Palestra aborda inspeção e recuperação de edifícios em cidades litorâneas

O engenheiro civil Joelcio Luiz Stocco falou sobre o assunto durante a Construsul BC

Edifícios no litoral precisam de inspeções especiais.
Crédito: Reprodução/Palestra Stocco

A palestra “Edifícios em cidades litorâneas: inspeção, diagnóstico, recuperação e monitoramento de estruturas de concreto armado” foi um dos destaques da programação da Construsul BC – Feira da Indústria da Construção e Acabamento, que teve sua primeira edição realizada de 23 a 26 de abril em Balneário Camboriú (SC).

O responsável pela apresentação foi o engenheiro civil Joelcio Luiz Stocco, que falou sobre aspectos técnicos e métodos aplicados para evitar e recuperar a deterioração de estruturas em empreendimentos localizados no litoral.

Ao Massa Cinzenta, ele explica que as construções de edifícios nestes lugares não são mais complicadas nem mais caras do que em outros locais. “Porém, trata-se de uma região de alta agressividade ambiental, muitas vezes com névoa salina constante, sendo assim, as orientações normativas quanto à durabilidade devem ser atendidas tanto nos projetos quanto na execução”, explica.

Abaixo, leia o bate-papo com Joelcio Luiz Stocco, mestre em engenharia pela Universidade Federal de Santa Catarina, sócio-administrador da Stocco Engenheiros Associados, diretor regional em Santa Catarina do Instituto Brasileiro do Concreto (Ibracon) e membro da Diretoria da Associação Brasileira de Patologia das Construções (Alconpat Brasil). 

O quanto a tecnologia evoluiu, ao longo dos anos, para beneficiar a segurança de construções em cidades litorâneas?

Joelcio Luiz Stocco – Se pensarmos que o concreto armado é um material relativamente recente, pouco mais de 100 anos, ainda estamos aprendendo muito sobre ele. Porém, a tecnologia do concreto armado evoluiu drasticamente mais recentemente. O grande crescimento do uso do concreto armado se deu a partir dos anos 1950 no Brasil, e, em Florianópolis, onde atuo, a década de 1970 marcou o uso de um grande número de edifícios em concreto armado com ênfase no concreto aparente.

Com o passar do tempo, temos observado um grande número de manifestações patológicas surgindo nessas edificações. Os critérios de durabilidade foram tratados de forma mais firme somente a partir de 2003, quando a ABNT NBR 6118 passou por uma mudança expressiva e inseriu o tópico de durabilidade em seu texto. A versão anterior, a NB-1, de 1978, que passou a se chamar NBR 6118 em 1980, fazia apenas considerações sobre efeitos de segunda ordem de acordo com o ambiente, falando de algumas medidas, como, por exemplo, um maior cobrimento em ambientes agressivos, dependendo da agressividade, sem se aprofundar no tema.

Sendo assim, pode-se afirmar que critérios normativos acerca de durabilidade são recentes, mas tem se discutido muito o tema, onde a tecnologia do concreto armado evolui rapidamente. Contudo, as recomendações normativas ainda não são postas em prática de forma absoluta, e é comum ainda se encontrar obras que não seguem as prescrições da norma e que continuam apresentando danos com o passar do tempo.

Qual o tipo de concreto mais indicado nestes casos e suas especificidades?

Joelcio Luiz Stocco – Concretos com baixa porosidade, relação água/cimento (a/c) menor ou igual a 0,55, por norma. Na minha opinião, e em vários cursos que participei, já se fala em relações a/c menor ou igual a 0,5, mas, se já forem atendidas as orientações normativas, a estrutura vai apresentar um bom desempenho quanto à durabilidade.

Cabe salientar que na grande maioria das vezes a especificação do concreto vem apenas com a resistência à compressão, o famoso “fck“, e, em outros casos, quem está fazendo a ordem de compra apenas informa a classe do concreto sem levar em conta a relação água/cimento (a/c).

Considerando que atualmente estamos conseguindo produzir concretos com até 8,5 kg de cimento por MPa [unidade de medida do fck], então, um concreto de resistência à compressão fck = 30 MPa estaria com uma relação a/c = 0,73, para um consumo de água de 185 litros por metro cúbico. O que acaba não atendendo à indicação das normas. Contudo, o uso de adições tipo escórias, fíler ou materiais pozolânicos pode colaborar para diminuir a porosidade do concreto.

Dessa forma, um profissional especialista em tecnologia do concreto pode colaborar muito na especificação do tipo de concreto mais apropriado para cada situação, e o próprio calculista poderia utilizar em seus projetos uma classe de concreto mais elevada, se beneficiando assim dessa maior resistência para otimizar seus cálculos.

Os danos mais observados são quais? E como evitá-los ou amenizá-los?

Joelcio Luiz Stocco – Os danos mais observados em estruturas de concreto armado em regiões litorâneas são os causados pela despassivação da armadura, provocado por elevado teor de íon cloreto, que, inicialmente, se manifesta com fissuras no concreto por causa da expansão da armadura, devido aos produtos de corrosão, seguido por lascamento do concreto e corrosão acentuada da armadura, evoluindo para lascamento acentuado do concreto e perda significativa da seção da armadura.

O item 6.3.3.2 da NBR 6118 (ABNT, 2023) já trata do assunto de como evitar ou minimizar esse problema: “…As medidas preventivas consistem em dificultar o ingresso dos agentes agressivos (íon cloreto nesse caso) ao interior do concreto. O cobrimento das armaduras e o controle da fissuração minimizam este efeito, sendo recomendável o uso de concretos com pouca porosidade…”.

Engenheiro civil Joelcio Luiz Stocco realizou palestra na Construsul BC.
Crédito: Reprodução/Palestra Stocco

Também temos que pensar no tratamento das armaduras que já apresentam corrosão. Por algum tempo, foi utilizada uma técnica de aplicação de um metal de sacrifício (zinco) sobre as armaduras, porém, essa técnica se mostrou pouco durável, com a volta dos problemas num curto espaço de tempo. Atualmente, o procedimento mais usado é o de evitar a condição de ocorrência de corrosão.

Para que ocorra corrosão da armadura é necessário que três condições estejam presentes: o contaminante, que no nosso caso é o íon cloreto, a presença de água (umidade) e o oxigênio. Então, uma vez que o íon cloreto se liga à armadura, ele não sai mais. Até existem técnicas para a sua remoção, mas que, na prática, se tornam inviáveis economicamente. Dessa forma, o procedimento mais usual é a diminuição do teor de íon cloreto com remoção mecânica, aplicação de “anticorrosivo” e ponte de ligação sobre a armadura, finalizando com argamassa polimérica ou grout de recuperação, evitando que a água e o oxigênio cheguem até a armadura.

Outras medidas adicionais podem ser tomadas, como, por exemplo: aplicação de revestimentos hidrofugantes, pinturas especiais, proteção catódica das armaduras, entre outros (vide item 7.7 – Medidas especiais da NBR 6118). Cabe salientar que com o passar do tempo os problemas tendam a voltar, então, se torna essencial um acompanhamento das estruturas de concreto através de monitoramento periódico. Dessa forma, é possível que se procedam intervenções menores que recuperam o desempenho das estruturas e são menos onerosas aos proprietários. 

Fonte
Joelcio Luiz Stocco, engenheiro civil e representante da Stocco Engenheiros Associados Ltda

Jornalista responsável
Fabiana Seragusa 
Vogg Experience

A opinião dos entrevistados não reflete necessariamente a opinião da Cia. de Cimento Itambé. 



Massa Cinzenta

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