Descubra onde está a grande obra da humanidade
Autor do livro História das Construções fala da evolução da engenharia e da arquitetura no continente sul-americano, e cita estruturas mais relevantes do mundo
Autor do livro História das Construções fala da evolução da engenharia e da arquitetura no continente sul-americano, e cita estruturas mais relevantes do mundo
Por: Altair Santos
O engenheiro e professor do Cefet-MG, José Celso da Cunha, é autor do livro História das Construções – obra dividida em quatro volumes. Recentemente, no VIII Congresso Brasileiro de Pontes e Estruturas, realizado no final de maio de 2014, no Rio de Janeiro-RJ, ele elencou as principais obras da humanidade e do continente americano. As construções pré-colombianas, o Panteão de Paris e Brasília são destacadas pelo especialista. É o que ele revela na entrevista a seguir:
Recentemente, no VIII Congresso Brasileiro de Pontes e Estruturas, o senhor palestrou sobre as construções históricas da América do Sul. O continente é referência em termos de arquitetura e engenharia para o resto mundo?
Apesar de ter sido um congresso direcionado ao tema da construção de Pontes, a Coordenação do evento, que já conhecia minhas pesquisas e livros sobre a história das construções, convidou-me para proferir uma palestra fora do Tema do Congresso. Isto, para quebrar a monotonia do tema e apresentar um assunto intrigante sobre as Construções Pré-Colombianas das Américas, de interesse coletivo. Do ponto de vista histórico, ao contrário da pergunta, as construções pré-colombianas das Américas nunca foram referência para nenhuma outra civilização, porque durante todo o tempo ficou desconhecida do resto do mundo até a chegada de Colombo. Posteriormente, essas mesmas obras, desconhecidas pela maior parte das pessoas em todo mundo, mesmo nas Américas, também não contribuíram ou influenciaram Escolas ou movimentos arquitetônicos abrangentes de maior relevância. Somente no século XX, com o inovador Oscar Niemeyer, é que a arquitetura moderna e a engenharia de estruturas, com o uso do concreto armado, ocuparam uma posição de vanguarda nas construções Sul-americanas.
Entre as construções históricas da América do Sul, há obras contemporâneas ou elas concentram-se mais nas seculares?
É importante observar que os povos pré-colombianos das Américas, que não tiveram sabidamente nenhum contato com qualquer civilização ocidental, antes de 1496, foram grandes construtores com obras que remontam a três mil anos a.C., contemporâneas das Grandes Pirâmides do Egito. Em Chavin de Huantar, no Peru, uma cidade sagrada localizada cerca de trezentos quilômetros ao norte de Lima, próxima a Cordilheira Branca, observa-se o nascimento da arquitetura em pedra das Américas, na construção de templos, galerias subterrâneas, praças e pontes. Povos que viveram entre 1.500 e 700 anos a.C. nessa cidade milenar desenvolveram arquitetura própria, com base no uso da pedra polida intertravada, marcando definitivamente o nascimento da arquitetura em todas as Américas, onde não bastava apenas construir abrigos e moradias. Era necessário também construir com harmonia e beleza, apresentando estética, urbanismo e integração coerentes com a natureza e a civilização que desfrutava desse avanço nessa região. Outros povos vieram posteriormente a juntar a esse desenvolvimento novas técnicas construtivas cinco mil quilômetros ao norte do Peru. São os construtores da Mesoamérica, como os Olmecas, os Teotihuacanos e os Zapotecas, no México, numa primeira fase; posteriormente os Maias, também na Guatemala e em Honduras, considerados os mais competitivos e criativos construtores dessa região das Américas. Suas técnicas construtivas, com o uso da cal e dos grandes arcos, propiciaram o avanço na arquitetura com a mesma pujança do ocidente. Os últimos construtores pré-colombianos de relevância na História das Construções no novo continente foram os Incas. Suas técnicas construtivas desenvolvidas em pouco mais de dois séculos de existência dessa civilização, permitiram a realização de obras de engenharia surpreendentes, por resistirem ao tempo com segurança e estabilidade, mesmo obras inseridas em regiões sujeitas aos abalos sísmicos dos Andes. Infelizmente, com a chegada dos espanhóis no continente americano, toda essa técnica foi ignorada e mesmo escondida. Não era possível, segundo a crença da época, que qualquer civilização não cristã pudesse ter conhecimentos como aqueles que os conquistadores encontraram nessas terras do novo continente. Massacraram os nativos, desprezaram sua cultura e transformaram em ruínas as suas construções. As obras contemporâneas são diversas, mas não se espelham em nada do que se produziu nas Américas do passado. São mais voltadas às escolas ocidentais de arquitetura, como no resto do mundo.
Entre as obras contemporâneas construídas na América do Sul, quais o senhor destacaria?
Gosto de Brasília, pelo conjunto da obra em concreto armado.
Em sua série de livros da História das Construções, e que já está no quarto volume, o senhor faz um apanhado sobre a evolução da engenharia, correto? Qual escola mais influenciou ou influencia a arquitetura sul-americana?
Escrevo sobre a evolução da construção, suas técnicas e descobertas, a partir das primeiras manifestações construtivas propiciadas pelas primeiras ferramentas primitivas em pedra lascada. Não sou especialista em construções contemporâneas. Mas, observa-se que a Escola Europeia, sobretudo a francesa, teve grande influência na arquitetura de Oscar Niemeyer e de outros arquitetos e urbanistas sul-americanos, a partir do contato com o arquiteto suíço Le Corbusier, nos anos 1930.
Quais seriam os grandes nomes do continente, em termos de arquitetura e engenharia?
Na arquitetura há vários e não poderia enumerá-los. Na engenharia do concreto armado, o nome de Emílio Baumgardt deve ser destacado.
O continente sul-americano segue erguendo grandes obras ou esse movimento hoje sofre uma interrupção?
Uma obra torna-se grande quando atinge o seu objetivo. Torna-se importante quando é útil à sociedade. Uma ponte que liga duas margens, que há vários anos seus moradores usam balsas na travessia é uma obra importante, mesmo não sendo grande. Obras deixam de ser grandes ou importantes quando servem à vaidade do governante. Somente o governo é capaz de construir algo inútil. Somente ele é capaz de interromper esse movimento, mas persiste em continuar nesse compasso sem interrupção.
O que lhe inspirou a escrever livros sobre a história das construções?
Curiosidade com a história da humanidade no campo das construções. De poder ler onde a escrita ainda não existia, através das ruínas do que se construiu no passado. O estudo das obras antigas propicia uma leitura do tempo e da evolução da humanidade através das técnicas construtivas empregadas em confronto com outras diferenciadas, provenientes ou não da mesma origem.
Para o senhor, qual a construção mais relevante já feita no planeta, e por quê?
A construção do Panteão de Paris, iniciada em meados do século XVIII, sempre me chamou a atenção desde quando morei nesta cidade, quando fiz meu doutorado entre 1981 e 1985. Uma obra relativamente pequena, comparando-a com outras contemporâneas. Penso da sua relevância, sobretudo, por reunir todas as técnicas da construção em pedra em uma só obra a partir da pesquisa e iniciativa de um jovem arquiteto francês, chamado Germain Souflot. Nesta obra Souflot reuniu numa só construção, conhecimentos técnicos adquiridos pela humanidade nos últimos seis mil anos. Além disso, apresentou uma novidade extraordinária, a pedra armada, antecipando em meio século a chegada da tecnologia do concreto armado, que surgiria na mão de outro francês chamado Lambot, na década de 1840. Esta obra inspirou-me a escrever sobre a história das construções. Com sua descrição e a história desta obra, o Panteão de Paris, encerro a série sobre o tema em meus livros, publicados pela Autêntica Editora (www.autenticaeditora.com.br), em quatro volumes, num total de 1.700 páginas.
Entrevistado
Engenheiro civil, doutor em mecânica dos solos e estruturas pela École Centrale de Paris e professor da UFMG e do Cefet-MG, José Celso da Cunha. Também é autor do livro Palace II – A Implosão Velada da Engenharia (Autêntica Editora)
Contato: jcdacunha@civil.cefetmg.br
Créditos Fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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