Pesquisas usam terremotos para melhorar estruturas
Através dos sismos, laboratórios ligados à engenharia civil conseguem entender as causas que levam pilares e lajes a colapsos e desmoronamentos
Através dos sismos, laboratórios ligados à engenharia civil conseguem entender as causas que levam pilares e lajes a colapsos e desmoronamentos
Por: Altair Santos
Os terremotos estão para os especialistas em patologias da construção como os tornados e os furacões estão para os estudiosos do clima. Causadores de tragédias, os sismos também fornecem dados relevantes para que a engenharia possa construir edificações que resistam aos tremores. “Ainda que causem grandes danos à sociedade, seja com perdas de vidas, seja em impacto econômico, as zonas afetadas por terremotos têm muito a ensinar à engenharia. Principalmente, quando sabemos que o número de acidentes naturais tende a crescer e isso vai exigir mais das construções”, disse Humberto Varum, professor da Universidade de Aveiros, em Portugal.
Engenheiro civil especialista em estudar o impacto dos sismos nas estruturas de concreto armado, Humberto Varum palestrou no 11º Congresso Internacional sobre Patologias e Recuperação de estruturas (Cinpar), ocorrida de 10 a 12 de junho nas instalações da Unisinos, na cidade de São Leopoldo-RS. Ele surpreendeu a plateia quando mostrou um gráfico do Observatório Sismológico de Brasília, revelando que de 1922 a 1996 o Brasil teve 12 terremotos com magnitude acima de 5 na escala Richter. “No Brasil também ocorrem sismos. A diferença é que nos países mais vulneráveis a terremotos há mais dados e, consequentemente, maiores avanços tecnológicos das edificações para enfrentar esse tipo de acidente natural”, revelou Varum.
Vigas fortes, pilares fracos
Em seus estudos, o engenheiro português avaliou com mais profundidade dois terremotos que atingiram gravemente regiões da Europa, entre 2009 e 2011. O primeiro foi o tremor ocorrido em Áquila, na Itália, no dia 6 de abril de 2009. Com magnitude 6.7, o sismo deixou 65 mil desalojados e causou prejuízo equivalente a US$ 1 bilhão (cerca de R$ 3 bilhões). Analisando os colapsos causados nas estruturas, Humberto Varum explicou que chamaram a atenção os equívocos nas instalações das armaduras. “A má qualidade dos materiais causou aderência inadequada entre a armadura e o concreto, principalmente nos pilares dos prédios. Além disso, os pilares foram projetados com dimensões erradas. Vi muitos prédios com vigas fortes e pilares fracos, o que causou o ‘efeito panqueca’ quando o terremoto as atingiu, ou seja, os pavimentos caíram uns sobre os outros”, relatou.
Em outro sismo, ocorrido dia 11 de maio de 2011, em Lorca, no sul da Espanha, houve 9 mortes e 5 mil pessoas ficaram desabrigadas. Os prejuízos, principalmente porque o sismo atingiu muitas obras de infraestrutura, chegaram a US$ 10 bilhões (aproximadamente R$ 30 bilhões). “Nos colapsos que estudei deste sismo, me chamou a atenção a fragilidade das paredes de vedação. Construídas em alvenaria convencional, elas foram mal travadas e não tinham resistência adequada. Quando ocorreu o terremoto, boa parte delas despencou como peças de um dominó”, comparou. Por fim, Humberto Varum concluiu. “Percebo, cada vez mais, que não são os sismos que matam as pessoas, mas sim os edifícios mal projetados e construídos para suportar tremores.”
Entrevistado
Engenheiro civil Humberto Varum, professor titular da Universidade de Aveiros (Portugal) e especialista em estudo de estruturas afetadas por abalos sísmicos
Contato: hvarum@ua.pt
Créditos Fotos: Divulgação/Cia. Cimento Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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