abifer (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária). São apontadas 5 razões relevantes para se optar pelo trem no transporte de cargas:
- Ao percorrer 1 quilômetro, um caminhão consome 13 vezes mais energia que um trem para transportar uma tonelada de frete.
2. Uma via férrea de um único par de trilhos equivale a uma via expressa de 14 pistas paralelas.
3. Um comboio de 200 vagões transporta tanto quanto 400 carretas rodoviárias.
4. Acrescentar um único trem de frete à rede equivale a retirar da circulação até 280 caminhões.
5. Rodovias transportam 3 vezes mais cargas que ferrovias, mas o custo é 6 vezes maior.
Entrevistados
União Internacional de Ferrovias (UIC), Associação Nacional dos Usuários do Transporte de Carga (Anut) e Abifer (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária) (via assessorias de comunicação)
Contatos
anut@anut.org.br
comunicacao@abifer.org.br
info@uic.org
Jornalista responsável:
Altair Santos MTB 2330
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