Sem túnel submerso, Brasil atrasa avanço tecnológico
Obra ligaria Guarujá a Santos, no litoral paulista, mas projeto pode ser substituído pelo de uma ponte
A construção do primeiro túnel submerso do Brasil, que faria a engenharia brasileira dar um salto tecnológico, está ameaçada. A execução da obra ligando Guarujá a Santos, no litoral paulista, é discutida desde 2014. O projeto é de responsabilidade do governo de São Paulo, porém a atual gestão está propensa a construir uma ponte com 7,5 quilômetros de extensão, em vez do túnel. A alegação é que a concessionária encarregada pelo sistema Anchieta-Imigrantes assumiria a obra. Em troca, o contrato de concessão, que vigora até 2026, seria estendido.
Recentemente, a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) promoveu um workshop sobre o tema, onde a representação portuária se posicionou contrária à ponte. A alegação é de que, mesmo que o projeto da ponte preveja um vão central de 85 metros para a passagem das embarcações, os demais pilares podem gerar congestionamento de navios. Já o túnel, que teria 762 metros de área submersa – a 21 metros de profundidade -, não ofereceria obstáculo ao transporte naval. “A restrição física no porto compromete todo o trânsito do canal e dificulta as manobras. Temos que nos preocupar com todo o desencadeamento disso”, alerta a representante da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), Jennyfer Tsai.
A autoridade portuária revisitou o projeto e apresentou um túnel otimizado, com custo avaliado em 2,5 bilhões de reais, ou seja, menor do que o orçamento previsto anteriormente, que era de 3,2 bilhões de reais, e abaixo do custo da ponte, estimada em 2,9 bilhões de reais. Além disso, no debate realizado na Fiesp a tese do túnel ganhou a simpatia da Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP). “A posição formal da ABTP é que, enquanto a autoridade portuária não endossar um projeto dessa magnitude, não se recomenda que ele seja feito. Caso contrário, podemos estar na contramão do que é feito no resto do mundo”, afirma o presidente da ABTP, Clythio van Buggenhout.
Por causa de impasse, travessia ainda é realizada por balsas
A opção pelos túneis tem sido a solução construtiva em boa parte dos principais portos internacionais. Recentemente, a administração do porto de Antuérpia, na Bélgica, decidiu construir um quarto túnel, cujo custo anunciado é três vezes maior do que o previsto para o empreendimento no porto de Santos, porém com tecnologia semelhante. A construção no principal terminal portuário do Brasil seria feita com o emprego de técnica ainda não utilizada no país, conhecida como módulo imerso pré-fabricado. No entanto, por causa do impasse, a travessia entre Santos e Guarujá segue realizada por balsa ou por um desvio rodoviário que alonga o percurso em 45 quilômetros.
Tanto o projeto do túnel quanto o da ponte dependem de aprovação da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) para se viabilizarem. Para o diretor do Departamento de Infraestrutura da Fiesp, Henry Robson, a ponte representa riscos reais ao fluxo e à expansão do porto, e sugeriu que o governo estadual considere outras opções. “O contato de um navio com um dos pilares da ponte pode causar um problema enorme ao porto de Santos. Então, há questões a serem equacionadas”, diz. Já os defensores da ponte alegam que a obra tem projeto confiável, baixo impacto ambiental e geraria tarifas mais baixas de pedágio.
Veja como seria a construção do túnel Santos-Guarujá
Entrevistado
Reportagem com base em workshop realizado na sede da Fiesp, em 10 de setembro de 2019
Contato: relacionamento@fiesp.com
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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