Setor da construção civil deve desacelerar em 2025, segundo CBIC
Enquanto em 2024 o crescimento previsto deve ser 4,1%, no próximo ano o índice deve ser 2,3%
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC) estima que o setor deve se consolidar com um crescimento de 4,1% em 2024. No entanto, para 2025, a expectativa é de desaceleração, com uma projeção inicial de expansão de 2,3%. Já o Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) e o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) preveem um crescimento de 3% no PIB (Produto Interno Bruto) da construção em 2025, ante os 4,4% estimados para 2024.
No Paraná, a previsão para o próximo ano é de estabilidade. “Há uma preocupação muito forte com a taxa de juros da economia brasileira, a tendência de alta também na inflação, o consequente aumento do custo de construção e, sobretudo, a dificuldade em obter mão de obra qualificada. Soma-se a esse cenário as incertezas quanto ao crédito habitacional, que não deve crescer em 2025 devido à escassez de funding, especialmente da Caderneta de Poupança”, pondera o vice-presidente do Banco de Dados do SindusCon-PR, Marcos Kahtalian.
Confira os fatores que devem influenciar o desempenho da construção civil em 2025:
Impactos do cenário internacional
No cenário externo, Ieda Vasconcelos, economista da CBIC, destacou algumas preocupações e incertezas, como o novo governo nos Estados Unidos, as políticas da China, a guerra entre Ucrânia e Rússia, os conflitos no Oriente Médio e a oscilação nos preços das commodities, especialmente em função da nova política econômica americana.
Para Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV Ibre, do ponto de vista dos custos e preços das commodities, o mundo enfrenta desafios cada vez maiores no campo da geopolítica. “A recente eleição de Trump, com promessas de uma política altamente protecionista, levanta questionamentos sobre como isso poderá impactar o crescimento econômico global e, consequentemente, os preços das commodities”, explica.
Tendências da economia nacional que impactam o setor de construção
Ieda destacou que, para 2025, pode-se esperar um menor dinamismo da economia. “A Pesquisa Focus, realizada pelo Banco Central e divulgada em 06/12/2024, projetou alta de 2,0% do PIB Brasil para 2025, enquanto o incremento aguardado para 2024 é de 3,39%”, explica a economista.
Outro fator que deve ser levado em consideração é a inflação. “A expectativa para a inflação é superior ao teto da meta inflacionária. O teto da meta para 2025 é o mesmo de 2024: 4,5%. 3% é o centro da meta, podendo variar 1,5% para cima, então temos o teto de 4,5%. Até agora as estimativas apontam que o IPCA aumentará 4,59% no próximo ano”, pontua Ieda.
Ainda, outra questão é a taxa de juros em patamar muito elevado. “Em dezembro, tivemos o aumento de 1%, que já era esperado por uma menor parte do mercado financeiro, já que uma maioria aguardava uma alta de 0,75%. Mas o que chega a surpreender com muita força é a sinalização de mais duas altas de 1% na taxa Selic pelo Copom. Ou seja, ela poderá encerrar o primeiro trimestre de 2025 em 14,25%. Com isso, parte do mercado já começa a projetar juros entre 14,5% e 15% no fim do atual ciclo de alta. Isso aí certamente inibe planejamentos e iniciativas de novos lançamentos”, alerta Ieda.
“A inflação e os juros, com a elevação da taxa Selic, já começam a impactar diretamente o financiamento habitacional. Esse cenário tem reflexos significativos no mercado, especialmente em relação ao crédito imobiliário. Paralelamente, o mercado de trabalho segue aquecido, mas resta observar como esses fatores econômicos influenciarão o ritmo dos investimentos no setor.”, complementa Ana Maria.
Para o presidente da CBIC, Renato Correa, a taxa de juros é uma preocupação central para o setor. “Os recursos são divididos entre o financiamento à pessoa física e às construtoras. Quando há escassez, a tendência é priorizar a pessoa física, o que é fundamental para garantir que o cliente final tenha acesso ao crédito. No entanto, isso representa um aumento adicional nos custos. Quando precisamos recorrer a recursos de mercado para financiar a construção, essa despesa extra acaba sendo incorporada à conta”, alerta.
Correa destaca ainda que, no momento, o setor lida com uma soma de desafios: aumento nos custos de mão de obra, materiais, juros e na taxa Selic. “Além disso, pode ser necessário buscar alternativas de financiamento fora da caderneta de poupança e do FGTS, o que reduz ainda mais as margens das empresas. Com margens apertadas, as construtoras acabam recuando nos lançamentos. O empresário, ao fazer as contas, percebe que não é o momento de investir e prefere esperar até que o cenário se estabilize”, pondera.
Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia do SindusCon-SP, destacou que, no curto prazo, as taxas de juros elevadas não afetam diretamente as obras já contratadas. “No entanto, se houver um aumento significativo dos juros, os investimentos privados e as concessões tendem a ser adiados, o que pode resultar em uma desaceleração mais acentuada da atividade da construção a partir do terceiro trimestre. Além disso, juros altos acabam concorrendo com a rentabilidade de novos investimentos”, ressaltou.
Mercado de trabalho
Ana Castelo previu que, em 2025, a atividade do setor formal da construção deverá crescer, ainda como reflexo do recente ciclo de expansão, mantendo o mercado de trabalho do setor aquecido. “Em 2024, o mercado imobiliário permaneceu muito aquecido, com um volume significativo de vendas, o que, consequentemente, irá repercutir em novas obras, mantendo o mercado de trabalho aquecido em 2025”, afirma.
Um exemplo disso pode ser observado em Curitiba (PR). De acordo com o Sindicato da Construção Civil do Estado do Paraná (SindusCon-PR), o setor deve gerar 4.500 novas vagas de emprego na cidade em 2025. O órgão encomendou uma pesquisa sobre a intenção de contratação de mão de obra no setor da construção para o próximo ano. O levantamento, realizado pela Brain Inteligência Estratégica, envolveu 200 empresas paranaenses que atuam nas áreas de incorporação, obras públicas e prestação de serviços de engenharia.
Enquanto 31% das empresas manifestaram a intenção de aumentar o número de funcionários, 65% planejam manter o quadro funcional.
Despesas das famílias
As despesas das famílias com obras e reformas apontam para uma desaceleração. “Em relação a essas despesas, que foram, digamos, uma surpresa positiva, ainda observamos sinais favoráveis. No entanto, dentro de um contexto mais desafiador, com desaceleração da atividade econômica, redução do consumo e aumento do custo do crédito, é provável que esse componente apresente uma desaceleração”, afirma Ana Maria.
Ritmo de lançamentos
De acordo com Ana Maria, uma mudança provável decorre justamente do cenário mais desafiador em relação ao financiamento para as classes média e alta. “O crédito para média e alta renda enfrentará mais dificuldades, tanto pela menor disponibilidade quanto pelo aumento do custo”, avalia.
Ieda lembra que o adiamento de lançamentos não impacta apenas o ritmo de 2025, mas também o de 2026 e 2027. “O desempenho da construção em 2025 já está condicionado pelos lançamentos realizados em 2023 e 2024. Quando os lançamentos de 2025 são prejudicados, isso afeta diretamente o ritmo da construção em 2026”, alerta.
Minha Casa, Minha Vida
Enquanto o crédito habitacional para os setores de média e alta renda da população deverá se contrair, o programa “Minha Casa, Minha Vida” deverá impulsionar o setor imobiliário no país, segundo Ieda e Ana Maria. “O MCMV deve se fortalecer como protagonista nesse cenário de negócios”, informa Ana Maria.
No entanto, Renato destacou a importância de acompanhar o teto de preços do programa MCMV em relação aos custos crescentes. “Chega um momento em que o risco já não compensa o investimento. É preciso estar atento para, no momento certo, realizar os ajustes necessários e garantir a continuidade da produção”, aponta
O presidente da CBIC também ressaltou a vigilância constante sobre essa correlação para evitar interrupções no programa. “Sempre que possível, contribuímos e sinalizamos quando é hora de ajustar os preços. Mas os números de lançamentos são o principal indicativo. É essencial monitorar tanto a faixa 1 quanto os financiamentos vinculados ao FGTS. Ambos precisam de atenção”, observa
Correa ainda destacou que os recorrentes aumentos nos custos de materiais, mão de obra e taxa de juros aceleram a necessidade de revisões no programa. “Um alerta que fazemos já para o início do ano é a necessidade de começar a avaliar essas questões, garantindo que o programa continue entregando resultados expressivos, como tem feito até agora”, conclui.
Investimento em infraestrutura
Os investimentos em infraestrutura realizados pelo setor privado devem continuar em alta. Contudo, há incertezas em relação aos investimentos públicos: enquanto os governos estaduais tendem a aumentar seus aportes, os do governo federal podem apresentar queda.
“Há muitas variáveis em jogo. Um novo ciclo eleitoral já está se desenhando, o que levanta dúvidas sobre o comportamento dos investimentos regionais. Muitos Estados, como São Paulo, por exemplo, já anunciaram orçamentos mais robustos de investimentos, mirando o ano eleitoral. Esse é um componente mais difícil de projetar, mas, sem dúvida, está no radar”, ressalta Ana Maria.
Em São Paulo, Estefan aponta que o plano de investimentos da Sabesp poderá gerar um aumento nas obras de infraestrutura.
Ieda, por sua vez, destacou que a infraestrutura está sendo impulsionada principalmente pelos investimentos privados já contratados.
Fontes
Marcos Kahtalian é vice-presidente do Banco de Dados do SindusCon-PR.
Ieda Vasconcelos é economista da CBIC.
Renato Correa é presidente da CBIC.
Ana Maria Castelo é coordenadora de Projetos da Construção do FGV Ibre.
Eduardo Zaidan é vice-presidente de Economia do SindusCon-SP.
Yorki Estefan é presidente do SindusCon-SP.
Contatos
CBIC: ascom@cbic.org.br
Sinduscon-SP: dbarbara@sindusconsp.com.br
Jornalista responsável:
Marina Pastore – DRT 48378/SP
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