Tijolos produzidos de escombros reconstroem Gaza
Engenheiras reciclam destroços da guerra e usam cinzas pozolânicas para conseguir fabricar blocos de concreto economicamente viáveis
Engenheiras reciclam destroços da guerra e usam cinzas pozolânicas para conseguir fabricar blocos de concreto economicamente viáveis
Por: Altair Santos
Duas engenheiras civis graduadas pela Universidade Islâmica de Gaza conseguiram produzir blocos de concreto usando como agregados escombros de alvenaria – resultado de dez anos de guerra -, e cinzas pozolânicas das usinas termelétricas da região. Com isso, reduziram o volume de Cimento Portland por unidade, sem perder características importantes dos blocos, como por exemplo a resistência à compressão. No território da Palestina, o cimento sofre boicote de Israel e, quando não entra contrabandeado, sua importação torna-se muito cara. Por isso, Majd Mashharawi e Rawan Abddllaht se dedicaram por três anos pesquisando um material que permitisse criar tijolos para edifícios construídos em alvenaria estrutural.
O desafio foi encontrar a combinação ideal dos agregados para produzir blocos com resistência mínima de compressão de 5 MPa. “Dos três anos de pesquisa, metade foi consumido para encontrar a resistência ideal. Optamos também por blocos com medida de 39 x 14 x 19 centímetros. Mas foram vários ensaios de compressão. Muitos deles frustrantes, pois achávamos que não iríamos conseguir”, afirma Majd Mashharawi. O esforço valeu à pena. A dupla de engenheiras ganhou em Tóquio o prêmio Japão-Gaza Innovation Challenge (JGIC), organizado pela Agência das Nações Unidas de Socorro e Trabalho para os Refugiados da Palestina (UNRWA).
Por causa dos agregados, os blocos são mais leves e com preço 30% menor que os convencionais. Como reutilizam materiais recicláveis também são mais sustentáveis, o que levou as engenheiras a batizá-los de “GreenCakes”. “Há um volume grande de matéria-prima para a produção dos blocos”, diz Rawan Abddllaht. As termelétricas do território palestino produzem 10 mil toneladas de cinza de carvão por semana. Já os escombros fazem parte do dia a dia dos palestinos, após dez anos ininterruptos de guerra. O que faltava era um processo para industrializar os blocos. A dupla de engenheiras viabilizou através de uma campanha de crowdfunding. Assim, conseguiram comprar máquinas usadas e montar uma linha de produção capaz de fabricar 40 mil blocos por dia.
Meta é atender 18 mil famílias
O objetivo das engenheiras é conseguir construir prédios para abrigar 18 mil famílias que perderam suas
casas e vivem em abrigos. A indústria japonesa da construção civil, sensibilizada com o empenho das engenheiras, participou ativamente do crowdfunding, além de ter oferecido cursos de aperfeiçoamento para produção de blocos de concreto a uma equipe que trabalha na fábrica de Majd Mashharawi e Rawan Abddllaht. A ONU, através da UNRWA, também tem encorajado o empreendimento das engenheiras de Gaza. Em junho de 2016, o bloqueio à Palestina – e em especial à área conhecida como Faixa de Gaza – entrou em seu décimo ano, o que causou uma paralisia na economia do território palestino. A taxa de desemprego entre jovens adultos, com idade até 25 anos, é de 61%. Com a fábrica de “GreenCakes”, elas também ajudam a aquecer o mercado de trabalho em Gaza.
Entrevistadas
Engenheiras civis Majd Mashharawi e Rawan Abddllaht, pesquisadoras da Universidade Islâmica de Gaza (via departamento de comunicação)
Contato
public@iugaza.edu.ps
Crédito Fotos: Divulgação/Inhabitat
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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