Nova certificação GBC Zero Water pretende incentivar a construção sustentável
Ferramenta foi lançada em novembro e busca estimular a redução do consumo de água em edificações
Especialistas e profissionais do setor da construção estiveram presentes no lançamento da Certificação GBC Zero Water, que ocorreu no dia 28 de novembro, em São Paulo. Durante o evento, apoiado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), a nova ferramenta da ONG Green Building Council Brasil (GBC) foi apresentada como uma forma de incentivar a construção sustentável, por meio do reconhecimento de lideranças comprometidas com a alta eficiência hídrica, reaproveitamento, qualidade e preservação das nossas bacias hidrográficas.
Edificações novas ou já existentes, de qualquer tipologia, podem obter a nova certificação, desde que se enquadrem em requisitos como: redução mínima de 20% na demanda de água potável, medição de água em pelo menos 80% dos pontos de consumo, infraestrutura verde e iniciativas comunitárias.
De acordo com a GBC, adotar estratégias “zero água” pode levar à construção de empreendimentos que preservem recursos hídricos e contribuam para a melhoria de sua estrutura, com adoção de fontes alternativas de água, como a utilização de água de chuva, de água condensada de sistemas de climatização ou então de tratamento e reuso dos efluentes gerados na edificação.
A Certificação GBC Zero Water faz parte de um conjunto de ações que visa melhorar o ambiente natural, a saúde e o bem-estar dos ocupantes dos edifícios. Dentro deste contexto, também foi lançada, em 2017, a Certificação GBC Zero Energy, que busca o equilíbrio entre o consumo e a geração de energia por fontes renováveis.
O GBC Brasil integra o Programa Global Advancing Net Zero, do World GBC, que tem como objetivo cumprir as metas definidas no Acordo de Paris (COP 21). A intenção é conseguir zerar as emissões de carbono advindas do setor da construção civil até 2050. Até hoje, 2.359 empreendimentos se registraram para receber ao menos uma das certificações promovidas pelo GBC no Brasil (são cinco no total), e 1.005 deles já receberam a aprovação.
Abaixo, leia a entrevista concedida por Felipe Augusto Faria, CEO do Green Building Council Brasil, ao Massa Cinzenta.
Pelo seu conhecimento, há muitos projetos já concluídos que podem se enquadrar nos requisitos para a solicitação da nova certificação GBC Zero Water?
Felipe Augusto Faria: Sim, há projetos que se enquadram neste conceito de Zero Water defendido pelo GBC Brasil. Estamos falando de empreendimentos onde o consumo anual de água potável na operação é igual ou inferior ao consumo de fontes alternativas de água, além de garantir a devolução do recurso ao meio ambiente. A inovação no conceito está voltada para a proteção de bacias hidrográficas, permitindo o investimento em eficiência e infiltração em projetos comunitários pertencentes à mesma bacia, como forma de compensação e estímulo a projetos sociais.
Estamos discutindo o registro dos primeiros empreendimentos no Brasil. Trata-se de shopping centers, residências, centro de distribuição, edifícios comerciais e parques temáticos.
Dar atenção ao uso da água é fundamental para o meio ambiente de forma geral. Qual é a maior dificuldade que as empresas da construção enfrentam na hora de adequar seus projetos a estes novos requisitos?
Felipe Augusto Faria: Dar atenção especial a água é fundamental seja nas discussões ambientais, sociais, mudanças climáticas ou econômicas. No Brasil, a população e a indústria estão concentradas em áreas hidricamente estressadas: 70% da população e 66,8% do PIB industrial disputam 9,3% da água doce. Somente 84% dos brasileiros são abastecidos de água tratada (SNIS 2020). Ainda, sofremos com situações de falta de tratamento de esgoto, mudanças nos regimes de chuva e superexploração das águas.
Sobre mudanças do clima, estamos vivendo períodos curtos e alternados de excesso ou escassez de água, que trazem perdas sociais e econômicas irreparáveis.
Em relação aos desafios do Zero Water, confiamos nas tecnologias e nos profissionais capacitados para liderarem essa transformação. O principal desafio está no comportamento do mercado ao discutir projetos de eficiência hídrica, reuso e tratamento.
Uma visão holística sobre o estado da arte da edificação, pensando na bacia hidrográfica, nos desafios e oportunidades locais em matéria de eficiência e tratamento, se faz necessária. Poucos implementam um projeto de gestão integrada de águas. A abordagem sobre os recursos hídricos tem que ocorrer de forma sistêmica, integrada e permanente. A coordenação deve envolver a gestão da água, do solo e dos recursos relacionados, com o objetivo de maximizar os benefícios econômicos e sociais.
Nos empreendimentos certificados pelo Green Building Council Brasil, a média alcançada de redução no uso da água nas edificações é de 50%. Hoje, vemos especialistas executando projetos de gestão integrada de águas, que reduz o orçamento prévio do proprietário, ao mesmo tempo que aumenta o seu desempenho em matéria de eficiência hídrica, reuso, reaproveitamento e infiltração.
Como você avalia a percepção e o empenho do mercado da construção no Brasil em relação à busca da sustentabilidade, comparado ao que se observa no mundo, de forma geral?
Felipe Augusto Faria: O interesse é crescente. Anualmente, estamos batendo o recorde de novos empreendimentos registrados nas certificações do GBC Brasil. Em 2022, atingimos o recorde histórico com 219 empreendimentos, e no mês de novembro de 2023 já contávamos com 223 novos registros no ano.
Os maiores segmentos são: escritórios, centros de distribuição e logística, varejo e o residencial. Temos empreendimentos em todos os Estados brasileiros, e cresce os pedidos nas cidades do interior, ou seja, o movimento de green building não está mais restrito aos principais empreendimentos das capitais.
Em matéria de certificação LEED [que incentiva a transformação de projetos com foco na sustentabilidade], presente em 186 países, o Brasil é o quinto com o maior número de empreendimentos, e nos destacamos frente ao nível de certificações. A certificação é dividida em quatro níveis, sendo o nível máximo a Platina. Enquanto no mundo apenas 8% dos empreendimentos certificados atingem o nível Platina, no Brasil já somos 11,5%.
Isso demonstra uma maior receptividade ao investimento de inteligência de engenharia e arquitetura. Investindo em projeto, viabilizamos economicamente o ingresso de inovação e tecnologia e maximizamos os resultados em eficiência, conforto e sustentabilidade – e a certificação é uma consequência.
Desta forma, há diversos empreendimentos certificados sem acréscimos de custos de construção, além de empreendimentos com níveis de eficiência e conforto tão elevados que fazem o GBC Brasil assumir o protagonismo em desenvolver certificações de desempenho “Zero” Water e Energy, que trazem a tempo presente alguns dos resultados expressivos almejados para 2050.
Fonte
Felipe Augusto Faria, CEO do Green Building Council Brasil
Jornalista responsável
Fabiana Seragusa
Vogg Experience
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