Pavimento de concreto já apresenta competitividade com relação ao asfalto
Material tem menos custos de manutenção e maior durabilidade, mas ainda é pouco utilizado no Brasil
Ainda pouco utilizado no Brasil, o pavimento de concreto pode trazer diversas vantagens quando comparado ao asfalto, como maior durabilidade, menor necessidade de manutenção, mais segurança e, até mesmo, maior ecoeficiência. No entanto, em algumas cidades, o seu uso ainda é limitado.
“Em Curitiba, por exemplo, há cerca de 200 km de pavimento de concreto. Porém, a sua maioria – em torno de 96% – é em corredor de ônibus. Se levarmos em consideração o Brasil, já tivemos um avanço em cidades menores do Sul. Hoje já temos obras implantadas em cidades do Sul – algo perto de 1 milhão de metros quadrados em vias de tráfego leve. Dentre estes locais, estão São Luiz Gonzaga (RS), Caibaté (RS), Salvador das Missões (RS), São Bento do Sul (SC), Rio Negrinho (SC), Fazenda Rio Grande (PR), Guaíra (PR), entre outras. Já tem licitações abertas em Vitorino (PR) e Colombo (PR). Então, está se espalhando”, aponta Alexsander Maschio, gerente regional Sul da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP).
Na América Latina, entretanto, há países vizinhos que investem bastante neste material. “Na Argentina, em torno de 60 a 70% do pavimento urbano é feito de concreto. No Chile, chega a 90% e eles dominam a técnica”, comenta Rafael Fontes Moretto, conselheiro do CREA-PR (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná).
Ainda de acordo com Maschio, aqui no Brasil há uma cultura muito forte dos pavimentos asfálticos. “O primeiro fator é o preço que, anteriormente, era mais atrativo. Isso leva a um segundo ponto – por conta dessa questão, as academias formaram os engenheiros com esse viés do pavimento asfáltico, sem trabalhar o pavimento de concreto. Só começamos a incentivar esse uso a partir do ano 2000, aproximadamente”, pontua Maschio.
Entretanto, atualmente, esta questão de preço já mudou. “Dos últimos dez anos pra cá, o preço do asfalto subiu drasticamente. Inclusive, com a questão da guerra entre Rússia e Ucrânia, essa situação se acentua. Tivemos um aumento próximo a 300% em dez anos. Isso começou a viabilizar o pavimento de concreto. Mesmo com o custo do cimento subindo nos últimos dois anos, ainda é em proporção muito menor que o do asfalto. Inicialmente, as prefeituras encontravam resistência por conta do preço – mesmo considerando que o pavimento rígido tenha menor manutenção. Elas consideravam apenas o custo inicial”, comenta Maschio.
No entanto, hoje o pavimento rígido já é competitivo. “Se considerarmos o custo inicial, o preço é em torno de 10% mais barato que o do pavimento flexível. Se for levar isso em consideração na vida útil – pensando em 30 anos – o custo do concreto é 60% inferior por conta da baixa manutenção”.
Além disso, os equipamentos podem ser mais baratos. “Se você for fazer um loteamento, por exemplo, ter uma régua vibratória não tem o custo tão alto como o de usar o pavimento flexível, no qual você depende de uma usina de asfalto e equipamentos de grande porte – o que pode ser cinco ou seis vezes mais caro. Além disso, trabalhar com o pavimento rígido é mais tranquilo, uma vez que não tem que ter temperatura de usinagem ou cuidado com a umidade”, destaca Moretto.
Conversão de vias: do asfalto ao concreto
Dentro deste cenário, é possível fazer a conversão do asfalto para o concreto? De acordo com Maschio, é perfeitamente viável. “Este processo é chamado de Whitetopping, que é pegar essa via que está com asfalto completamente deteriorado e fazer um pavimento de concreto por cima, aproveitando isso como estrutura. Não é preciso retirar ou reconstruir e ainda agiliza o processo. Ao fazer isso numa via de bairro, você tem um custo muito parecido com o recape asfáltico – sendo que este vai durar 2 ou 3 anos e o pavimento rígido dura em torno de 30 anos”, afirma Maschio.
Vantagens do pavimento de concreto
Para destacar e incentivar o uso deste insumo, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (CREA-PR) lançou o caderno técnico “Vantagens do Pavimento de Concreto”, em cooperação com a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP). Este caderno trata especificamente sobre pavimentos urbanos, o que não inclui os rodoviários. Isto é, engloba pavimentos usados em tráfegos mais leves – vias residenciais, avenidas, excetuando corredores de ônibus. Confira os principais benefícios de usar este material:
- Grande durabilidade com pouca manutenção: além de ter vida útil significativamente maior que o flexível, o pavimento rígido exige menor número de intervenções para manutenção. Consequentemente, há redução de congestionamentos e menor consumo de combustíveis.
- Sem deformações nas vias: por ser rígido, o pavimento de concreto não costuma ter afundamentos, trilhas de roda ou buracos, como é o caso do asfalto.
- Melhor visibilidade por reflexão e economia de energia elétrica: a redução vem desde o início do processo, uma vez que a produção do concreto consome 3 a 4
vezes menos energia que a de asfalto. Além disso, por ser mais claro, representa uma economia de 30 a 60% de energia elétrica na iluminação pública e na sinalização. Por conta disso, representa considerável contribuição para a melhoria da segurança pública. - Segurança viária: se comparado ao asfalto, o pavimento de concreto reduz a distância de frenagem em até 40%.
- Melhoria da sensação térmica: a superfície clara auxilia na diminuição da temperatura ambiente (cerca de 5 °C), proporcionando mais conforto ambiental e reduzindo o uso de ar-condicionado.
- Ecoeficiência: o concreto é totalmente reciclável ao fim de sua vida útil, além de não ter o risco de lixiviação, isto é, contaminação do lençol freático.
- Vantagens ambientais do cimento (principal insumo do concreto): contribui com o meio ambiente por meio do coprocessamento de resíduos e das adições na sua produção. Para se ter uma ideia, para fazer um pavimento de concreto, é coprocessado 6 vezes mais pneus do que no pavimento de borracha.
Desvantagens e cuidados no uso de pavimento de concreto
Antes de escolher o pavimento rígido, é preciso fazer um estudo apurado. “O concreto pode ser usado em diversas situações, até mesmo em solos de baixa resistência. No entanto, é preciso um estudo apurado do solo, do tipo e volume de tráfego, além de uma série de variáveis. Com isso, conseguimos saber se será necessário utilizar fibra sintética ou armadura, por exemplo. Cada situação é uma e, por isso, é necessário ter um projeto”, alerta Moretto.
Em algumas situações, o pavimento asfáltico pode ter uma vantagem em função de outros aspectos. “As cidades maiores geralmente foram equipadas com usinas de asfalto. Com isso, a própria cidade produz o seu asfalto. Consequentemente, oferece um custo menor e a competitividade do concreto cai. É o caso, por exemplo, de Curitiba, que tem três usinas operando na cidade. No entanto, há projetos já lançados. O próprio bairro novo da Caximba tem as duas coisas: pavimento de concreto para tráfego leve e o pavimento permeável nas calçadas, estacionamentos e em algumas vias”, comenta Maschio.
Entrevistados
Alexsander Maschio é Gerente Regional Sul da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP).
Rafael Fontes Moretto é conselheiro do CREA-PR (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná).
Contatos
alexsander.maschio@abcp.org.br
comunicacaocreapr@crea-pr.org.br
Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP
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