Pneu inservível viabiliza concreto sustentável
Em 2010, material foi testado em ciclovia de parque em Uberlândia-MG. Três anos depois, ele apresenta resistência e durabilidade aceitáveis.
Em 2010, material foi testado em ciclovia de parque em Uberlândia-MG. Três anos depois, ele apresenta resistência e durabilidade aceitáveis
Por: Altair Santos
O Parque Linear de Uberlândia-MG, inaugurado em 2010, foi o primeiro do Brasil a ter uma ciclovia construída com concreto sustentável. O material, desenvolvido na Universidade de Uberaba (UniUbe), tem em sua composição parte da areia substituída por borracha de pneu inservível. Nos testes realizados no departamento de engenharia civil da universidade foram usados 15,5 pneus triturados para cada metro cúbico de concreto, além da inclusão de aditivo químico plastificante. Isso garantiu resistência de 21,6 MPa à ciclovia. “Passados três anos de execução da obra, estamos testando sua durabilidade e se houve perda de resistência. Diríamos que estamos entrando na etapa conclusiva do projeto”, explica Vanessa Rosa Pereira Fidelis, professora de materiais e tecnologia da construção civil na UniUbe.
Antes de chegar ao número ideal de pneus para cada metro cúbico de concreto, foram testadas as substituições de 50%, 25% e 12,5% do agregado miúdo por borracha triturada. Para cada um dos percentuais alcançou-se as respectivas resistências: 4 MPa, 9 MPa e 16 MPa. A partir da análise desses traços, decidiu-se pela inclusão de aditivo químico plastificante, reduzindo-se a borracha para 9% (15,5 pneus/m3) e conseguindo-se resistência de até 21,6 MPa. “O concreto produzido tem aplicabilidade direcionada para pisos, por possuir menor resistência à compressão e proporcionar redução de impacto para quem utiliza a via. Mas verificou-se também que pode ser possível a utilização em painéis de vedação, por eles requererem menor resistência à compressão do concreto“, reitera Vanessa Rosa Pereira Fidelis.
A partir da iniciativa de substituição de parte do agregado miúdo por borracha de pneus, a UniUbe desenvolveu outros projetos relacionados ao concreto, como a adição de resíduo industrial na produção de tijolos solo-cimento e a produção de concreto não-estrutural. Tratam-se de materiais ainda em teste, ao contrário do empregado na construção de ciclovias, que já tem até uma fórmula para a obtenção do concreto ideal. A composição envolve 240 kg de cimento CP V-ARI, 374 kg de areia fina, 554 kg de areia grossa, 1.015 kg de brita, 1,80 kg de borracha, 195 litros de água e 0,96 litro de aditivo. O próximo passo é conseguir baratear o custo desta produção, haja vista que a trituração da borracha excede o valor do agregado miúdo. “Parcerias com empresas de recapagem de pneus, que precisam descartar parte de seus resíduos, podem minimizar o preço”, diz a professora da UniUbe.
Outra dificuldade – e aí não é exclusividade da Universidade de Uberaba – é conseguir com que a inovação acadêmica seja absorvida pelo mercado. “Entendemos que o processo ainda é lento em comparação com outras áreas. Entretanto, devido à escassez dos recursos naturais e ao aumento da produção de resíduos, a expectativa é de que o mercado acate mais rapidamente as inovações”, avalia Vanessa Rosa Pereira Fidelis. “Espera-se que com a etapa de verificação de desempenho do material, que se dá três anos depois da fabricação da ciclovia, fique comprovada a eficiência. Com isso, empresas do setor e outras prefeituras podem se sentir estimuladas em buscar parcerias”, conclui Carlos Henrique Barreiro, diretor do curso de graduação em engenharia civil da UniUbe.
Entrevistados
Carlos Henrique Barreiro, diretor do curso de graduação em engenharia civil da UniUbe, e Vanessa Rosa Pereira Fidelis, professora de materiais e tecnologia da construção civil na UniUbe
Currículos
– Carlos Henrique Barreiro é graduado em engenharia civil pela Universidade Federal de São Carlos (1988), com mestrado em engenharia de transportes pela Universidade de São Paulo (1997)
– Atualmente é diretor do curso de graduação em engenharia civil da UniUbe (Universidade de Uberaba). Também dirige a modalidade Ensino a Distância (EAD) do curso de graduação em engenharia civil, da Universidade de Uberaba – Campus Uberlândia
– Tem experiência na área de engenharia civil, com ênfase em trânsito e transportes – estradas e aeroportos, atuando principalmente nos seguintes temas: projeto pedagógico (modalidades presencial e a distância), drenagem superficial e gestão/projetos (gestão de riscos)
– Também é conselheiro do CREA-MG, na gestão 2012 a 2014
– Vanessa Rosa Pereira Fidelis é graduada em engenheira civil pela Universidade Federal de Uberlândia (1996), com mestrado em engenharia civil pela Universidade Federal de Uberlândia
– Atualmente é docente do curso de engenharia civil da Universidade de Uberaba (UniUbe)
– Também atua como consultora em sistemas de gestão da qualidade segundo às normas ISO 9000 e SiAC. Tem experiência na área de engenharia civil, com ênfase em planejamento, controle de obras e gestão da qualidade
Contato: diretor.engenhariacivil@uniube.br / carlos.barreiro@uniube.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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