Normas fazem alvenaria estrutural brasileira dar salto de qualidade
Com as ABNT NBR 15961-1:2011 e ABNT NBR 15961-2:2011, que estão em vigor desde julho de 2011, país incorpora desenvolvimento técnico ao sistema construtivo.
Com as ABNT NBR 15961-1:2011 e ABNT NBR 15961-2:2011, que estão em vigor desde julho de 2011, país incorpora desenvolvimento técnico ao sistema construtivo
Por: Altair Santos
O Brasil, em função do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, é atualmente o país que mais utiliza o sistema construtivo conhecido como alvenaria estrutural. No entanto, algumas das normas técnicas que até recentemente regulavam esse modelo de construção não acompanharam seu avanço tecnológico. Foi o que levou a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) a desenvolver duas novas normas para criar uma sintonia fina entre projeto, execução e controle de obras em alvenaria estrutural.
A cargo do Comitê Brasileiro de Construção Civil (ABNT/CB-02) as normas foram publicadas no dia 18 de julho de 2011, depois de cinco anos de intensivas reuniões. A ABNT NBR 15961-1:2011 – Alvenaria estrutural – Blocos de concreto – Parte 1: Projetos especifica os requisitos mínimos exigíveis para o projeto de estruturas de alvenaria de blocos de concreto. Já a ABNT NBR 15961-2:2011 – Alvenaria estrutural – Blocos de concreto – Parte 2: Execução e controle de obras estabelece os requisitos mínimos exigíveis para a execução e o controle de obras com estruturas de alvenaria que utilizam blocos.
Uma equipe de treze especialistas atuou na elaboração das normas. O engenheiro civil e professor da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) Guilherme Parsekian secretariou a comissão de estudo. Segundo ele, a alvenaria estrutural brasileira dará um salto de qualidade a partir das ABNT NBR 15961-1:2011 e ABNT NBR 15961-2:2011. “O sistema construtivo ganha em vários aspectos, como uniformização dos padrões de ensaio, correção e atualização dos critérios de dimensionamento e indicação de procedimentos de controle de obra mais claros e racionais”, explica.
Ainda de acordo com Parsekian, alguns dos critérios de dimensionamento, como de cisalhamento, presentes na norma antiga, não tinham coerência e nem sempre eram utilizados pelos projetistas. “O controle de obra é baseado no ensaio de prisma, cujas normas antigas traziam confusões sobre o procedimento de ensaio, lote e quantidade de exemplares. Com as novas normas, ganha-se em clareza e precisão, e isso irá refletir em construções de qualidade e mais seguras”, comenta.
Antes, os projetos em alvenaria estrutural e os blocos de concreto eram regidos pelas seguintes normas técnicas:
A) Blocos de Concreto:
i. Blocos vazados de concreto simples para alvenaria estrutural – ABNT NBR 6136:2006.
ii. Blocos vazados de concreto simples para alvenaria – Métodos de ensaio – ABNT NBR 12118:2007.
a) Graute:
i. Ensaio à compressão de corpos de prova cilíndricos de concreto – ABNT NBR 5739:2007.
b) Parede / Prisma:
i. Paredes de alvenaria estrutural – Determinação da resistência ao cisalhamento – ABNT NBR 14321:1999.
ii. Paredes de alvenaria estrutural – Verificação da resistência à flexão simples ou à flexo-compressão – ABNT NBR 14322:1999.
iii. Paredes de alvenaria estrutural – Ensaio à compressão simples – ABNT NBR 8949:1985.
iv. Prismas de blocos vazados de concreto simples para alvenaria estrutural – Preparo e ensaio à compressão – ABNT NBR 8215:1983. – ELIMINADA COM A NOVA NORMA
B) Projeto
a) Blocos de Concreto:
i. Cálculo de alvenaria estrutural de blocos vazados de concreto – ABNT NBR 10837:1989. – ELIMINADA COM A NOVA NORMA
C) Execução
a) Blocos de Concreto:
i. Execução e controle de obras em alvenaria de blocos vazados de concreto – ABNT NBR 8798:1985. – ELIMINADA COM A NOVA NORMA
Guilherme Parsekian afirma que a intenção da ABNT é seguir o padrão utilizado nos Estados Unidos para as normas técnicas de alvenaria estrutural, onde as revisões acontecem de três em três anos. “As normas devem ser constantemente revistas para incorporarem o desenvolvimento técnico. Por exemplo, a norma de alvenaria estrutural norte-americana é revista a cada três anos. A norma antiga serviu muito bem para a época dela e os nossos colegas que a fizeram merecem todo nosso reconhecimento. Entretanto, nos últimos vinte anos o desenvolvimento da tecnologia brasileira na área foi muito grande e essa revisão contempla essa atualidade”, diz.
Entre os requisitos mais relevantes das normas ABNT NBR 15961-1:2011 e ABNT NBR 15961-2:2011, destacam-se:
Parte 1
De maior interesse para o projetista, ela altera completamente o conceito de dimensionamento. Agora é adotado o método dos Estados Limites, permitido procedimentos mais precisos e levando em conta critérios atuais de verificação das ações e segurança. Algumas falhas existentes na normalização antiga foram corrigidas, como a adoção de critérios adequados para o dimensionamento ao cisalhamento. Houve também a padronização do ensaio de argamassa para cubos de 4 cm, com a necessidade de completa caracterização de argamassas não tradicionais (com aditivos ou adição e não somente de cimento, cal e areia).
Outro ponto muito importante foi a padronização dos resultados, considerando sempre a área bruta, o que corrige uma falha grande das normas antigas onde a resistência do bloco era indicada na área bruta e do prisma na área líquida, levando à possibilidade de uma perigosa interpretação errada dos ensaios de controle. A parte 1 é finalizada com dois anexos informativos que introduzem no Brasil conceitos para Verificação de Dano Acidental e Colapso Progressivo e de critérios básicos para dimensionamento em execução de Alvenaria Protendida.
Parte 2
Voltada para a execução e o controle da obra, ela inclui a necessidade de caracterização prévia dos materiais a serem utilizados na obra (bloco, argamassa, graute e prisma), além da unificação em um único texto e revisão dos procedimentos de ensaios fundamentais para caracterização da alvenaria. Essa nova edição acrescenta também um procedimento inédito para controle da resistência a compressão dos elementos em alvenaria utilizados na obra, com parâmetros e requisitos variáveis em função da relação entre a resistência necessária/ especificada no projeto, da variabilidade dos resultados de ensaios e do número de unidades repetidas. Essas alterações têm como objetivo facilitar o controle da qualidade, tornando mais eficiente a sua implantação nas obras.
O grupo da ABNT que atuou na elaboração das normas foi formado pelos seguintes especialistas:
UFSCAR: Guilherme A. Parsekian
EPUSP: Luiz Sérgio Franco
BlocoBrasil: Carlos A. Tauil
Glasser: Davério Rimoli Neto
Arq. Est.: Márcio Santos Faria
ANAMACO: Rubens Morel N. Reis
USP: Márcio A. Ramalho
ABCP: Cláudio Oliveira Silva
LENC-BH: Maria Estânica M. Passos
ABCP-RJ: Guilherme Coelho de Andrade
UFMG: Roberto Márcio da Silva
Universidade Mackenzie: Rolando Ramirez Vilató
Prensil: Renato Daminello
Entrevistado
Guilherme Aris Parsekian, membro de comitês de normas brasileiros (ABNT)
Currículo
– Possui graduação em engenharia civil pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) em 1993
– Tem mestrado, com distinção, em engenharia de estruturas pela Universidade de São Paulo (USP) em 1996
– Possui doutorado em engenharia civil pela Universidade de São Paulo (USP) em 2002, e pós-doutorado pela UFSCar (2002-2006) e pela University of Calgary – Canadá (2006-2008)
– Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal de São Carlos
– É membro do corpo-editorial ou revisor de revistas nacionais e internacionais, como ACI Structural/Materials Journal, Revista Prisma, Revista Ambiente Construído Também é membro de comitês de normas brasileiros (ABNT) e norte-americano (Masonry Standards Joint Committee 2008-2011)
– É Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq – Nível 2
Contato: parsekian.ufscar@gmail.com
Créditos Fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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