Sustentabilidade é mote do Congresso Mundial de Túneis 2024, realizado na China
Integrantes do Comitê Brasileiro de Túneis contam detalhes do evento e destacam projetos subterrâneos
Aconteceu entre os dias 19 e 25 de abril o Congresso Mundial de Túneis 2024, em Shenzhen, na China, que atraiu mais de 2.700 participantes vindos de 65 países, incluindo especialistas, acadêmicos e representantes do setor.
O evento, conhecido como WTC 2024, ocupou uma área de 20 mil m2 e contou com a presença de 193 empresas da indústria global de engenharia de túneis, além de promover 195 apresentações sobre diversos temas relevantes, como sustentabilidade, que foi mote desta edição. A ideia era discutir como projetistas, contratantes, construtores e todo o setor podem contribuir neste processo de conscientização e modernização, priorizando as mudanças climáticas.
Adriano Dornfeld Saldanha, gerente comercial da MC-Bauchemie e diretor do Comitê Brasileiro de Túneis (CBT), participou do Congresso e ressalta a importância do compartilhamento de informações. “Fundamental para nossa comunidade, pois é uma oportunidade única de reunir toda a cadeia para atualizações e discussões sobre tendências e inovações. A troca de informações, tanto nas sessões técnicas, quanto nos cursos e na feira, agregam muito aos profissionais que participam.”
O assessor técnico do DNIT, Eloi Angelo Palma Filho, também ressalta a importância da China, sede do evento, em relação ao pioneirismo do setor. “Quando observamos as empresas europeias e americanas, elas ou produzem equipamentos para escavações convencionais (NATM, SCL) ou para escavações mecanizadas (TBM). Aqui, entretanto, é possível encontrar empresa com as linhas completas de equipamentos para ambas as metodologias construtivas, e aplicáveis, ainda, para obras civis ou mineração subterrânea.”
Sobre a temática da sustentabilidade, Eloi Filho diz que nas últimas três edições do evento tem se falado muito na redução da pegada de carbono na construção de túneis e que há uma busca por elementos de construção, principalmente o concreto, que consigam reduzir a emissão de gases CO2. “Necessário destacar, entretanto, que a adoção de túneis visando a redução de tempo de viagem em rodovias e ferrovias, por si só, contribui diretamente para a redução das emissões ao longo de toda sua operação. O que se aborda, agora, é que essas obras tenham ainda na fase construtiva uma otimização visando a sustentabilidade.”
Promovido pelo Comitê Brasileiro de Túneis, o 6º Congresso de Túneis e Espaços Subterrâneos está confirmado e será realizado entre os dias 10 e 12 de março de 2025, no Espaço Frei Caneca, em São Paulo, com a apresentação do seminário internacional “Latin American Tunnelling Lat 2025”.
Túneis no Brasil
Seguindo a tendência construtiva no segmento rodoviário, o assessor técnico do DNIT relata também a previsão de quatro túneis no trecho concessionado Dutra Rio-SP (a curto prazo), sendo um na Serra do Cafezal e outros três na BR-101/RJ.
Em relação aos principais projetos de túneis em andamento no Brasil, Saldanha destaca a construção das linhas de metrô 2 e 6, em São Paulo. Segundo informações do Metrô de São Paulo, a Linha 6-Laranja tem avançado em bom ritmo e compreenderá 15,3 km, com 15 estações, no total. A previsão de inauguração é entre 2026 e 2027. O mesmo prazo é dado para o lançamento completo da Linha 2-Verde, que se conectará à Linha 3-Vermelha e contará com oito novas estações.
Ainda sobre grandes obras em andamento, Eloi Filho diz que um outro projeto muito esperado é o túnel imerso entre Santos e Guarujá, também no Estado de São Paulo, que será o primeiro com esta característica na América Latina. “Está em andamento o procedimento para a concessão do empreendimento. Depois disto, o concessionário deverá escolher o construtor”, explica.
Com investimento de aproximadamente R$ 6 bilhões, o projeto prevê a construção de um trecho imerso de 860 metros para ligar as duas cidades do litoral. A obra contará com três pistas de cada lado (para o tráfego de carros, caminhões e ônibus), e, na parte central, haverá espaço para o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Além disso, estão previstas uma ciclovia e área para pedestres.
A solução estrutural considerada no projeto consiste no uso de 6 blocos pré-moldados (produzidos em docas secas), seguidos pela imersão das estruturas até a alocação final das peças, promovendo a ligação dos elementos em uma área escavada no canal do estuário. A manutenção do calado do porto bem como a navegabilidade foram fatores imprescindíveis para o desenvolvimento desta solução, que prioriza a travessia seca, com rapidez e segurança.
O emprego desta tecnologia construtiva já vem sendo utilizada com êxito na construção do túnel que interligará a Dinamarca e a Alemanha.
Túneis emblemáticos pelo mundo
Para citar outra obra internacional de destaque, temos o túnel Silvertown, que está sendo construído sob o rio Tâmisa, em Londres, e que ligará os bairros de Silvertown e Greenwich. Com previsão de conclusão em 2025, o projeto terá 1,4 km e incluirá locais para caminhadas e ciclismo, no entorno.
Serão duas faixas em cada sentido: uma para o tráfego em geral e outra exclusivamente para ônibus e veículos de carga acima de 7,5 toneladas. A construção, que começou em 2021, terá um investimento de cerca de 2,6 bilhões de euros.
De acordo com os órgãos oficiais, o novo túnel irá reduzir o impacto ambiental proveniente do congestionamento de tráfego que ocorre atualmente em algumas das ruas e avenidas de Londres, além de fornecer mais oportunidades para que os moradores atravessem o rio por meio de transporte público, contando com uma frota de ônibus com emissão zero.
Um dos destaques do projeto é o uso de uma máquina de perfuração, fabricada especialmente para a obra (com diâmetro de 11,91 metros – o maior usado no Reino Unido). Quando o equipamento é totalmente montado, ele chega a 82 metros de comprimento e peso de 1.800 toneladas.
Outro túnel que se tornou um marco mundial é o Eurotúnel, que completou 30 anos no dia 6 de maio deste ano. Ele possui 50,5 km de comprimento e liga Folkestone, na Inglaterra, a Calais, na França. A área submersa abrange 38 km, o que o torna o mais longo túnel subaquático do mundo. Em seu ponto mais profundo, atinge 75 metros abaixo do nível do mar.
Inaugurada em 1994, a obra contou com investimento de 4,65 bilhões de libras esterlinas. O trabalho de escavação começou em 1987 e foi sendo realizado em ambos os lados, ao mesmo tempo: os túneis, que começaram na Inglaterra e na França, se “encontraram” no final de 1990, e a construção foi concluída em 1993. Os trens chegam a uma velocidade de 140 km/h, realizando a travessia em cerca de 35 minutos.
Fontes
Comitê Brasileiro de Túneis (CBT).
Adriano Dornfeld Saldanha, gerente comercial da MC-Bauchemie e diretor do Comitê Brasileiro de Túneis (CBT).
Eloi Angelo Palma Filho, assessor técnico do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e representante do CBT.
Eurotunnel.
Ministério de Portos e Aeroportos.
Transport for London.
Jornalista responsável
Fabiana Seragusa
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