Millennium Tower de São Francisco pode apresentar problemas de recalque

Obras de estabilização da torre, no valor de US$ 120 milhões, foram concluídas, mas problemas continuam

A inclinação do arranha-céu em São Francisco continua preocupando engenheiros e técnicos.
Crédito: Scott Hargis – Bruce Damonte, Handel Architects

O luxuoso edifício Millennium Tower de São Francisco (EUA) está deixando engenheiros alarmados devido à inclinação crescente. Desde a sua inauguração, em 2009, o arranha-céu de 58 andares já recalcou mais de 40 cm e se inclinou cerca de 5 cm ao ano, muito além do esperado.

O projeto, estimado em US$ 350 milhões, compreende duas torres. O maior deles abriga 419 apartamentos, incluindo uma cobertura de US$ 13 milhões e 511 m². A estrutura residencial é a mais alta da cidade, e o problema já causou rachaduras nas calçadas adjacentes. A segunda torre, com apenas 12 andares, também apresenta rachaduras nas paredes do porão.

As razões da manifestação patológica ainda estão sendo levantadas, mas alguns especialistas relacionam com soluções de projetos adotadas em construções próximas associado a um processo chamado de ‘desidratação’, diminuindo a resistência do solo em que a fundação está apoiada. Outros dizem que problemas estruturais são atribuídos ao tipo de fundação inadequada, que não foi fixada no substrato rochoso abaixo da camada de argila.

Na tentativa de impedir que novos deslocamentos e até mesmo sobrecargas estruturais não previstas em projeto, uma grande obra de estabilização, no valor de US$ 120 milhões, foi anunciada em outubro de 2020. Após sua conclusão, e segundo informações da rede de TV americana NBC, a Millennium Tower pode estar sofrendo com recalque na área central. Embora o edifício já não esteja mais afundando nas laterais, os dados mostram que houve apenas cerca de 2,5 cm de reversão de inclinação, um quarto do que estava previsto após as obras.

O engenheiro responsável pela chamada reparação da Millennium Tower, Ronald Hamburger, reconheceu recentemente que houve uma melhoria de inclinação menor do que o esperado durante os primeiros seis meses da conclusão do projeto. O modelo avançado projetado para prever o comportamento da torre previu até dez centímetros de correção de inclinação seis meses depois que o arranha-céu inclinado foi ancorado em dois lados na rocha.

Entretanto, engenheiros externos dizem que os dados sugerem que em vez de afundar nos lados opostos, a torre parece estar afundando mais no centro. “Em todos os edifícios altos, embora a base da fundação possa ser bastante espessa, há uma tendência para este centro assentar mais do que as bordas”, disse Harry Poulos, especialista reconhecido internacionalmente em fundações de edifícios altos, entrevistado pela NBC.

São Francisco, Califórnia, nos Estados Unidos.
Crédito: Envato

Poulos aponta dados de monitoramento que, segundo ele, indicam que a torre está agora se acomodando no centro a uma taxa geral de cerca de um décimo de polegada por ano (cerca de 0,25 cm). “Um décimo de polegada não é muito, mas isso seria um pouco preocupante a longo prazo”, opinou.

Apesar de todos os problemas, os moradores – que foram notificados sobre a situação de afundamento pela primeira vez em 2016 – continuam habitando o edifício. “Visto que prevemos que o ritmo de inclinação continue a diminuir com o tempo e acabe por estabilizar, não prevemos que o edifício algum dia se incline o suficiente para se tornar inseguro“, afirmou Ronald Hamburger à CNN. “Fiz análises que indicam que o edifício pode aguentar pelo menos 180 cm de inclinação para oeste e 75 cm para norte antes que a capacidade de resistência a terremotos fique comprometida”, disse. “Mesmo que esse tamanho de inclinação fosse excedido, o edifício continuaria a ser mais seguro do que a maioria dos edifícios existentes em São Francisco, mas não tão seguro como preconizado pelo atual código dos edifícios”, acrescentou o engenheiro.

Fontes:
TV americana NBC
CNN

Ronald Hamburger é engenheiro civil com mais de 30 anos de experiência em projeto, construção, educação, pesquisa, avaliação, investigação e reparo de instalações comerciais, institucionais e industriais. É um especialista reconhecido internacionalmente em engenharia estrutural, sísmica e de explosão baseada no desempenho, e desempenhou um papel de liderança no desenvolvimento de padrões nacionais de engenharia estrutural e disposições de códigos de construção. É vice-presidente do Instituto de Pesquisa em Engenharia Sísmica nos Estados Unidos.

Harry George Poulos é engenheiro civil australiano, especializado em engenharia geotécnica e mecânica dos solos, conhecido internacionalmente como especialista em comportamento do solo e fundações de estacas. É professor emérito da Universidade de Sidney.

Jornalista responsável:
Fabiane Prohmann – DRT 3591/PR
Vogg Experience

A opinião dos entrevistados não reflete necessariamente a opinião da Cia. de Cimento Itambé.



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