Seul ensina como São Paulo pode salvar o rio Tietê

Por 50 anos, o rio Cheonggyecheon, na capital da Coreia do Sul, foi um córrego de lixo e esgoto. Hoje, é atração turística internacional

Por 50 anos, o rio Cheonggyecheon, na capital da Coreia do Sul, foi um córrego de lixo e esgoto. Hoje, é atração turística internacional

Por: Altair Santos

Em 2005, a cidade de Seul – capital da Coreia do Sul – inaugurou seu mais ousado projeto de revitalização urbanística: devolver à cidade o rio Cheonggyecheon, que por quase 50 anos se transformou em um corredor de esgoto e poluição cercado de viadutos por todos os lados. Em 1961, ele foi enterrado por uma avenida pavimentada. Nos anos 1970, um conjunto de elevados foi construído na área, decretando aquilo que parecia ser a morte do Cheonggyecheon. Mas a engenharia e a arquitetura mostraram que é possível recuperar o pior dos rios.

Foi esse exemplo que recentemente o prefeito de São Paulo, João Doria, foi visitar em Seul. O projeto pode servir de referência para a recuperação do Tietê – principal rio da capital paulista. “Esse é um bom exemplo que motiva São Paulo, cidade e Estado, e o próprio governo federal a ter um olhar mais ativo e forte em relação à recuperação e despoluição do Tietê“, disse Doria em suas redes sociais, quando esteve no Cheonggyecheon. O prefeito paulistano cogita buscar apoio na iniciativa privada para viabilizar um projeto, como fez o governo da capital sul-coreana.

O plano de revitalização do Cheonggyecheon custou 300 milhões de euros (cerca de R$ 1 bilhão). Metade deste orçamento foi financiada por empresas sul-coreanas. Além de participar da construção, o grupo Hyundai foi um dos que contribuiu com o projeto. Na época, o prefeito de Seul era Lee Myung-bak, que antes de entrar na política, em 1992, presidiu a Hyundai. As transformações que Lee implantou na capital sul-coreana o tornaram popular no país e possibilitaram que em 2007 ele fosse eleito presidente da Coreia do Sul.

Mudanças ambientais, sociais e econômicas

O Cheonggyecheon é afluente do Han – o principal rio da capital sul-coreana. A recuperação abrange extensão de 5,7 quilômetros. Todo o concreto retirado dos viadutos e das vias expressas que soterravam o Cheonggyecheon foi reciclado e reutilizado nas obras de revitalização. O impacto causado pela restauração causou mudanças ambientais, sociais e econômicas no entorno do rio. Ambientalmente, a biodiversidade aumentou 639% na região. A variedade de plantas aumentou de 62 para 308. As espécies de peixes de 4 para 25 e a de invertebrados aquáticos de 5 para 53.

Transformado em um parque linear, o Cheonggyecheon recebe o fluxo médio de 60 mil pessoas por dia. Destes, dois mil são turistas estrangeiros. A mudança de perfil causou valorização de 50% nos preços dos imóveis. A região atualmente é um centro financeiro e comercial de alto padrão, substituindo o comércio popular que havia no local quando o complexo de viadutos encobria o Cheonggyecheon. O número de bancos e escritórios de grandes conglomerados internacionais cresce a uma taxa de 3,8% ao ano no entorno do rio, desde a sua revitalização.

Toda essa mudança nasceu dentro do departamento de engenharia civil e arquitetura da Universidade de Seul. Em 2000, um grupo de estudo inspecionou as estruturas de concreto que estavam encravadas no Cheonggyecheon. Verificou-se que o grau de patologias colocava em risco a segurança dos veículos que transitavam sobre a via. A pesquisa foi apresentada à prefeitura de Seul, sugerindo que algo fosse feito. A própria universidade desenvolveu um projeto de revitalização do rio. Em 2001, Lee Myung-bak foi eleito prefeito de Seul e colocou a ideia em prática.

Faça um passeio virtual pelo rio Cheonggyecheon:

Clique aqui e entenda o projeto de recuperação do rio Cheonggyecheon!

Entrevistado
Seoul Metropolitan Government (Prefeitura de Seul) (via assessoria de comunicação)

Contatos
english@seoul.go.kr
iklee@seoul.go.kr

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330



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