Sob a ótica da produtividade, Brasil tem mão de obra cara
É o que aponta estudo realizado dentro da Universidade Federal Fluminense, que comparou o desempenho da construção civil nacional com a de outros países.
É o que aponta estudo realizado dentro da Universidade Federal Fluminense, que comparou o desempenho da construção civil nacional com a de outros países
Por: Altair Santos
Estudo da Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro, mostra que a produção média de um trabalhador da construção civil brasileira chega a ser sete vezes menor que o da construção civil dos Estados Unidos, por exemplo. Isso destrói o mito de que a mão de obra no país é barata, quando observada sob a ótica da produtividade. Além disso, nos países desenvolvidos, constata a pesquisa, cresce a atividade da construção industrializada, com o pré-moldado de concreto ocupando mais etapas da construção.
Essa análise está no trabalho do professor Sérgio Roberto Leusin de Amorim, de 2008, intitulado “Sistemas de indicadores de desempenho na construção civil: o caso das pequenas e médias empresas do setor”. No estudo, ele avalia que a pouca produtividade vem de diversos fatores, entre eles a baixa escolaridade do operário da construção civil. “Eles têm dificuldades de um aprendizado técnico e por conta disto acabam tendo baixa produtividade”, diz, citando que para formar um bom trabalhador no setor leva anos. “O tempo de formação de um pedreiro é longo. O operário da indústria têxtil é formado muito mais rapidamente”, compara.
Isso, segundo Sérgio Roberto Leusin de Amorim, leva a construção civil brasileira a depender muito ainda de técnicas manuais. O professor alerta, porém, que não é só isso que causa a falta de industrialização no setor. “Há gargalos burocráticos e tributários que atrapalham, por exemplo, a certificação para produtos inovadores. Então, a construção civil do país vive um paradoxo. Tem a necessidade de aumentar a produtividade, mas os sistemas construtivos inovadores são bloqueados por uma série de exigências burocráticas e tributárias” reafirma.
Por conta desses entraves, o setor vive um círculo vicioso: se industrializa pouco e, por trabalhar com tecnologias arcaicas, não requalifica os operários. No entender de Sérgio Roberto Leusin de Amorim, isso gera entraves que precisam ser vencidos. Para o professor, o Brasil deveria seguir modelos que já deram certo em outros países. “No exterior existe todo um arcabouço que garante o alto desempenho da construção civil. Aqui, o Sinat (Sistema Nacional de Aprovações Técnicas) exige uma cadeia de certificações que inviabiliza o processo de inovações. Este é o primeiro gargalo. O segundo gargalo é a questão tributária. Por último, colocaria a questão da necessidade de requalificação da mão de obra”, analisa.
Déficit habitacional
Sérgio Roberto Leusin de Amorim alerta que se o Brasil não partir para a industrialização da construção civil jamais conseguirá zerar o déficit habitacional no país. “Não existe possibilidade de atendermos a demanda habitacional sem uma construção industrializada. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas demonstra que para a gente ter o atendimento da demanda habitacional seria preciso que 16,5% da força de trabalho do país fosse alocada na construção civil. Esse é um índice que não existe em nenhum país no mundo. Então, se não acontece em lugar nenhum do mundo, é porque os processos construtivos aqui estão atrasados, equivocados”, critica.
O que resulta deste problema é que, segundo dados apresentados no estudo “Sistemas de indicadores de desempenho na construção civil: o caso das pequenas e médias empresas do setor”, a autoconstrução predomina em 85% das habitações com famílias que ganham até três salários mínimos. “Isso gera uma construção informal de péssima qualidade, que pode resultar em patologias graves. Na Universidade Federal Fluminense, um levantamento feito em Niterói mostra que nos loteamentos irregulares 70% das construções têm patologias que comprometem a segurança do morador”, relata.
Um dos problemas causados por esses gargalos tem sido uma inflação de custos no setor da construção civil. “O INCC (Índice Nacional de Custo da Construção) tem tido um aumento muito acima dos outros indicadores de desvalorização da moeda, como o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) por exemplo”, afirma Sérgio Roberto Leusin de Amorim, que atribui isso ao alto custo da mão de obra comparada com a produtividade. “O aumento de custo da mão de obra está elevado, mas não ocorreu o aumento da produtividade”, completa.
Segundo o autor do estudo, para o Brasil favorecer a industrialização nos canteiros de obras uma das medidas a serem tomadas seria a desoneração do setor de pré-fabricados. “Existem dificuldades de se oferecer o produto no mercado. Esse sistema construtivo não consegue financiamento para se inserir em um programa habitacional tão facilmente como os sistemas mais manuais. Então, só há possibilidade de a gente ter uma indústria de construção efetivamente produtiva se estes gargalos forem eliminados. Há esforços governamentais neste sentido, mas também há resistências internas dentro da estrutura burocrática do governo”, finaliza Sérgio Roberto Leusin de Amorim.
Entrevistado
Sérgio Roberto Leusin de Amorim, professor titular da Universidade Federal Fluminense
Currículo
– Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1974)
– Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1981)
– Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1995)
– Atualmente é professor titular da Universidade Federal Fluminense, onde exerce o cargo de vice-coordenador do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo.
Contato: sergio.leusin@gmail.com
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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