Profissionais usam criatividade para cumprir exigências legais

O Condomínio Global Tower em Vitória, foi concebido com volumetria e estrutura diferenciadas, para não interferir na paisagem local.

O Condomínio Global Tower em Vitória, foi concebido com volumetria e estrutura diferenciadas, para não interferir na paisagem local

Créditos: Vanda Pereira Cúneo – Assistente de Marketing

Quando, em 1895, o engenheiro e sanitarista Saturnino de Brito desenhou o traçado da av. Reta da Penha – hoje av. Nossa Senhora da Penha -, em Vitória, como parte do plano urbano Grande Arrabalde, lançou também uma determinação que impedia, na área formada por um cone, construções que pudessem vir a obstruir a bela vista do complexo da Igreja e Convento da Penha, em Vila Velha, tombado em 1943 pelo Iphan (Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Hoje, passados mais de 60 anos, a área vive uma “febre” imobiliária, principalmente na Enseada da Praia do Suá, o que tem levado ao embargo de alguns empreendimentos imobiliários, mas também tem aguçado a criatividade de arquitetos, como maneira de vencer os obstáculos da legislação.

Um caso muito emblemático desse dilema entre crescimento imobiliário e urbanismo em Vitória é o edifício Global Tower, do arquiteto Kennedy Vianna. Para valorizar a vista da Reta da Penha, assim como atender às exigências do cliente, a Galwan, que demandava um edifício essencialmente para uso corporativo, com o melhor aproveitamento possível do potencial construtivo do terreno, Vianna concebeu um edifício com escalonamento mais largo do que o exigido pelo Iphan. Em vez de reduzir o número de pavimentos do empreendimento, a proposta arquitetônica conseguiu distribuir 24 andares, com todas as suas unidades voltadas para a baía de Vitória, preservando vistas e o entorno, e minimizando possíveis impactos, graças a um conceito estrutural diferenciado e ao tipo de implantação adotada, virada para o Sudeste, considerando o cone de visão.

Para alcançar o desenho escalonado e o número de pavimentos desejado, o projeto estrutural, assinado pela capixaba MCA e homenageado com o Destaque Abece 2007, especificou o sistema de lajes protendidas com cordoalhas engraxadas. “Funciona como uma ponte pênsil, as cargas ficam penduradas”, explica o engenheiro calculista Carlos Augusto da Gama, da MCA.

Como as lajes de cada pavimento iriam reduzindo de tamanho, irregularmente, seria necessário o uso de vigas de transição e de pilares intermediários – um verdadeiro paliteiro. No entanto, o sistema sugerido pela MCA trabalha em conjunto com pilares inclinados em várias direções e ângulos, eliminando a necessidade de vigas e pilares intermediários. A proposta adotou, entre os eixos dos pilares das garagens, lojas e salas, um módulo de 9,5 m x 7,2 m.

Sem flexão
Como não há momento de ligação com a laje, o sistema funciona sem flexão dos pilares. “As cargas vêm na vertical e seguem inclinadas, de acordo com o desenho dos pilares birrotulados”, destaca Gama. O sistema estrutural equilibra-se pelos tirantes embutidos, do contraventamento das paredes em concreto armado – que sustentam os tirantes – e da ação da gravidade.

O engenheiro revela que a tecnologia, utilizada pela empresa desde 1997, com incentivo da Arcelor Mittal, antiga Belgo Mineira, racionaliza a altura do pé-direito. As lajes têm 22 cm de espessura, com piso elevado de 18 cm e forro de 6 cm, definindo o pé-direito acabado de 2,60 m. A cota de piso a piso dos pavimentos (25 lajes) é de 3,06 m. Se fosse no sistema convencional limitaria o pé-direito e o gabarito. “O empreendimento com a mesma altura teria menos pavimentos, em torno de 18”, compara Gama. A tecnologia facilitou a execução das lajes da garagem, pois manteve os vãos necessários para o espaço. “Só executamos viga de transição em cima para a caixa de água”, diz.

Outras qualidades do sistema, apontadas pelo engenheiro, é que, graças à racionalização do pé-direito, as instalações podem ser passadas nas lajes, liberando as paredes. Além disso, contribui com o isolamento acústico.

Dois em um
O sistema de laje protendida, segundo o calculista Carlos Augusto Gama, também facilita a execução das fôrmas. A obra, inclusive, recebeu menção honrosa da Abece (Associação Brasileira das Empresas de Consultoria e Engenharia Estrutural) no 5º Prêmio Talento Engenharia Estrutural.

“Com um sistema de fôrma e cimbramento, é possível executar uma laje em uma semana, até menos”, garante o engenheiro. “Isso equivale à metade do tempo gasto em processos de concretagem com fôrmas convencionais”, compara.

Mas para alcançar a economia pretendida, é preciso se chegar a 20 MPa aos dois dias, o mínimo para se realizar a protensão da lajes. Isso só é possível com o uso de cimento CPV, em vez de CPIII ou CPII, que demandam mais tempo para atingir essa resistência.

Distribuição racional
O desenho escalonado gerou uma variação de layouts de conjuntos, que vão de 35 m² a 232 m². Conforme o edifício sobe, diminui o número de salas, como se pode ver nas plantas do quinto pavimento e do 14º (fotos). Do 19º ao 21º pavimento, são dois conjuntos por andar. Já nos últimos andares, o projeto previu um conjunto por laje. “O projeto atende um público potencial mais abrangente, tanto o profissional liberal, que necessita de espaço reduzido, quanto empresas de maior porte, que necessitam de grandes lajes”, explica Vianna. Os 12 elevadores foram distribuídos de forma a atender ao escalonamento de pavimentos, sendo que os elevadores que atendem às garagens são acessados na praça contínua do open mall abaixo da torre, o que garante a segurança interna. O projeto também tem como base um desenho que otimiza o conforto ambiental, uma vez que possui todas as suas unidades de salas voltadas para a melhor insolação.

Leveza visual
A fachada tipo glazing com sistema misto unitizado – colunas onde posteriormente são fixadas as folhas de vidro montadas em perfis de alumínio – não só permitiu os ajustes dos inúmeros recortes nas elevações e uniformizaram o visual, assim como contribuíram para o desempenho do sistema estrutural e de fundação, reduzindo as cargas do edifício. “O uso do vidro alivia de 10% a 20% do peso, e elimina o risco de patologias”, afirma o engenheiro calculista Carlos Augusto da Gama, da MCA.

Foram empregados 6.640 m² de vidros laminados de 8 mm, nas cores azul e verde, especificados para minimizar os reflexos do entorno, sem perder qualidade na cor e no tom, respeitando a sobriedade pretendida e o conforto ambiental. Nas testadas e detalhes, especificou-se painéis de alumínio composto. Como divisórias internas, o projeto especificou drywall, que reduz as cargas internas em no mínimo 15%.

RESUMO
Obra: Global Tower
Localização: av. Nossa Senhora dos Navegantes (frente) e av. Belmiro Siqueira, 201 (fundos), Vitória
Área do terreno: 6.681,00 m²
Área construída: 36.895 m²
Data de projeto: 2006
Construção: setembro 2006 a setembro de 2009
Área estrutural: 48.000 m²
Concreto: fck 30 MPa
Aços: CA-50 E CP190 RB
Lajes planas protendidas: 22 cm de altura
Contraventamento: paredes estruturais

Condomínio Global Tower

Fonte: Revista Téchne

Vogg Branded Content – Jornalista responsável Altair Santos MTB 2330



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