Patologias do projeto prejudicam a boa engenharia
Problemas mostrados na 23ª Semana da Engenharia, promovida pelo Instituto de Engenharia do Paraná, mostram custo de não se planejar as obras
Problemas mostrados na 23ª Semana da Engenharia, promovida pelo Instituto de Engenharia do Paraná, mostram custo de não se planejar as obras
Na 23ª Semana de Engenharia, promovida recentemente pelo Instituto de Engenharia do Paraná, o engenheiro-consultor Márcio Roberto Fernandes palestrou sobre o seguinte tema: “Roteiro da Qualidade: estudos de viabilidade, projetos e obras da engenharia”. O especialista mostrou que, acima das patologias em estruturas, as patologias de projeto são as que mais encarecem os custos de uma obra e prejudicam a boa engenharia. “A qualidade de um projeto deve atender três conceitos: a conformidade às normas técnicas, a legislação vigente e a satisfação do usuário. Se isso não ocorrer, temos o risco do projeto sofrer de patologias”, revela o engenheiro civil.
Exemplos no Brasil é que não faltam. Em sua palestra, Márcio Roberto Fernandes citou cinco, apenas para ilustrar: barragem da Samarco, que em 2015 rompeu e arrasou o distrito de Bento Ribeiro, em Mariana-MG, matando 19 pessoas e se transformando no maior acidente ambiental do Brasil; viaduto em Belo Horizonte-MG, que em 2014 desmoronou sobre veículos e matou duas pessoas; ciclovia Tim Maia, no Rio de Janeiro-RJ, que desabou em 2016, causando duas mortes; Arena do Corinthians, que em 2013 teve parte da estrutura já construída atingida por um guindaste, matando dois operários, e Palácio das Araucárias, em Curitiba-PR, que ficou 20 anos na estrutura de concreto, por causa de erros de projeto.
Além de colocar em risco vidas humanas, e levar à interdição de obras já construídas, as patologias de projeto são também responsáveis por boa parte das construções inacabadas. Recentemente, a comissão de obras do Senado Federal detectou que existem 22 mil edificações públicas inacabadas no Brasil. Já a ONG Transparência Brasil estima que elas sejam 30 mil. As estatísticas do Tribunal de Contas da União (TCU) apontam as principais causas para que as construções sejam abandonadas sem conclusão: 56% são por falhas no projeto; 24%, por falhas estruturais; 18%, por processos licitatórios irregulares, incluindo superfaturamentos. Os 2% restantes englobam qualidade da obra abaixo do previsto e falta de recursos. “Isso mostra que as obras no Brasil não param por falta de dinheiro. As causas são outras”, revela o engenheiro.
Planejamento x Erro
Um projeto com patologia custa muito mais caro do que investir na qualidade do projeto, garante Márcio Roberto Fernandes. “O estudo preliminar equivale a 0,1% do orçamento, o estudo de viabilidade a 0,2%, o projeto básico a 1% e o projeto executivo a 2%. Isso engloba uma equipe experiente, com conhecimento interdisciplinar e que siga rigorosamente as normas técnicas e a legislação vigente”, diz. Contraponto dados, o engenheiro mostrou em sua palestra os impactos de um projeto malfeito. “Em média, o preço da obra aumenta entre 9 e 20 vezes, em relação ao custo inicial. A execução fica 5 vezes mais cara, a manutenção aumenta 25 vezes e a recuperação do empreendimento pode ficar 125 vezes acima do custo inicial do projeto. Então, o que é mais caro: projetar corretamente ou um projeto repleto de patologias?”, questiona o especialista, finalizando sua palestra com a seguinte frase: “Falhas de projeto resultam em custos em escala geométrica.”
Entrevistado
Engenheiro civil Márcio Roberto Fernandes, CEO da Unidec e vice-presidente de administração e finanças da regional Paraná do Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva) (com base em palestra apresentada na 23ª Semana de Engenharia, promovida pelo Instituto de Engenharia do Paraná)
Contatos
mfernandes@unidec.com.br
engenharia@unidec.com.br
Crédito Fotos: Enefotos/IEP e FuturaPress
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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