Parede de concreto celular estrutural aguarda norma
Debates já duram três anos e Caixa Econômica Federal atrasa ensaios sobre durabilidade do material e seu uso em prédios de até cinco pavimentos
Debates já duram três anos e Caixa Econômica Federal atrasa ensaios sobre durabilidade do material e seu uso em prédios de até cinco pavimentos
Por: Altair Santos
Uma das comissões de estudos especiais da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) – a CEE-185, Parede e Laje de Concreto Celular Moldadas no Local para a Construção de Edificações -, trabalha há três anos na elaboração de uma normativa específica para paredes de concreto celular estrutural. O objetivo é que os projetos calcados neste sistema construtivo possam ter acesso a financiamentos da Caixa Econômica Federal.
À frente da comissão está o engenheiro civil Ivanor Fantin Jr., consultor técnico do SindusCon-PR. Atualmente, as paredes de concreto celular estrutural se submetem a um grupo de normas, mas nenhuma delas trata exclusivamente da aplicação deste material em sistemas construtivos. Por isso, a Caixa Econômica Federal dificulta o financiamento a projetos que tentam usar a tecnologia.
Ivanor Fantin Jr. revela que atualmente a concepção da norma está travada. O motivo é que a Caixa exige ensaios de durabilidade. O próprio agente financeiro se comprometeu a pagar esses testes, mas até agora não concretizou a promessa. Enquanto isso, empresas que têm planos de construir com paredes de concreto celular estrutural, e se enquadrar no programa Minha Casa Minha Vida, estão impossibilitadas.
Confira a entrevista com Ivanor Fantin Jr.:
Como está a elaboração da norma para parede de concreto celular estrutural?
Vamos realizar um workshop em São Paulo para destravar a elaboração da norma. Tivemos 18 reuniões, chegamos a elaborar um texto-base, mas a Caixa Econômica Federal se mostrou contrária a colocar a norma em consulta pública, porque não tínhamos comprovações de ensaios que atestem a durabilidade do concreto celular estrutural.
Por quê?
A Caixa Econômica só aprova sistemas construtivos que comprovem ter pelo menos 30 anos de durabilidade. É uma preocupação correta, afinal é o agente que vai financiar e não pode correr o risco de sofrer um processo por que a construção não teve a durabilidade adequada. Do nosso lado, como coordenador e representante do Sinduscon-PR, nossa preocupação é a mesma. Porém, sabemos que se trata de um material utilizado internacionalmente há muitos anos. Aqui em Curitiba mesmo tem edifícios com mais de 20 anos que estão em perfeitas condições.
Por qual motivo, então, a norma não avança?
As reuniões foram se passando e a gente viu que existia um grupo que simplesmente jogava contra a norma, achando sempre algum motivo para dar um passo para trás. Até que no final de 2014, a Tecomat, que é um ITA (Instituição Técnica Avaliadora) do nordeste, realizou um ensaio e comprovou a durabilidade do material. Porém, a Caixa não quis aceitar o ensaio. Fizemos, então, uma reunião em Brasília e a Caixa se comprometeu a pagar um ensaio para dirimir suas dúvidas. O prazo dado foi de cinco meses, desde aquela reunião, mas até agora a Caixa não fez o ensaio. Não fosse isso, a norma já poderia estar em consulta pública.
Há quanto tempo a comissão formada já trabalha para a elaboração da norma?
Se contar o período em que está parada por causa da Caixa, nós temos aí três anos.
Não seria o caso de o ensaio ser pago pelos que pretendem construir com paredes de concreto celular estrutural?
Quando você fala em norma, quem normalmente arca com os custos dos ensaios são os fornecedores. Só que neste caso os fornecedores não tinham condições de bancar estes custos do ensaio de durabilidade, que é caro. Lá no nordeste estão sendo construídas muitas unidades com concreto celular estrutural, e com resultados térmicos muito melhores que o concreto convencional. Como ele é um concreto mais leve, com bolhas incomunicáveis de ar, ele não esquenta tanto dentro de uma residência quanto o concreto convencional. Só que para a Caixa financiar ela quer uma garantia dentro dos parâmetros dela.
Se vier a sair, a norma pode tornar mais barato e popularizar o uso de paredes de concreto celular estrutural?
Se a norma for aprovada, sim. A questão é que o concreto convencional é muito mais tranquilo de trabalhar que o concreto celular. O concreto celular exige que você tenha um controle tecnológico muito maior.
Qual o risco?
O que está sendo questionado é se as bolhas de ar que são incorporadas ao concreto celular estimulam a corrosão de armaduras. A princípio, existe a dúvida de que se as bolhas são comunicáveis ou não. Onde existe umidade, existe ar e a tendência é ter uma situação de oxidação. Este é o medo maior. Neste caso, a Caixa não aceita que a pintura isola a parede e impede a água de penetrá-la. Há uma discordância aí. Tudo é manutenção. Se você faz uma pintura adequada, logicamente que ela vai proteger o empreendimento.
Quais as vantagens de uma parede construída com concreto celular estrutural?
O desempenho térmico é melhor e o desempenho acústico também. Por outro lado, o controle tecnológico é mais exigente. Aí vem aquela situação: será que todas as empresas têm condições de fazer um concreto celular estrutural e ter um controle tecnológico rigoroso? Esta é a pergunta principal. A questão está colocada muito seriamente na norma.
Atualmente, qual tipo de obra mais utiliza paredes de concreto celular estrutural?
Casas de um pavimento no padrão Minha Casa Minha Vida. No nordeste e em São Paulo há cerca de duas mil construídas com esse sistema, e aguardando a norma para serem vendidas. A Caixa quer restringir o uso das paredes para casas térreas ou casas assobradadas. Só que quem é construtor avalia que é possível construir edifícios de até cinco pavimentos.
Entrevistado
Engenheiro civil Ivanor Fantin Jr., consultor técnico do SindusCon-PR e integrante de comissões de estudos especiais da ABNT
Contato
engenharia@sindusconpr.com.br
Crédito Foto: Divulgação/Cia. Cimento Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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