Nova norma agrega qualidade às lajes alveolares
A ABNT NBR 14861 já está em vigor e foi bem recebida pelo mercado, que aposta na tendência de industrialização da construção civil.
A ABNT NBR 14861 já está em vigor e foi bem recebida pelo mercado, que aposta na tendência de industrialização da construção civil
Por: Altair Santos
Desde 28 de novembro de 2011, está em vigor a ABNT NBR 14861:2011, que estabelece requisitos e procedimentos a serem atendidos no projeto, na produção e na montagem das lajes alveolares pré-moldadas de concreto protendido. A nova norma cancela e substitui a edição anterior de 2002.
O Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto e Agregados (ABNT/CB-18) foi o responsável pela publicação. À frente esteve a superintendente do CB-18, Inês Battagin. Para ela, além de melhorar a qualidade das lajes alveolares, a NBR 14861:2011 – Lajes alveolares pré-moldadas de concreto protendido — Requisitos e procedimentos é um passo importante para o processo de industrialização da construção civil no país. Confira a entrevista:
Com a nova norma NBR 14861:2011, quais são as mudanças mais relevantes na fabricação das lajes alveolares pré-fabricadas de concreto protendido?
A nova norma é mais completa e detalha as especificidades das lajes alveolares com muita propriedade, valendo ressaltar algumas diferenças fundamentais:
1) Os requisitos ficaram mais claros em relação ao documento publicado em 2002 (versão anterior da norma).
2) Na nova norma há um capítulo que detalha como deve ser realizado o dimensionamento das seções transversais das lajes alveolares, considerando a necessidade de resistirem à flexão, à força cortante, à punção, ao fendilhamento longitudinal e estabelece também a resistência das chavetas ao esforço cortante.
3) A ABNT NBR 14861:2011 estabelece as tolerâncias dimensionais das lajes alveolares e dá as diretrizes para sua produção, prescreve os materiais a serem utilizados, as metodologias produtivas, os cuidados com a cura e posterior corte da armadura ativa para liberação da protensão, bem como a verificação das perdas de protensão para aceitação do produto ainda na fábrica.
4) A nova norma estabelece ainda como deve ser realizado o projeto estrutural composto por lajes alveolares, bem como a movimentação das lajes pré-fabricadas e a montagem das estruturas.
5) O capeamento estrutural, que pode complementar a laje e é moldado no local, tem suas especificidades de cálculo e execução estabelecidas.
6) A documentação de cada etapa do processo construtivo (fabricação, projeto, movimentação e montagem) está relacionada na norma, de forma a orientar o meio técnico adequadamente.
Hoje, muito se fala em industrialização da construção civil no Brasil. Em termos de normas que regem o setor, o país está preparado para entrar na era da industrialização?
O Brasil tem crescido muito nas questões de industrialização da construção, especialmente no que diz respeito à pré-fabricação em concreto. A busca por cronogramas enxutos, racionalização nos canteiros e durabilidade da estrutura são os fatores que mais têm contribuído para esse crescimento. Nesse contexto, as ações da ABCIC (Associação Brasileira da Indústria da Construção Industrializada de Concreto) sempre focadas na qualidade, têm alavancado o setor da pré-fabricação em concreto no Brasil. Assim, em termos de normalização, o país está evoluindo em função de suas novas características e das exigências inerentes a esse crescimento. A norma de projeto e execução de estruturas pré-moldadas de concreto (ABNT NBR 9062) foi revisada e publicada em nova edição em 2006; a ABNT NBR 14861, de lajes alveolares, foi publicada este ano e já estamos trabalhando na normalização de estacas pré-fabricadas de concreto.
As lajes alveolares pré-fabricadas de concreto protendido são mais usadas em que tipo de construção?
As lajes alveolares pré-fabricadas de concreto protendido podem ser utilizadas em todo tipo de construção, seja ela em estrutura pré-moldada de concreto, estrutura moldada em loco e até em estruturas mistas e compostas. Por sua elevada capacidade portante, e facilidade de vencer grandes vãos, é comum sua utilização em construções de grande porte, como shopping centers, supermercados, prédios industriais e outros empreendimentos. Mas sua aplicação se estende ao uso em construções de todo o tipo.
Comparativamente a outros países, o Brasil constrói mais ou menos edificações com lajes alveolares protendidas de estruturas de concreto pré-fabricadas?
Sei que em alguns países da Europa, como Bélgica e Holanda, são muito utilizadas as lajes alveolares pré-fabricadas.
Normalmente, uma norma da ABNT é revisada de quanto em quanto tempo? E mais: no caso da NBR 14861, foi a primeira vez?
É desejável que as normas brasileiras sigam o padrão internacional da ISO (International Organization for Standardization) e sejam revisadas a cada 5 anos, o que nem sempre é possível. Esta foi a primeira revisão da ABNT NBR 14861.
Quanto tempo levou entre a elaboração da norma até a sua publicação?
Os trabalhos de revisão da norma começaram em julho de 2008 e foram encerrados em agosto de 2011. Como a data de publicação é de 28 de novembro de 2011, passaram-se três meses após sua aprovação final até a norma estar publicada.
Quais organismos participaram da elaboração da norma?
Diversas empresas, entidades e profissionais tomaram parte nos trabalhos, tendo-se, na comissão de estudo a presença de projetistas estruturais, fabricantes de lajes alveolares, laboratórios de controle, universidade e diversos profissionais que atuam na área, somando mais de 80 pessoas envolvidas com o desenvolvimento da norma. Elas representaram 44 empresas e entidades, valendo salientar especialmente a presença constante da ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) da ABCIC (Associação Brasileira de Construção Industrializada em Concreto) e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Entrevistada
Inês Laranjeira da Silva Battagin, superintendente do Comitê ABNT /CB-18
Currículo
– Engenheira civil, superintendente do ABNT/CB18 e consultora da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) nas áreas de normalização técnica e patologias de edificações
– Participa no desenvolvimento de normas técnicas (ABNT/CB-18 e ABNT/CB-02, ISO e MERCOSUL)
– É diretora de publicações e divulgações técnicas do IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto)
Contato: ines.consult@abcp.org.br / inesbattagin@terra.com.br / cb18@abcp.org.br
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Segundo o engenheiro civil José Paulo Grings, diretor da Preconcretos Engenharia, em Porto Alegre-RS, a NBR 14861:2011 trará benefícios tanto para fabricantes e projetistas quanto para os clientes. “Ela ficou muito mais específica e agregou uma série de embasamentos que regulam e padronizam a utilização da laje alveolar. Isso para o projetista e para o cliente é excelente, pois eles sabem exatamente o que vão receber”, elogiou.
Grings avalia que a nova norma vai coibir algumas práticas, como o uso de capa na incorporação do elemento estrutural. “Muitas vezes uma laje um pouco mais fina dava uma contra-fecha e exigia que se desse uma protendida forte embaixo, o que chama-se de capeamento. Só que acabava gerando alto consumo de concreto, porque lá no meio tinha um capeamento de 5 e lá na ponta tinha um capeamento de 12. Com a norma, ficou limitada a espessura da contra-flecha”, explica.
Ainda de acordo com o engenheiro, a expectativa é que as lajes alveolares pré-moldadas de concreto protendido passem a ser mais consumidas a partir da NBR 14861:2011. “A tendência da industrialização está muito forte. No caso da laje alveolar, ela está abrindo leques em outros segmentos da construção civil. É um produto muito versátil e os maiores consumidores são os projetos de shopping centers. Esse tipo de obra utiliza uma quantidade exorbitante de laje alveolar”, revela José Paulo Grings.
A rapidez na montagem é uma das principais vantagens das lajes alveolares pré-moldadas de concreto protendido. O diretor da Preconcretos Engenharia afirma que por dia podem ser montados até 600 m². “Esse produto permite vencer grandes vãos com espessuras relativamente baixas, sem precisar de escoramento, pois a laje alveolar é autoportante. Além disso, ela tem bom desempenho térmico e acústico”, avalia.
Sobre o tipo de concreto usado na fabricação das lajes alveolares, José Paulo Grings destaca que o produto deve ter fck (resistência) em torno de 50 MPa. “É um concreto que trabalha com abatimentos muito baixos, com uma quantidade de água muito pequena. É um concreto muito seco, muito farinhento, com plasticidade mínima, que só pode ser moldado em equipamento adequado e com a vibração certa”, finaliza.
Preconcretos ganha prêmio “obra do ano” da ABCIC
A Preconcretos Engenharia foi contemplada em dezembro de 2011 com o prêmio “Obra do ano em estruturas pré-fabricadas em concreto”, concedido anualmente pela ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto). O título é dado à estrutura que tenha sido executada com concreto pré-fabricado ou protendido produzido em instalações industriais, em conformidade com a ABNT.
A obra vencedora foi o Complexo Cultural Feevale, no Vale dos Sinos em Novo Hamburgo-RS. O empreendimento conta com dois prédios, teatro e estacionamento, além de anexos como estacionamento externo, acessos e passarela. Foram usadas mais de 400 tipos de peças na construção, totalizando 3.195 m³ de concreto, distribuídos entre pilares, vigas, painéis protendidos, balcões, escadas, elementos de arquibancadas, muros de contenção, lajes e tirantes.
Inaugurado no dia 20 de setembro de 2011, o Complexo Cultural Feevale tem capacidade para 1.800 espectadores e é hoje o maior teatro do Rio Grande do Sul. Trata-se de mais uma obra que usou o know-how da Preconcretos Engenharia, empresa gaúcha fundada em 1973, e que é pioneira no Rio Grande do Sul no ramo de pré-fabricados.
Entrevistado
José Paulo Grings, diretor da Diretor da Preconcretos Engenharia S/A
Currículo
– José Paulo Grings é engenheiro civil formado pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) em 1985
– Possui especializações em estruturas (PUC-RS), gestão empresarial (PPGA/UFRGS), Marketing (FGV) e Engenharia de Produção (UFRGS)
Contato: josepaulo@preconcretos.com.br
Normas necessárias para a aplicação da ABNT NBR 14861:2011:
ABNT NBR 11768:2011 (Aditivos químicos para concreto de cimento Portland – Requisitos)
ABNT NBR 12655:2006 (Concreto de cimento Portland – Preparo, controle e recebimento – Procedimento)
ABNT NBR 14931:2004 (Execução de estruturas de concreto – Procedimento)
ABNT NBR 15200:2004 (Projeto de estruturas de concreto em situação de incêndio)
ABNT NBR 15421:2006 (Projeto de estruturas resistentes a sismos – Procedimento)
ABNT NBR 15823-1:2010 (Concreto auto-adensável Parte 1: Classificação, controle e aceitação no estado fresco)
ABNT NBR 5733:1991 (Cimento Portland de alta resistência inicial)
ABNT NBR 5738:2003 (Concreto – Procedimento para moldagem e cura de corpos-de-prova)
ABNT NBR 5739:2007 (Concreto – Ensaios de compressão de corpos-de-prova cilíndricos)
ABNT NBR 6118:2007 (Projeto de estruturas de concreto – Procedimento)
ABNT NBR 6120:1980 Versão Corrigida: 2000 (Cargas para o cálculo de estruturas de edificações)
ABNT NBR 6123:1988 Versão Corrigida: 1990 (Forças devidas ao vento em edificações)
ABNT NBR 7808:1983 (Símbolos gráficos para projetos de estruturas)
ABNT NBR 8522:2008 (Concreto – Determinação do módulo estático de elasticidade à compressão)
ABNT NBR 8681:2003 Versão Corrigida: 2004 (Ações e segurança nas estruturas – Procedimento)
ABNT NBR 9062:2006 (Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado)
ABNT NBR NM 67:1998 (Concreto – Determinação da consistência pelo abatimento do tronco de cone)
Créditos Foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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