Obra que prevê vida útil e manutenções respeita cliente
Materiais especificados para construção devem atender requisitos de durabilidade e possuir dados sobre desempenho, alerta especialista
Materiais especificados para construção devem atender requisitos de durabilidade e possuir dados sobre desempenho, alerta especialista
Por: Altair Santos
A indústria da construção civil tem migrado de processos tipicamente artesanais para sistemas industrializados, racionalizados e sustentáveis. Edificações de grande porte já aderiram a essa realidade, mas as construções de casas ainda não. Essa guinada, no entanto, requer planejamento. Não basta considerar apenas o custo construtivo da obra, mas analisar toda a vida útil da edificação. Por isso, é fundamental ter projetos estruturais, elétricos e hidráulicos muito bem descritos. O emprego de novas tecnologias também é importante, principalmente no que se refere ao uso de materiais que garantam durabilidade à obra, como explica o professor de engenharia civil da Universidade de Franca, no estado de São Paulo (UNIFRAN), Glauco Fabrício Bianchini, na entrevista a seguir. Confira:
Na elaboração de um projeto não se deve apenas considerar o custo construtivo da obra, mas analisar toda a vida útil da edificação, seu processo de manutenção e a reposição de materiais. De que forma se faz isso?
Durante a fase de planejamento e projeto, os profissionais envolvidos devem levar em conta a durabilidade dos sistemas, ou seja, considerar a capacidade da edificação e dos sistemas de desempenhar suas funções ao longo do tempo, sob condições de uso e manutenções. Os materiais especificados para a construção devem atender aos requisitos de durabilidade projetada e possuir dados sobre o seu desempenho ao longo do tempo. Esses dados são essenciais para a determinação das manutenções periódicas, que devem estar previstas no manual de uso, operação e manutenção (manual do proprietário). Toda edificação deve passar pelo processo de manutenção, recuperando parcialmente a perda de desempenho resultante da degradação pelo uso ou exposição às intempéries.
A previsão de manutenções de uma edificação já deve estar contemplada no projeto?
Toda edificação é composta por sistemas funcionais, como fundação, estrutura, instalações elétricas, hidrossanitárias e cobertura. Todos esses sistemas são essenciais para o completo funcionamento e necessitam estar devidamente planejados e projetados para seu perfeito funcionamento. Sem o devido processo de manutenção, a vida útil fica comprometida, tornando o desempenho destes sistemas abaixo do requerido. Como exemplo, pode-se citar a deterioração das peças de madeira, que estão sujeitas a ataques biológicos e ação do fogo. A correta manutenção aumenta a resistência da madeira e prolonga a vida útil. Outro exemplo – inclusive descrito na Norma de Desempenho (ABNT NBR 15575-1/2013) – diz respeito ao revestimento de fachada em argamassa pintado, que pode ser projetado para uma vida útil de 25 anos. Isso, desde que a pintura seja refeita a cada 5 anos. Caso o usuário não realize a manutenção prevista, a vida útil do revestimento pode ser comprometida, desencadeando o surgimento de patologias.
Observar a análise de ciclo de vida dos materiais, mais do que os valores, traz que tipo de benefícios à obra e minimiza que tipo de impactos?
Ao projetar um imóvel, que é de alto valor unitário e muitas vezes de aquisição única, não se pode deixar o custo inicial prevalecer em detrimento do custo global e da durabilidade da edificação. Caso contrário está prejudicando o usuário.
Esse conceito vale para todo tipo de construção?
Todas as construções possuem suas particularidades e destinações, cabendo ao profissional responsável pelo planejamento e projeto a correta determinação dos materiais e manutenções durante a vida útil da construção.
A qualidade de insumos como brita, areia e cimento entra no conceito da pergunta acima?
Todos os materiais utilizados durante a execução da obra devem ser caracterizados pelos profissionais. Areias e britas devem ser devidamente ensaiadas por laboratórios para atendimentos das características pedidas e os cimentos devem ser corretamente utilizados de acordo com as especificações de projeto. No caso dos cimentos, estes devem ser especificados de acordo com as necessidades e a classe de resistência (MPa).
O surgimento de novas tecnologias e materiais está transformando a forma de construir. Entre elas, qual o senhor destacaria como a mais transformadora?
A utilização de materiais poliméricos nos sistemas funcionais e a substituição da madeira por compostos poliméricos de madeira (WPC). Esses materiais, por serem industrializados, podem se moldar facilmente à exigência dos projetistas, podendo alterar suas características físicas e mecânicas de acordo com as necessidades. Como exemplo, o aumento da resistência ao fogo, aumento da resistência a carregamentos sem modificações de dimensões externas e diminuição das variações dimensionais quando submetidos a variações de temperatura.
N.R: nesta pergunta, colaborou com a resposta o professor Carlos do Amaral Razzino, da UNESP.
Dentro do conceito de planejamento da obra e qualidade dos materiais, quais cuidados deve haver com a mão de obra?
Deve-se garantir que a mão de obra utilizada seja qualificada para lidar com os materiais e tecnologias utilizados na construção. A mão de obra contratada deve ter experiência na utilização da tecnologia a ser empregada, estar treinada e em constante atualização e aprendizagem. Buscar referências sobre serviços executados e conversar com outros proprietários sobre o andamento de suas obras também fornecem informações importantes. Quando a mão de obra for de responsabilidade do profissional executor da obra, este deve fornecer garantias das qualidades dos serviços prestados.
No que a normalização, revisão de normas e, em especial, a Norma de Desempenho, contribuem para que práticas como projeto, planejamento, ciclo de vida dos materiais e qualidade da mão de obra se disseminem na construção civil brasileira?
A ABNT NBR 15575-1/2013 fornece para os profissionais do setor meios de se mensurar o desempenho dos sistemas funcionais e estabelecer padrões mínimos aceitáveis de desempenho. Para essa mensuração, são estabelecidos métodos de ensaios que auxiliam a indústria da construção civil a desenvolver métodos, equipamentos e materiais para atendimento das exigências. Com essas medidas, o consumidor passa a ser o maior beneficiário, após a entrada em vigor da norma. Cabe ressaltar que a Norma de Desempenho oferece subsídios gerais para essas avaliações, porém, assim como toda norma, não pode ser utilizada de maneira individualizada, precisando ser complementada por outras normas – muitas vezes normas internacionais.
Entrevistados
– Engenheiro civil Glauco Fabrício Bianchini, mestre pela UFSCar e professor da UNIFRAN (universidade de Franca), em São Paulo
– Engenheiro civil Carlos do Amaral Razzino, professor-doutor da UNESP, em Bauru-SP
Contato
glauco.bianchini@unifran.edu.br
Crédito Foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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