Os desafios da engenharia militar
A série sobre profissões retrata os vários segmentos de mercado em que atuam os profissionais da engenharia. Conheça mais sobre o engenheiro militar.
Os desafios da carreira da engenharia que vão além dos canteiros de obras
Por: Michel Mello
O Massa Cinzenta inaugura uma série sobre profissões em que retrata os vários segmentos de mercado onde atuam os profissionais da engenharia. Para inaugurar esta série começamos com o perfil do engenheiro militar. Esse profissional tem a missão de desenvolver tecnologia no âmbito de defesa estratégica e tecnológica. Também atuam em obras como construção e ampliação das rodovias, a transposição do rio São Francisco e obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
IME
Para atender ao desenvolvimento da questão tecnológica e militar no país, o Exército Brasileiro (EB) criou o Instituto Militar de Engenharia (IME), resultado da fusão da Escola Técnica do Exército com o Instituto Militar de Tecnologia, isso no ano de 1959.
O instituto se destaca por ter formado inúmeras gerações de engenheiros, civis e militares, que em muito contribuíram para o desenvolvimento da engenharia nacional. Não só no desempenho exclusivo da atividade profissional, mas também na qualidade de professores ou mesmo de fundadores de instituições de ensino espalhadas pelo Brasil.
A admissão aos cursos de graduação é oferecida tanto a militares, oriundos da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), quanto a civis, com escolaridade correspondente ao Ensino Médio, e realizada através de dois concursos de admissão distintos. O acesso aos cursos de pós-graduação é feita através de um processo de seleção acadêmica e exame médico.
Atualmente, o IME forma oficiais engenheiros militares da ativa e da reserva, sendo que a graduação em engenharia tem a duração de cinco anos junto à formação militar, que dura o mesmo tempo, para os optantes pela carreira e de um ano para os optantes pela reserva. Além disso, o instituto também admite engenheiros, homens e mulheres formados em instituições civis.
O coronel do Quadro de Engenheiros Militares (QEM), Marcelo Eschiletti Caldas Rodrigues, especialista em engenharia elétrica, fala que tinha o “desejo de ser engenheiro, mesmo antes de ingressar na Academia Militar das Agulhas Negras”. Atualmente o coronel serve no Departamento de Engenharia e Construção (DEC), em Brasília (DF).
Missões
Para o engenheiro militar, “as missões mais marcantes foram aquelas realizadas na África, em virtude das condições enfrentadas. Uma lição aprendida foi a humildade, após a conclusão do curso de mestrado, quando constatei que a falta de conhecimento técnico não é motivo de vergonha e, sim, motivação para a busca das soluções”.
Atualmente, o coronel Eschiletti participa do processo de reestruturação do DEC e de um estudo sobre a viabilidade de implantação de um sistema de monitoramento do consumo de energia no Exército Brasileiro.
Ele destaca que na carreira de engenheiro militar não conheceu a rotina. “Tenho exercido as mais diferentes funções, em diversas organizações militares. O Exército me proporcionou um curso de graduação, um de pós-graduação e cursos na área de gerenciamento. Foram apresentados desafios e oportunidades de exercer minhas atividades na área de formação”, enfatiza o coronel.
“A carreira do engenheiro militar oferece várias oportunidades em termos de capacitação profissional, vários tipos de atividades: ensino, pesquisa, atuação como engenheiro de campo ou como projetista, em diversas áreas da engenharia (civil, elétrica, eletrônica, telecomunicações, mecânica, cartografia, computação, química, materiais), e a possibilidade de morar em diferentes regiões do país e, em alguns casos, inclusive no exterior” esclarece.
Atuação
Atualmente, existem engenheiros de fortificação e construção (engenharia civil) trabalhando na Missão de Paz, no Haiti; nas obras de duplicação da BR – 101 e nas obras de interligação do Rio São Francisco com as bacias do Nordeste Setentrional, no nordeste; nas obras da BR – 319 e BR – 163, na Amazônia; nos aeroportos de Guarulhos, em São Paulo; São Gonçalo do Amarante, em Natal; e no Porto de São Francisco do Sul, em Santa Catarina etc.
“Temos engenheiros mecânicos e de materiais trabalhando no desenvolvimento da nova família de carros blindados do Exército; engenheiros de computação desenvolvendo sistemas de gerenciamento e de apoio à decisão, quer na área administrativa, quer na área operacional; engenheiros mecânicos, eletrônicos e de telecomunicações trabalhando em fábricas e arsenais ou desenvolvendo pesquisas no Centro Tecnológico do Exército, no Rio de Janeiro; engenheiros cartógrafos realizando inúmeros projetos ao longo de todo o território nacional. Enfim, o leque de oportunidades da engenharia militar é bastante amplo”, conclui o coronel Eschiletti.
Aluno
O primeiro tenente Rafael Rocha Heymann, aluno do último ano, do curso de Engenharia Eletrônica do IME, afirma que “desde cedo eu tive interesse na carreira militar. Paralelo a isso, sempre tive facilidade nas matérias da área de exatas, como matemática e a física, além da curiosidade referente ao funcionamento, em termo de hardware, dos computadores e equipamentos eletrônicos em geral. Daí o desejo em realizar o curso de Engenharia Eletrônica”.
Heymann enfatiza, “desta forma, vi no IME uma oportunidade de alcançar estas duas metas profissionais. Somado a isso, acredito que seja gratificante pesquisar, projetar e produzir equipamentos úteis para a força, visando o desenvolvimento e a soberania nacional”.
Sobre o curso de formação ele diz: “Vários aspectos positivos são responsáveis pela tradição do IME em formar engenheiros de alto nível. Eu diria que os recursos humanos, selecionados através de um dos mais difíceis vestibulares do país, é o fator principal que o destaca em relação às outras instituições de formação de engenheiros”.
Formação militar
“Acredito que a formação militar é importante, pois ela transmite valores fundamentais, como a disciplina e a hierarquia, dois princípios básicos da carreira. Além disso, aprendemos a ter uma postura adequada como militares do Exército Brasileiro, mantendo o respeito, a camaradagem e a seriedade. Com o passar dos anos, a vivência nos ensina outras duas características importantes: a iniciativa e o bom senso” destaca o aluno. “No contexto geral, gosto muito do conceito de turma que é valorizado nas escolas militares. No âmbito do meu curso, engenharia eletrônica, eu gosto de poder trabalhar com a produção tecnológica cada vez mais presente na vida do ser humano, a eletrônica, bem como acompanhar a sua evolução tecnológica”, conclui Heymann.
Serviço militar
A vida no IME começa antes mesmo de ser aluno. Na adaptação, os estudantes têm o primeiro contato com a vida militar, aprendendo condutas básicas, começando a fazer ordem unida, executando o primeiro tiro de fuzil e, por fim, realizando a cerimônia de entrada pelos portões. No decorrer dos anos, a vida acadêmica é marcada por muito estudo.
Outro momento marcante ocorre no início do terceiro ano, quando os alunos saem do ciclo básico e escolhem a sua especialização: engenharia eletrônica, elétrica, telecomunicações, de computação, mecânica de armamento, mecânica de automóveis, materiais, cartográfica, de fortificação e construção ou química.
Atividades militares
“Durante o curso de formação de oficial, temos as atividades militares que incluem: apresentações e provas referentes às normas e regulamentos próprios da atividade militar; atividades e avaliações físicas constantes com formaturas gerais”, ressalta Heymann. “Também realizamos anualmente um acampamento em que ocorrem os treinamentos militares, onde executamos tiro de fuzil e pistola. Treinamentos para desfiles em dias festivos. Culminando, no último ano, com a cerimônia de encerramento e saída pelo portão como formandos”, esclarece.
Sobre as dificuldades o tenente Heymann conclui: “acredito que a grande dificuldade para o aluno no IME é conciliar a atividade acadêmica com a atividade militar. Pois, além do alto grau de exigência e dificuldade das avaliações na parte acadêmica, vivemos numa disciplina militar, com suas normas, condutas e atividades peculiares”.
Origem
Em 15 de janeiro de 1699, o Rei de Portugal sancionou uma Carta Régia que criava um curso de formação de soldados técnicos no Brasil Colônia. Esse curso tinha por objetivo capacitar os soldados nas técnicas de construção de fortificações, a fim de promover a defesa da colônia contra as incursões de outras nações.
Em 1795, foi criada no Recife (PE) uma Aula de Geometria, acrescida, em 1809, do estudo de cálculo integral, mecânica e hidrodinâmica, lecionados pelo Capitão Antonio Francisco Bastos. Essa aula existiu até 1812.
Engenharia Militar no Brasil
A Academia Real Militar, com data de fundação de 1811, mudou de nome quatro vezes: Imperial Academia Militar, em 1822; Academia Militar da Corte, em 1832; Escola Militar, em 1840; e Escola Central, a partir de 1858. Ali se formavam não apenas oficiais do Exército, mas, principalmente, engenheiros, militares ou civis, pois a Escola Central era a única escola de engenharia existente no Brasil.
>> Entrevistados:
Coronel do Quadro de Engenheiros Militares Marcelo Eschiletti Caldas Rodrigues
>> Currículo:
– Graduado em engenharia elétrica pelo Instituto de Engenharia Militar (IME).
– Pós-graduado em engenharia elétrica na Universidade de Brasília (UnB).
– Oficial de Gabinete do Ministro do Exército.
– Serviu como engenheiro da Seção de Engenharia do Departamento de Operações de Paz da Organização das Nações Unidas (ONU).
– Assistente do Chefe do Departamento de Engenharia e Construção do Exército (DEC).
>> Contato: dec@dec.eb.mil.br
Primeiro tenente Rafael Rocha Heymann
>> Currículo:
– Aluno do quinto ano do curso de engenharia elétrica do Instituto Militar de Engenharia (IME).
>> Contato: depq@ime.eb.br
Jornalista responsável: Silvia Elmor – MTB 4417/18/57 – Vogg Branded Content
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