Preço do petróleo afeta corrida de arranha-céus
Jeddah Tower, na Arábia Saudita, pode ser a última construção emblemática do Golfo Pérsico, que também restringe obras de infraestrutura
Jeddah Tower, na Arábia Saudita, pode ser a última construção emblemática do Golfo Pérsico, que também restringe obras de infraestrutura
Por: Altair Santos
A ordem na Arábia Saudita, e em outros países do Oriente Médio, como Kuwait, Emirados Árabes e Catar, é congelar projetos que preveem erguer novos megaedifícios, e cuja finalidade é colocar a região no showroom da arquitetura e da engenharia mundiais. As obras já iniciadas serão concluídas, assim como as já contratadas – e que não são poucas -, mas é possível que depois de 2020 a corrida para construir os maiores arranha-céus do planeta sofra uma desaceleração. O motivo: a queda livre no preço do barril de petróleo.
Cotado a 115 dólares em junho de 2014, o óleo cru despencou para 25 dólares em 12 de janeiro de 2016, no menor preço em 12 anos. O valor recupera-se lentamente e tende a fechar fevereiro perto dos 29,50 dólares. Isso representa um duro golpe nos países que integram a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), mas, sobretudo, no núcleo deste organismo, conhecido como Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), e cuja estrutura é formada por Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Omã e Catar.
O CCG tem sua economia literalmente movida pelo petróleo. As receitas oriundas do “ouro negro” equivalem de 60% a 90% do PIB destes países. Análise recente do FMI (Fundo Monetário Internacional) estima que, entre 2014 e 2015, o Oriente Médio perdeu 360 bilhões de dólares com a queda no preço do barril. Isso implica no corte de subsídios. Neste quesito, o setor mais afetado é a construção civil. A revisão de projetos não abrange apenas arranha-céus, mas obras de infraestrutura.
Na Arábia Saudita, a Cidade Econômica Rei Abdullah, o metrô que liga Riade a Meca e o trem de alta velocidade entre Medina e Meca ganharam um ritmo mais lento em seus canteiros de obras. No entanto, não correm o risco de serem interrompidas. Principalmente, porque são consideradas obras estratégicas para a economia do país. A cidade, por exemplo, em construção a 100 quilômetros de Jidá, ocupará área de 388 km² e pretende ser um polo tecnológico e industrial, com foco em energias alternativas e na produção de alumínio, aço, fertilizantes e petroquímicos.
Cortes no orçamento
No caso das obras ferroviárias, no final de 2015 os dois consórcios que viabilizam as obras do metrô e do trem de alta velocidade foram notificados sobre cortes no orçamento e lentidão no repasse de recursos das obras. O metrô Riad-Meca é liderado pela espanhola FFC, junto com Samsung, Alstom, Strukton, Freyssinet, Typsa, Atkins e Setec. Já o trem Medina-Meca tem à frente a espanhola Talgo, além de Adif, ACS, Consultrans, Copasa, Siemens, Imathia, Inabensa, Ineco, Indra, OHL e Renfe. “Temos realizado reuniões, mas ainda não foi oficializado como eles querem aplicar os cortes”, disse recente nota divulgada pelo consórcio BACS, que agrega as empresas que atuam na obra do metrô.
Também se tornou mais lenta a construção do Jeddah Tower, antigamente conhecido como Kingdom Tower. Em 2015, o arranha-céu projetado para atingir mil metros de altura, transformando-se no mais alto do mundo, precisou recorrer a um empréstimo de 2,2 bilhões de dólares do governo saudita para garantir o cronograma da obra. O empreendimento está a cargo do consórcio liderado pela Jeddah Economic Company, e que agrega as seguintes empresas: Kingdom Holding Company, Abrar Holding Company, Qila’a Jeddah Company e a Saudi Binladin Group. O prédio, com previsão de entrega em 2020, tem orçamento de 9 bilhões de dólares e deve ficar pronto em 2020.
A queda no preço do barril do petróleo não afeta apenas a construção dos países do Golfo Pérsico. Angola, na África, visto como um eldorado para empreiteiras brasileiras na década passada, também sente o reflexo desta crise. Com isso, empresas como Odebrecht, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez reduziram sensivelmente suas atividades no país. Elas foram contratadas para atuar em obras de infraestrutura, como portos, rodovias e hidrelétricas, principalmente depois que Angola foi pacificada da guerra civil, em 2002. Segundo dados da Associação de Executivos e Empresários Brasileiros em Angola (Aebran), a construção civil do país africano chegou a empregar 9 mil brasileiros na década passada. Hoje, esse número não chega a 2 mil.
Entrevistados
– Jeddah Economic Company (via departamento de comunicação)
– BACS Riyadh Metro Project (via departamento de comunicação)
– Associação de Executivos e Empresários Brasileiros (via assessoria de imprensa)
Contatos
info@bacsrmp.com
contato@aebran.co.ao
info@jec.sa
Créditos Fotos: Divulgação/FFC/Jec.Sa
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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