Muro EUA-México consumiria 12,6 milhões de m³ de concreto
Se sair do papel, obra pode custar até US$ 25 bilhões e, comparadas as dimensões, só ficaria atrás da Muralha da China
Se sair do papel, obra pode custar até US$ 25 bilhões e, comparadas as dimensões, só ficaria atrás da Muralha da China
Por: Altair Santos
O muro que Donald Trump promete construir ao longo de 1.600 quilômetros de fronteira EUA e México não é uma obra fácil e, muito menos, barata. Seu custo é estimado entre US$ 15 bilhões e US$ 25 milhões, dependendo da complexidade do projeto. Segundo pesquisa da AllianceBernstein – gerenciadora de fundos de investimentos –, trata-se também de uma construção complexa. Para realmente cumprir a função de impedir a invasão de imigrantes ilegais, o muro deverá ter pelo menos 20 metros de altura. Além disso, as fundações precisarão estar a cinco metros de profundidade para desestimular a escavação de túneis.
Uma comissão instalada no Congresso norte-americano avalia que o maior obstáculo da obra está no preço. Presididos pelo senador republicano Mitch McConnell, os parlamentares foram atrás de dados e compararam a megaobra a outras tentativas de isolar a fronteira com o México. O muro terá que cortar quatro estados – Califórnia, Novo México, Arizona e Texas – e mais da metade será às margens dos rios Grande e Colorado, o que agrega mais dificuldades ao empreendimento. Atualmente, 670 quilômetros da fronteira entre os dois países estão isolados por uma cerca com barras de aço. O projeto foi executado durante o governo de George W. Bush, em 2006, e na época custou US$ 2,4 bilhões.
Junto com a cerca, foi criado também o Secure Fence Act – organismo responsável por controlar a fronteira com o México. Na época, após mapear toda a divisa com o México, o Secure Fence Act sugeriu que se expandisse a construção de cercas para 1.100 quilômetros. No entanto, isso praticamente dobraria o custo do investimento e o Congresso dos EUA não autorizou mais recursos. No caso de uma grande muralha de concreto, a comissão do Senado concluiu que, além do valor da obra, sua manutenção e patrulhamento ainda custariam mais US$ 750 milhões por ano ao governo norte-americano. “Investir nessa obra é usar de forma ineficiente o dinheiro do contribuinte”, disse o deputado republicano do Texas, Michael McCaul, que integra a comissão montada no Congresso.
Maior obra da história
O engenheiro estrutural Ali F. Rhuzkan fez um levantamento, a pedido da consultoria AllianceBernstein, apontando números e dados técnicos sobre a megaobra. Entre eles:
1. O clima de deserto em algumas regiões da fronteira entre EUA e México inviabiliza a concretagem in loco do muro, por oferecer o risco de gerar patologias no processo de cura do material.
2. O ideal é que a obra fosse realizada com concreto pré-fabricado, mas a logística para o transporte e a montagem pode tornar o custo do muro inviável.
3. Estima-se que 12,6 milhões de m³ de concreto sejam empregados na megaobra, além de 4,1 milhões de m³ de vergalhões de aço, o que a tornaria a maior construção da história dos Estados Unidos.
5. É impossível estimar o número de operários e o custo para mantê-los durante a obra.
Na história da humanidade, apenas três muros usando estruturas de pedra e concreto foram erguidos para separar fronteiras. A mais emblemática é a Muralha da China, construída entre 221 a.C e 1664 d.C. Ela mede 8.850 quilômetros e historiadores chineses estimam que a obra custou a vida de cerca de um milhão de pessoas. Em 1961, foi erguido o Muro de Berlim, para separar a Alemanha Ocidental (capitalista) da Alemanha Oriental (comunista). A construção tinha 154 quilômetros de extensão e custou US$ 200 milhões (em valores atuais). Em 9 de novembro de 1989 foi derrubado.
Por fim, o muro separando Israel da Cisjordânia, cuja obra começou em 2002. Até 2016, quase 70% da execução havia sido concluída. A construção abrange 721 quilômetros, tem 8 metros de altura, trincheiras com 2 metros de profundidade e arames farpados e torres de vigilância a cada 300 metros. Placas de concreto pré-fabricado viabilizam a obra, que é a principal referência para o muro EUA México.
Entrevistados
– AllianceBernstein, gerenciadora de fundos de investimentos (via assessoria de imprensa)
– Engenheiro estrutural Ali F. Rhuzkan
Contatos
ir@abglobal.com
a.rhuzkan@gmail.com
Crédito Fotos: Washington Post/ Ali F. Rhuzkan/ EFE
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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