Tecnologia da Informação cresce na crise
Em meio a um fogo cruzado sobre a regulamentação da profissão, especialistas em TI ganham status de guru nos tempos atuais
Em meio a um fogo cruzado sobre a regulamentação da profissão, especialistas em TI ganham status de guru nos tempos atuais
Buscar soluções que permitam maior eficiência com menor custo. Essa, basicamente, é a função dos profissionais de Tecnologia da Informação. Por conta desse perfil, eles viraram os gurus da crise. O mercado tornou-se ainda mais aquecido com o advento da crise global e quem está preparado desconhece a palavra desemprego. É o que garante o presidente da Assespro-SP (Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação, seção São Paulo), Roberto Carlos Mayer. A área, porém, vive um debate interno em torno da regulamentação da profissão. Para uns, o projeto que tramita no Congresso trará mais credibilidade ao setor. Para outros, vai engessar a profissão. É sobre esse tema e o avanço da TI que Mayer fala na entrevista, confira:
Com a crise, as empresas devem buscar o aperfeiçoamento de suas estruturas. Isso tende a valorizar os profissionais de TI (Tecnologia da Informação)?
Sim. Hoje, as empresas não têm mais espaço para errar. Por isso, o profissional que possuir qualificação, profundos conhecimentos técnicos e atitude comportamental será valorizado. Esse profissional está encontrando a demanda do mercado no mesmo nível pré-crise. A crise se manifesta no mercado de trabalho apenas para aqueles profissionais que atuam na área de vendas de produtos e serviços de TI em empresas multinacionais.
Quais os requisitos que um bom profissional de TI deve ter?
O bom profissional de TI é aquele automotivado e autogerenciável.
No que os profissionais de TI podem contribuir para a melhoria das engrenagens das empresas?
Os profissionais de TI devem buscar uma constante melhora em sua qualificação. Eles devem buscar as melhores escolas, as melhores certificações, agregar sempre um novo aprendizado. Os profissionais devem ser extremamente proativos para seu desenvolvimento pessoal e da empresa. Assistir palestras, trocar experiência com outros profissionais, fazer cursos de idiomas são dicas úteis para este aperfeiçoamento.
O que as empresas buscam mais hoje, quando investem em TI: segurança ou melhoria de seu sistema de comunicação, para ganhar agilidade e reduzir custo?
Na verdade as empresas buscam ambos, mas num momento de crise normalmente a segurança deixa de ser a prioridade máxima.
Por lidar com sistemas e sigilos, o profissional de TI deve ter um valor ético elevado. Isso faz a diferença no profissional?
Certamente. Qualquer membro da comunidade de TI, profissional ou empresa, deve obedecer a princípios éticos. A Assespro é pioneira na construção de um Código de Ética na área.
Há uma discussão no Congresso para regulamentar as profissões de TI. O senhor poderia explicar o que é isso?
Já faz mais de dez anos que tramitam no Congresso Nacional diversos projetos visando a regulamentação das profissões de TI em geral. Constitucionalmente, as profissões a serem regulamentadas são aquelas cujo exercício representa um risco para a sociedade (quando exercidas de forma incorreta). É verdade que o software de controle de uma central nuclear, ou de uma aeronave, representará um risco para a sociedade se ele falhar. Mas, ao mesmo tempo, a falha de muitos outros tipos de softwares, como os jogos ou os sistemas de previsão meteorológica, não representa risco para a sociedade. Podemos concluir, então, que algumas aplicações da Tecnologia da Informação, de fato, representam risco para a sociedade. Porém, isto não justifica pagarmos o custo de regulamentar todas as atividades de TI. Precisamos encontrar uma solução intermediária para aumentar o nível de confiança da sociedade apenas quando necessário, sem gerar custos desnecessários ou um “engessamento” do mercado de trabalho.
E como está esse debate? Quem tende a ganhar a queda de braço?
Há a tendência de se querer encerrar a discussão tachando o tema de “inconstitucional” – posição adotada por algumas entidades do setor, assim como a posição de alguns sindicalistas, tanto do lado dos sindicatos patronais quantos dos de trabalhadores, interessados na criação de mais um “cartório”, embora os argumentos públicos deles, obviamente, sejam outros. Porém, há outro grupo de interesse que tem se posicionado a favor da regulamentação, que são as das universidades particulares com cursos na área. Para estas instituições de ensino, a regulamentação tornaria os cursos mais atraentes, já que facilitaria o acesso dos formandos ao mercado do trabalho. Por outro lado, sabemos que entre um terço e metade dos profissionais que atuam em TI no país não possuem formação específica em cursos superiores. E, mesmo assim, já há severas restrições quanto à falta de profissionais na área. É uma briga boa, mas ainda não há um cenário claro de qual lado será o vitorioso. É necessário analisar muito criticamente todos os lados, pois os projetos de regulamentação fixam um prazo de experiência mínima (cinco anos, em vários casos) para permitir que estes profissionais continuem na profissão após a entrada em vigor da nova lei. A partir desta exigência, questiona-se: e os demais profissionais? Eles serão demitidos compulsoriamente? Vamos ter mais uma lei que não vai “vingar”? E as empresas constituídas por profissionais com este perfil: serão obrigadas a fechar suas portas? Segunda conclusão: qualquer que seja o projeto aprovado é preciso muito cuidado com as regras de transição para a nova situação a ser criada. Outra conclusão óbvia é que a criação de conselhos profissionais que exijam contribuição das empresas e/ou dos profissionais terá que ser uma despesa que tenha contrapartida: não pode apenas “engordar” os cofres do dono do cartório.
Essa discussão não tende a afetar o mercado de TI?
Analisando as conclusões acima, parece-nos que qualquer tipo de regulamentação compulsória, geral e irrestrita trará mais problemas que soluções para as atividades de TI no país. De outro lado, a permanecer o vácuo legal, continuará a existir a tentação de criar cartórios por meio de projetos de lei patrocinados.
Finalmente, cabe observar que a criação de uma homologação nestes moldes nos permitiria continuar a competir, no mínimo, em pé de igualdade com aqueles países onde as profissões de TI não são regulamentadas. De outro lado, teríamos um argumento para provar que nossos profissionais são melhores que os dos outros, que não regulamentaram a atividade.
Novas oportunidades para a TI
A crise financeira internacional pode abrir novas perspectivas para empresários de Tecnologia da Informação na opinião do presidente da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação, seção Rio de Janeiro (Assespro/RJ), Cláudio Nasajon. Essa crise tem uma parte boa, porque nós, empresas de TI [Tecnologia da Informação], fazemos soluções para melhoria de produtividade de outras companhias, disse.
Recordando a premissa de que produtividade significa produzir mais com menor custo, Nasajon afirmou que qualquer que seja a solução de TI, desde uma simples planilha eletrônica até um software (programa de computador) de gestão, o sistema contribui para aumentar a produtividade. Se você está numa crise, as empresas devem procurar soluções para aumento de produtividade. Então, eu vejo para nós, lamentavelmente por causa da crise, uma ótima oportunidade para expandirmos nossos horizontes empresariais.
Para Nasajon, o governo está, acertadamente, investindo em empreendedorismo. Ele acredita que os programas de incentivo a novas empresas do Serviço de Apoio à Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vão aumentar o número de empresas iniciantes que, certamente, trarão soluções inovadoras. O que acontece, agora, é que, com essa crise, os grandes investidores deram uma segurada. Não porque ficaram pobres, mas porque ficaram psicologicamente abalados. Isso abre uma oportunidade para o pequeno investidor, que pode entrar com capital-semente e o colocar em empresas de inovação que têm um potencial de crescimento grande, principalmente porque, agora, estão amparadas por todos esses projetos governamentais de empreendedorismo, analisou.
Ele lembrou, ainda, que o setor de Tecnologia da Informação é um dos setores inovadores por sua própria natureza. Segundo Nasajon o Brasil é destaque tanto na produção de soluções criativas de tecnologia como em termos de consumo. Ao contrário da Índia, o país consome 80% da produção de softwares. “O mercado interno de TI é muito forte. E isso dá ao país uma boa blindagem contra a crise.
Cláudio Nasajon admitiu que as empresas que exportam mão-de-obra devem sofrer, no entanto, um pouco, perdendo competitividade, devido valorização do dólar. Em compensação, o mercado interno brasileiro vai suprir essa perda de competitividade externa. O Brasil é muito forte em desenvolvimento. Nasajon sugeriu que em vez de investir em empresas que terceirizam mão-de-obra para competir com a Índia ou a China, o governo brasileiro deveria incentivar o desenvolvimento de exportação de tecnologia. Eu quero concorrer com Israel. Eu quero ser comparado a um dos países que desenvolvem mais tecnologia e não aos que exportam mão-de-obra, por ser mais barata aqui do que nos Estados Unidos. E nós temos um potencial enorme para isso. Essa é a bandeira que a Assespro defende, disse.
Fonte: Agência Brasil
Contato com o entrevistado pode ser feito através de sua assessoria de imprensa:
Cintia Amadio (cintia.amadio@notecomunicacao.com.br)
Jornalista responsável Altair Santos MTB 2330 Tempestade Comunicação.
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