Nova norma de cimento altera uma série de normas
Publicação da ABNT NBR 16697 aumenta demanda do CB-018 sobre revisão de documentos relacionados ao Cimento Portland
Publicada em julho de 2018, a ABNT NBR 16697 – Cimento Portland – Requisitos – não está sozinha. Em torno dela orbita uma série de normas técnicas relacionadas ao Cimento Portland. Por isso, o CB-018 (Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto e Agregados) da ABNT está debruçado sobre esses documentos para adequá-los à nova norma de cimento.
Na coordenação de todo esse processo revisional está o gerente de laboratórios da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland), Arnaldo Battagin. Na entrevista a seguir, ele explica as alterações em curso, que começaram em 2015 e que buscam equiparar o cimento e o concreto produzidos no Brasil ao que há de melhor no mundo. Confira:
A ABNT NBR 16607 Cimento Portland – determinação dos tempos de pega – entrou em processo de revisão. Por qual motivo?
A rigor, tanto a norma ABNT NBR 16607 – determinação dos tempos de pega – quanto a norma NBR 16606 – determinação da pasta de consistência normal – entraram em processo de emenda, o que significa consulta à sociedade técnica sobre alterações necessárias, mas pouco expressivas. Explico melhor: a ABNT NBR 16607 tinha a forma de expressão dos resultados em horas e minutos. O que se propõe é que a expressão seja em minutos para compatibilizar com a ABNT NBR 16697 – Cimento Portland – Requisitos. Outra mudança se refere à possibilidade de realização do ensaio em temperaturas no intervalo de (20 °C ± 2), em regiões de clima temperado, o que foi eliminado, prevendo apenas a faixa padrão de (23 °C ± 2), já que ela deixou de ser norma Mercosul. Já para a norma ABNT NBR 16606 se propõe a alteração da figura esquemática do misturador de pasta e argamassa para compatibilizar com a ABNT NBR 7215 – determinação da resistência à compressão também em processo de consulta nacional.
Em função da nova norma de cimento (ABNT NBR 16697 – Cimento Portland – Requisitos), publicada recentemente, outras normas que orbitam em torno dela também devem passar por um processo de homogeneização. Quais seriam?
Sim, isso iniciou ainda em 2015 com as revisões das normas de métodos de ensaio de cimento e com a publicação da norma ABNT NBR 16372 – determinação da área especifica do cimento. Continuou em 2016, com a publicação da norma ABNT NBR 11582 (expansibilidade do cimento), e em 2017, com as ABNT NBR 16605 (massa específica), 16606 (consistência) e 16607 (tempos de pega). Agora, em 2018, está em processo de consulta nacional, além da ABNT NBR 7215, a nova norma sobre a determinação da resistência à compressão do cimento em corpos prismáticos, além da revisão de um conjunto de 13 normas de análises químicas de cimento.
Sobre essa nova norma, que propõe a adoção do método prismático para os corpos de provas, qual o motivo dela ser criada?
Os trabalhos estão praticamente concluídos e o projeto de norma deve entrar em consulta nacional proximamente. A padronização dos métodos de determinação de resistência é uma tendência mundial, tendo países como Inglaterra e Japão mudado sua metodologia para corpos de prova prismáticos, idênticos aos especificados atualmente por todos os países da União Europeia. No âmbito do Mercosul é provável a adoção de uma metodologia de corpos prismáticos em detrimento do método NBR 7215, que adota corpos de prova cilíndricos, uma vez que as normas argentinas e uruguaias já contemplam o uso dos prismáticos. Assim, as relações de importação e exportação podem ser facilitadas com metodologias padronizadas de desempenho do cimento.
Essa mudança (método prismático) permitirá avanços tecnológicos nos laboratórios e uma paridade com sistemas internacionais?
O método prismático apresenta uma série de vantagens sobre o cilíndrico, pois o adensamento mecânico é menos suscetível à influência do operador, repercutindo no resultado do ensaio, o que evita lesões por esforços repetitivos, além de dispensar o capeamento com enxofre. Isso melhora as condições ambientais com diminuição da emissão de gases tóxicos e a exposição do operador. Finalmente, é necessário esclarecer que a mudança na norma de determinação da resistência à compressão do cimento, de corpos de prova cilíndricos para prismáticos, significa mudanças de critérios para avaliar o desempenho do cimento, indubitavelmente acompanhadas de repercussões nos processos produtivos e no mercado. Essa mudança será implantada de forma gradativa, em tempo necessário para a adaptação de equipamentos, metodologias, areia normal etc. Provavelmente, haverá a convivência dos dois métodos por certo período.
“Tendência é que as comissões de estudo da ABNT se tornem permanentes.”
Outra revisão importante a caminho é a que envolve o cimento branco. O que deve mudar?
A comissão de estudo do ABNT/CB-018 (Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto e Agregados), do qual sou coordenador, está propondo a criação de uma nova norma para a determinação da brancura aplicável a cimentos branco e cinza, além da determinação da variação de cor. Os estudos estão inspirados na nova norma espanhola UNE 80117, adaptada às condições brasileiras. Lembra-se que a NM 3, de determinação da brancura, vigente atualmente, remonta à década de 1990, e também foi inspirada na antiga norma espanhola.
Há muitas outras normas que remontam da década de 1990. Isso significa que a comissão que revisou a norma de cimento tende a se tornar uma comissão permanente daqui por diante, para atualizar todas as normas técnicas necessárias?
Essa é uma tendência das comissões de estudo da ABNT, tendo em vista manter atualizado o acervo de normas brasileiras e que, certamente, poderá ser uma diretriz desta comissão de estudo. Pelos dados do último levantamento de que tenho conhecimento, já se atingiu índice da ordem de 90% de atualização e a intenção é manter ou até mesmo elevar esse índice.
Por exigir tanto trabalho, quantas pessoas estão envolvidas na comissão de estudo?
Até o momento, participaram da comissão de estudo mais de 120 pessoas, representando cerca de quarenta e cinco empresas/entidades. Certamente, poucos participam de todas as reuniões, mas vale salientar que os trabalhos de normalização da ABNT são abertos aos interessados, de forma que novos integrantes podem tomar parte, contribuindo para o aprimoramento das normas brasileiras.
Entrevistado
Geólogo Arnaldo Forti Battagin, gerente dos laboratórios da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) e representante da ABCP nas comissões de estudos de normalização da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
Contatos
arnaldo.battagin@abcp.org.br
cb-18@abcp.org.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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