O bom planejamento para evitar futuros desastres
Desastres como os que aconteceram no início do ano no estado do Rio de Janeiro trazem para o foco da discussão a busca de alternativas para minimizar os riscos de deslizamentos em encostas. Pesquisas de universidades do Rio Grande do Sul e do Paraná apontam que, mesmo em ocupações em áreas de risco, se houver um bom planejamento, a probabilidade de acidentes pode diminuir.
Impedir a ocupação irregular em áreas de risco e recuperar solos suscetíveis a desmoronamentos podem prevenir tragédias
por: Vanessa Bordin – Vogg Branded Content
Desastres como os que aconteceram no início do ano em Angra dos Reis e, mais recentemente, em Niterói, ambos no Rio de Janeiro, trazem para o foco da discussão a busca de alternativas para minimizar os riscos de deslizamentos em encostas. Pesquisadores são categóricos: a construção em áreas de risco, principalmente naquelas ocupadas de forma irregular, sempre irá representar algum tipo de perigo para os habitantes do local, no entanto, se houver um bom planejamento, a probabilidade de acidentes pode diminuir.
O PhD, mestre em engenharia civil geotécnica, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Luiz Antonio Bressani, explica que regiões da serra do mar e ocupadas irregularmente são as que apresentam as características de áreas propensas a futuros problemas, como os desmoronamentos de terra. “Até mesmo os terrenos considerados estáveis, com construções planas, também podem trazer riscos, caso não tenham um bom projeto de engenharia. O mau corte do terreno, além de características do solo, como resistência e permeabilidade, também, são fatores que contribuem para os desastres”, ressalta Bressani.
O clima tem interferido diretamente para o agravamento das regiões de risco. “As chuvas fortes que ocorreram no Rio de Janeiro, no início deste ano, foram cruciais para o desastre em Angra dos Reis. Precisamos repensar os planejamentos habitacionais de lugares como Angra, preservando a vegetação da serra do mar. O clima está nos enviando um alerta”, comenta o mestre em engenharia civil geotécnica.
Pesquisas sobre população em áreas de risco, comportamento de solos tropicais, ensaios de laboratório, mapeamento geotécnico e instrumentação são temas de estudo do departamento de engenharia civil da UFRGS. Os estudos, coordenados pelo professor Bressani, nas cidades de Porto Alegre, Caxias do Sul e Santa Cruz do Sul apontam risco de desmoronamento em áreas de encosta, devido à grande absorção de água da chuva. “Através da coleta de amostras de solo para uma avaliação da qualidade do terreno, podemos identificar locais propensos a gerar futuros problemas, principalmente, em regiões de ocupação irregular”, avalia.
No Paraná, engenheiros e estudantes da UFPR (Universidade Federal do Paraná) também estão realizando pesquisas de avaliação de risco em regiões da serra do mar. “Estudamos encostas, análise da resistência do solo, balanço hídrico e estimamos a variação da estabilidade do solo ao longo do tempo e, com base nessas pesquisas, diagnosticamos quando um solo está saturado ou não”, revela o professor da UFPR, doutor em engenharia civil Eduardo Del’Avanzi. O professor da UFRGS, Bressani, ressalta que os desastres em regiões de solos escorregadios são também um problema social e econômico. Por isso, a importância da identificação dessas áreas, por parte do poder público, e a remoção da população que vive nesses locais, ou próxima a eles. “As pessoas devem ficar atentas ao menor sinal de rachaduras e trincas nas paredes das residências, pois elas apontam que alguma coisa não está indo bem”, ressalta.
Del’Avanzi ainda explica que quando um solo está muito saturado é porque apresenta todos os vazios preenchidos com água, o que é mais comum nas encostas. “As ocupações, em solos com essas características foram acontecendo de forma desordenada em várias regiões do país, fruto de um crescimento exagerado da população sem opção adequada de moradia. Os bairros foram sendo urbanizados e as cidades foram crescendo em torno da serra do mar e de aterros, sem nenhum planejamento correto de habitação. Para solucionar ou minimizar um risco, se deve fazer um planejamento da área voltado ao meio ambiente, tentando manter as drenagens naturais e analisar se a remoção é o único caminho”, avalia Del’Avanzi.
Recuperação do solo
Nos locais considerados mais propensos a desastres é possível fazer um trabalho de engenharia, recuperando o solo suscetível a desmoronamentos com obras de estabilização. “Isso pode ser feito através de drenagens, medidas de contenção, mas também é importante destacar que ações dessa natureza, muitas vezes, podem ser inviáveis, pela falta de acesso das máquinas aos lugares de maior risco em encostas ou aterros. Por isso, prevenir a ocupação irregular deve ser prioridade dos governos, não investindo na urbanização dessas localidades. Cabe, também, às pessoas se conscientizarem da importância de evitar construir em áreas impróprias”, ressalta o doutor em engenharia Del’Avanzi.
Entrevistados:
Luiz Antonio Bressani
-PhD em engenharia em Soil Mechanics pelo Imperial College de Londres (1990),
-Professor Associado do Departamento de Eng. Civil da UFRGS.
-Experiência em projetos na área de Engenharia Civil, com ênfase em Taludes Naturais e Escavações atuando em pesquisas sobre Comportamento de Solos Tropicais, Ensaios de Laboratório, Mapeamento Geotécnico e Instrumentação.
-Participou na orientação de 33 dissertações de mestrado e sete teses de doutorado com mais de 100 trabalhos publicados na área.
Email: bressani@ufrgs.br
Eduardo Del’Avanzi
– Doutor em Engenharia Engineering – Environmental Geotechnics pela University of Colorado at Boulder (2004)
– Graduação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1991)
– Mestrado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1995) e doutorado em Civil – Professor Adjunto da Universidade Federal do Paraná
– Revisor de periódico da Journal of Geotechnical and Geoenvironmental Engineering
– Tem experiência na área de Engenharia Civil, com ênfase em Geotécnica. Atuando principalmente nos seguintes temas: Análise de Fluxo, Modelagem em centrífuga, solos não saturados.
Email: avanzi@ufpr.br
PERGUNTA: A INTERVENÇÃO DO HOMEM NA NATUREZA ESTÁ CONTRIBUINDO PARA ESSAS TRAGÉDIAS? DEIXE SUA OPINIÃO A SEGUIR.
Jornalista responsável: Silvia Elmor – MTB 4417/18/57 – Vogg Branded Content
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