Obras sustentáveis contribuem com meio ambiente

Mesmo com custo 5% superior, especialista garante que obras sustentáveis valem a pena

Mesmo com custo 5% superior, especialista garante que obras sustentáveis valem a pena

Em meio a tantos problemas ambientais, o setor da construção civil também se viu obrigado a repensar suas atividades a fim de minimizar os impactos no meio ambiente. E uma das maneiras encontradas pelo setor é a construção de obras sustentáveis.

Realidade

Em Curitiba, já está em andamento a obra do primeiro prédio registrado no Green Building Council Brazil, o Office Park. Segundo a matéria da Gazeta Mercantil que divulga o fato, “no Brasil os prédios verdes, que cuidam dos aspectos ambientais desde a construção até o funcionamento da obra em si, ainda são poucos, mas este mercado está ganhando importância por força da exigência da clientela corporativa, formada por empresas que tratam as questões ambientais como assunto de extrema relevância”.

Como toda novidade, a construção de obras consideradas sustentáveis gera polêmica. O maior argumento de quem não acredita neste tipo de obra é que ela tem um custo muito acima das obras convencionais. Porém, para o professor de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Vanderley M. John, essa inviabilidade não é real. Ele esclarece que o custo é um falso problema, primeiramente, porque para uma obra ser sustentável é preciso ser economicamente viável. “A questão do custo decorre de preconceito e dos sistemas de certificação, que padronizam as soluções, agregando aspectos de ecoeficiência muito avançados. Mas mesmo assim os estudos mostram que edifícios certificados LEED (Leadership in Energy and Environmental Design)1 avançados são apenas 5% mais caros para construir, mas tem maior valor de mercado e custam muito menos para operar” alega.

Para confirmar isto, o professor cita um estudo inglês cuja conclusão foi de que é possível reduzir o custo de obras sustentáveis em algumas situações. “O estudo abordou casas e edifícios certificados pelo BREEAM – um sistema muito sofisticado e que certificou 65 mil empreendimentos, portanto de impacto muito superior ao LEED norte-americano”.

Ao alcance de todos

Vanderley ressalta que mesmo empresas de pequeno e médio porte devem optar pela construção sustentável: “sem dúvida todos precisamos optar por este tipo de solução. Até o consumidor individual em sua pequena reforma. O futuro depende disso e o valor futuro dos investimentos também”.

De acordo com o engenheiro, as obras sustentáveis não vão atingir apenas as classes mais favorecidas, mas também as classes mais baixas. “Se não houver solução viável para este setor, não conseguiremos impactar a sociedade brasileira de forma significativa” declara John, considerando que as moradias populares são as que predominam no país.

“O Brasil tem um patrimônio enorme que é o setor fabricante de materiais e componentes, com produtos muito ecoeficientes: cimentos, aço, equipamentos para economia de água (nossas bacias sanitárias são de 6,8 litros), eletricidade, etc. O ponto mais fraco é o conhecimento, o pessoal técnico” diz.

Negócio promissor

Especialistas alertam que o meio ambiente está caminhando para um rumo que, caso continue dessa maneira, será irreversível. Por esse motivo, eles acreditam que é necessário ver a obra sustentável, mesmo sendo mais cara, como uma solução para que o meio ambiente não seja destruído. “Acho que estes projetos são necessários para a sobrevivência da humanidade. E o melhor é que eles podem ser feitos. Penso que todos deveriam se dar o prazer de auxiliar a comunidade nesta tarefa. Mais do que isto, aqueles que dominarem tecnologias e tiverem sociedades sustentáveis vão ser as potencias do futuro – veja o caso do álcool”.

Mas afinal, o que é necessário para realizar uma obra sustentável e o que é analisado e levado em consideração?

Para a efetivação desse tipo de obra é preciso analisar todos os fatores como, clima, terreno, iluminação, características dos materiais que serão utilizados, entre outros. De acordo com o relatório do Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica (Idhea), Nove Passos para a Obra Sustentável, as principais características de uma obra sustentável são: gestão sustentável da implantação da obra; consumir mínima quantidade de energia e água na implantação da obra e ao longo de sua vida útil; uso de matérias-primas ecoeficientes; gerar mínimo de resíduos e contaminação; utilizar mínimo de terreno e integrar-se ao ambiente natural; não provocar ou reduzir impactos no entorno-paisagem; temperaturas e concentração de calor; sensação de bem estar; adaptar-se às necessidades atuais e futuras dos usuários; criar um ambiente interior saudável e proporcionar saúde e bem-estar.

Para o professor Vanderley, “se a sustentabilidade for incorporada desde a fase de concepção do empreendimento o custo da decisão será pequeno. Esta é a melhor solução.”

Ele explica ainda que os materiais mais utilizados para a realização da obra sustentável são os convencionais (cimento, tijolos, madeira, etc.), produzidos de forma ecoeficiente por empresas socialmente responsáveis, de acordo com padrões de qualidade e dentro da legalidade. “Os materiais exóticos podem ter seu charme, mas dificilmente são as melhores soluções. Cimentos CP III ou CP IV, produzidos por marcas consolidadas, são os mais eco eficientes do mercado. Madeira certificada FSC, comercializada por empresas com políticas claras de responsabilidade social são as únicas confiáveis. Se forem produtos de plantações de crescimento rápido, melhor”.

Mais do que uma questão de marketing para atrair o consumidor com discursos ambientalmente corretos, as empresas estão ficando realmente mais conscientes de sua responsabilidade. “Acho que o marketing sustentável é necessário até como forma de educação ambiental, pois o estado brasileiro não faz educação para a sustentabilidade. Mas estratégias baseadas somente em marketing têm curta duração” diz o professor.

Para ele, irá sobreviver a empresa que adotar a política ambiental e social dentro de sua filosofia de trabalho, que desenvolver tecnologias progressivamente, formando gente e fornecedores. “Estes serão competitivos. Os demais terão sempre custos superiores e, em curto prazo, perderão credibilidade”.

1 A certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) é um selo norte-americano para definir uma “construção verde”. Para ganhar o selo de prédio verde, os parâmetros de sustentabilidade são medidos e pontuados em todas as áreas chaves de uma construção, como eficiência no uso de águas, no consumo de energia, materiais e recursos aplicados.

* Vanderley M. John é Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq – Nível 1D, graduado em Engenharia Civil pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (1982), mestrado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1987) e doutorado em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo (1995) com pós-doutorado no Royal Institute of Technology da Suécia (2001). Professor associado da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e diretor do CB2 da Associação Brasileira de Normas Técnicas. Foi membro da diretoria executiva da Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído (incluindo presidência e vice-presidência). Tem experiência na área de Materiais e Componentes de Construção, atuando principalmente nos seguintes temas: uso de resíduos como matérias primas, construção civil e desenvolvimento sustentável, durabilidade (incluindo biodeterioração) e compósitos aplicados à construção civil.

Referência:
Créditos: Vanderley M. John*



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