Por que o edifício Wilton Paes de Almeida desabou?
Estrutura mista de concreto e aço, ausência de manutenção e segurança zero contra o fogo levaram à queda do prédio incendiado em São Paulo-SP
Quando as imagens de televisão mostraram o edifício Wilton Paes de Almeida desabando verticalmente, após arder em chamadas por cerca de uma hora e meia, os engenheiros civis especialistas em patologias de estruturas sujeitas ao fogo desconfiaram tratar-se de um prédio construído em aço e concreto. Preliminarmente, o professor da USP, diretor-técnico do IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto) e membro da Associação Latino-americana de Patologias das Construções (ALCONPAT), Paulo Helene, chegou a atribuir à estrutura mista a causa da queda do prédio.
No entanto, visitando os escombros da edificação nos dias 8 e 9 de maio, Paulo Helene divulgou comunicado na imprensa revendo sua opinião. Agora, ele afirma que o edifício Wilton Paes de Almeida, construído nos anos 1960, no centro da cidade de São Paulo-SP, era 100% construído em concreto armado. O professor, então, atribui o desabamento a duas combinações: a falta de manutenção, já que o prédio estava abandonado há 17 anos, e o fato de o fosso do elevador ter servido como chaminé para a propagação do incêndio, o que elevou substancialmente a temperatura das estruturas, levando ao colapso.
No 3º Simpósio Paranaense de Patologias das Construções, promovido pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) na primeira semana de maio de 2018, o professor-doutor Roberto Dalledone Machado – titular do departamento de engenharia civil da UFPR -, e que palestrou sobre patologia de estruturas sujeitas ao fogo, também abordou o desabamento do edífício. “Ainda não há laudos sobre as causas do incêndio nem dados oficiais sobre o projeto estrutural, mas a forma como o edifício desabou lembrou muito o ocorrido com as Torres Gêmeas, em Nova York, em 2001, pois o prédio colapsou e caiu verticalmente”, disse, frisando que sua opinião foi baseada em informações divulgadas na imprensa e não em laudos técnicos.
A prefeitura de São Paulo informa que a conclusão do inquérito sobre o acidente só deve sair em 60 dias. As primeiras opiniões técnicas sobre o caso – incluindo a de Paulo Helene – se basearam em tese de doutorado do arquiteto Roberto Novelli Fialho, publicada em 2007 pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, a qual sugeria que o projeto arquitetônico do prédio indicava a existência de metal nas vigas.
Em sua palestra, Dalledone explica que o aço, a 600 °C, perde 80% de sua resistência e entra em colapso. Já o concreto tem resistência ao fogo maior e é capaz de suportar temperaturas acima de 900 °C, no caso dos concretos de alta resistência. Por se tratar de uma edificação com 50 anos de construção, inadequada à ABNT NBR 15200:2004 – Projeto de estruturas de concreto em situação de incêndio – Procedimento, que nem existia na época, as estruturas do Wilton Paes de Almeida ficaram mais expostas ao fogo e colapsaram muito rapidamente. “O prédio de São Paulo não estava preparado para suportar exigências da norma, até porque ele foi construído antes do surgimento da norma”, ressaltou.
Margem de segurança dos elementos estruturais do edifício era mínima
Outros fatores contribuíram para a queda do edifício incendiado. Tratava-se de uma obra abandonada e ocupada irregularmente. Não havia manutenção e, consequentemente, a margem de segurança dos elementos estruturais era mínima. “Além disso, pelo que foi lido na imprensa, o prédio não tinha elevadores e o fosso estava totalmente livre. Isso funcionou como uma chaminé e ajudou a acelerar a propagação do fogo por toda a edificação”, destacou Dalledone, lembrando que atualmente os edifícios, mesmo os em estrutura mista, seguem padrões de segurança muito mais rigorosos em seus projetos, que englobam argamassas com cimento de amianto, revestimento com gesso e pintura intumescente, que protegem os materiais metálicos.
O edifício Wilton Paes de Almeida foi projetado pelo arquiteto Roger Zmekhol (in memorian). Inaugurado em 1968, primeiramente foi sede da Companhia Comercial de Vidros. A empresa faliu e o prédio foi encampado pela União como parte de pagamento de dívidas com o INSS. Por um tempo, abrigou a burocracia da Seguridade Social e depois se transformou em sede da Receita Federal na cidade de São Paulo. Em seguida, se tornou sede da Polícia Federal na capital paulista. Estava abandonado desde 2003.
Entrevistado
Reportagem com base na palestra do engenheiro civil e professor-doutor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Roberto Dalledone Machado, dentro do 3º Simpósio Paranaense de Patologias das Construções, promovido pela UFPR
Contato: prc.ufpr.contato@gmail.com
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Cadastre-se no Massa Cinzenta e fique por dentro do mundo da construção civil.
Cimento Certo
Conheça os 4 tipos de cimento Itambé e a melhor indicação de uso para argamassa e concreto.
Massa Cinzenta
Cooperação na forma de informação. Toda semana conteúdos novos para você ficar por dentro do mundo da construção civil.
15/05/2024
MASP realiza o maior projeto de restauro desde a sua inauguração
MASP passa por obras de restauro em suas estruturas. Crédito: Assessoria de Imprensa / MASP Quem passa pela Avenida Paulista vem notando uma diferença significativa na…
19/11/2024
Restauração da SC-305 começa a receber whitetopping ainda este ano e deve impulsionar indústrias, agricultura e pecuária
Rodovia terá sub-base de macadame e base de Concreto Compactado com Rolo (CCR). Crédito: Divulgação/SIE Uma importante transformação está em andamento na rodovia SC-305, que…
19/11/2024
Como usar a engenharia para contenção de tsunamis e erosão costeira?
No caso do muro de contenções, planejamento precisa considerar cenários extremos para garantir sua eficácia. Crédito: Envato A engenharia pode desempenhar um papel essencial…
19/11/2024
Tendência em alta: avanço de IA, IoT e robótica na construção permite crescimento das cidades inteligentes
O conceito de cidades inteligentes, com foco em conectividade e sustentabilidade, está ganhando destaque mundialmente. Segundo pesquisa realizada pela Mordor Intelligence, o…
Cimento Certo
Conheça os 4 tipos de cimento Itambé e a melhor indicação de uso para argamassa e concreto.
Use nosso aplicativo para comparar e escolher o cimento certo para sua obra ou produto.
Cimento Portland pozolânico resistente a sulfatos – CP IV-32 RS
Baixo calor de hidratação, bastante utilizado com agregados reativos e tem ótima resistência a meios agressivos.
Cimento Portland composto com fíler – CP II-F-32
Com diversas possibilidades de aplicações, o Cimento Portland composto com fíler é um dos mais utilizados no Brasil.
Cimento Portland composto com fíler – CP II-F-40
Desempenho superior em diversas aplicações, com adição de fíler calcário. Disponível somente a granel.
Cimento Portland de alta resistência inicial – CP V-ARI
O Cimento Portland de alta resistência inicial tem alto grau de finura e menor teor de fíler em sua composição.
Cimento Certo
Conheça os 4 tipos de cimento Itambé e a melhor indicação de uso para argamassa e concreto.
Use nosso aplicativo para comparar e escolher o cimento certo para sua obra ou produto.