Sim, relâmpagos podem causar danos em edificações

Estruturas que não estejam suficientemente protegidas por para-raios podem sofrer danos, como trincas em vigas e pilares, estimulando patologias

Estruturas que não estejam suficientemente protegidas por para-raios podem sofrer danos, como trincas em vigas e pilares, estimulando patologias

Por: Altair Santos

O Brasil é um dos países com maior incidência de descargas atmosféricas do mundo. Segundo o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Aeroespaciais) o território nacional é atingido anualmente por aproximadamente 50 milhões de raios. Ainda de acordo com o mesmo levantamento, 85% dos relâmpagos atingem estruturas altas, como edifícios, torres, linhas de transmissão e árvores. No caso das edificações, os danos causados pelas descargas chegam a R$ 1 bilhão por ano.

Alexandre Piantini: professor da USP alerta que é preciso seguir normas técnicas para proteger as construções.
Alexandre Piantini: professor da USP alerta que é preciso seguir normas técnicas para proteger as construções.

Portanto, não é mito que relâmpagos podem causar estragos, principalmente em prédios (mesmo os protegidos por para-raios). Os casos mais comuns são trincas profundas em vigas e pilares, abrindo espaço para a corrosão do aço e a deterioração do concreto. É muito comum edifícios serem atingidos por raios e não passarem por inspeção em seus sistemas de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA) após o fenômeno. Isso abre espaço para que uma nova descarga cause ainda mais estragos na edificação.

O alerta é do professor-doutor Alexandre Piantini, líder do Centro de Estudos em Descargas Atmosféricas e Alta Tensão (CENDAT), vinculado à Universidade de São Paulo (USP). O especialista recomenda que a construção de um prédio em uma área com forte incidência de raios preveja em seu projeto proteções reforçadas contra relâmpagos. “Quanto maior a incidência de descargas na região, maior a probabilidade de a estrutura ser atingida”, diz.

Norma revisada

Dependendo da intensidade dos relâmpagos, para-raios podem não conseguir proteger a edificação.
Dependendo da intensidade dos relâmpagos, para-raios podem não conseguir proteger a edificação.

Piantini destaca ainda que, quando uma edificação é atingida por uma descarga, o SPDA deve passar por uma inspeção para se verificar se todos os seus componentes encontram-se em bom estado, com as conexões firmes e livres de corrosão. “Nenhum sistema de proteção tem eficiência de 100%. Portanto, é possível que ocorram danos mesmo que a edificação esteja protegida. Entretanto, é certo que em uma estrutura protegida por um SPDA projetado e instalado de acordo com a norma brasileira (NBR 5419) o risco de danos é mínimo”, afirma.

A norma técnica ABNT NBR 5419:2015 – Proteção de estruturas contra descargas atmosféricas – tem uma nova versão desde o final do primeiro semestre deste ano. Publicada em 22 de maio, está em vigor desde 22 de junho. Com 380 páginas – antes tinha apenas 42 -, a NBR revisada é dividida em quatro partes e tem um capítulo que trata de estruturas de concreto armado atingidas por raios.

No caso do concreto que é alvo de descargas atmosféricas, recomenda-se ficar atento à mudança de coloração com o passar do tempo. Por causa das reações químicas desencadeadas pelos relâmpagos, o material costuma apresentar manchas avermelhadas ou castanho-avermelhadas, o que normalmente configura corrosão na armadura. Os defeitos tornam a estrutura ineficiente, podendo causar trincas, deformações ou patologias mais graves.

Entrevistado
Engenheiro elétrico, e professor-doutor da Universidade de São Paulo (USP), Alexandre Piantini. É líder do Centro de Estudos em Descargas Atmosféricas e Alta Tensão (CENDAT)
Contato: piantini@iee.usp.br

Créditos fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330


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