Quais os desafios para a sustentabilidade do concreto no Brasil?
Para diretor do IBRACON, é necessário buscar novas soluções para chegar ao net zero
Durante a Concrete Show 2023, o engenheiro e diretor do IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto), Carlos José Massucato, lançou um chamado urgente para enfrentar os desafios da sustentabilidade no setor de concreto no Brasil.
“Sustentabilidade é de grão em grão, são pequenas ações que, ao serem somadas, trazem soluções para os nossos problemas. Temos visto diversos desastres causados pelas mudanças climáticas. Se estamos sofrendo – seja de frio ou de calor -, as estruturas também sentem. Não pensar nos efeitos que haverá sobre as infraestruturas pode gerar desastres no futuro”, comenta Massucato.
O engenheiro ainda mostrou um gráfico do Our World Data, que expõe que as emissões anuais de CO2 só crescem. “Não dá para continuar dormindo com esse assunto, isso é fato real, está acontecendo”, alerta.
Sustentabilidade na indústria do cimento e concreto
Durante a sua palestra “Desafios para a Sustentabilidade do Concreto no Brasil”, Massucato mostrou o Roadmap Global do Cimento, que estabelece ações para um futuro net zero. No entanto, o engenheiro destaca o desafio de se fazer algo diferente.
“Na indústria do cimento, fizemos um esforço global, o que fez com que os índices ficassem mais estáveis. No entanto, ainda é preciso fazer algo diferente. Se continuarmos a fazer as mesmas coisas, teremos os mesmos resultados. Há quantos anos estamos aqui patinando em torno dos mesmos números? Tudo bem, sabemos que neste momento há uma guerra na Europa, que traz consequências para o setor de energia, mas temos que dar uma alternativa razoável”, pondera Massucato.
Apesar do desafio global de reduzir as emissões na cadeia do cimento, Massucato lembra que o Brasil é o país com as menores emissões na produção do material. “Nós já dominamos fazer a adição, e produzimos bons concretos dentro dessa lógica”, defende.
Por outro lado, o engenheiro ainda pontua que a indústria do cimento está chegando em seu limite. “Ela pode aumentar o coprocessamento, o uso de combustíveis alternativos ou o uso de adições. Mas, na minha visão, 39% cabe a nós buscar uma solução para redução do cimento e do concreto”, sugere.
Soluções para a indústria do cimento e do concreto
Massucato propõe algumas alternativas para lidar com a sustentabilidade na cadeia do cimento e concreto:
Industrialização
No Brasil, 25% do cimento é destinado para concreteiras, segundo o engenheiro. ”É importante lembrar que 75% não passa por nós. É cimento em saco. Não há tecnologia, nada é feito em cima disso. Na China, em 10 anos, melhoraram bastante este cenário – eles saíram de 12% para 40%. Isso é industrialização. Temos que aumentar a pré-fabricação e temos que usar mais concreto dosado em central. Quando temos o concreto e a argamassa dosados em centrais, há 20 a 30% de redução na emissão de CO2”, afirma Massucato.
Redução de materiais
Massucato aposta no conceito que ele chama de 3C: menos clínquer no cimento, menos cimento no concreto, menos concreto dosado em obra. “É preciso desmaterializar os processos. Isso vale para todos os envolvidos: projetistas, arquitetos, concreteiras, etc”, justifica.
Aumento do Fck
O aumento do Fck (Feature Compression Know), ou Resistência Característica do Concreto à Compressão, também pode trazer impactos às emissões de CO2. “Uma mudança de Fck de 40 MPa para 80 MPa reduz 50% de volume do concreto. A concreteira tem que ser capaz de fazer, assim como os laboratórios tem que medir com qualidade”, aponta Massucato.
Trabalho em conjunto com o aço
Tal como a indústria do cimento, a do aço também luta contra os seus índices de emissões. Portanto, Massucato sugere que ambos os setores sejam capazes de desenvolver um trabalho em conjunto. “Em um trabalho que estamos desenvolvendo na China, fizemos uma mudança no aço de 400 MPa para 500 MPa, e tivemos uma redução de 6 a 8% nas emissões de CO2”, destaca.
Visão holística do projeto
Massucato lembra ainda que à medida em que se aumenta a resistência do concreto e otimiza-se o projeto de maneira eficiente, as emissões de CO2 são reduzidas. “Para um edifício alto, eu posso usar 80 MPa, já para um prédio mais baixo, 25 MPa. Essa visão holística do projeto é extremamente importante”, conclui.
Fonte:
Carlos José Massucato é engenheiro, diretor do IBRACON e coordenador do Comitê de Sustentabilidade IBRACON/ABECE/ABCIC
Contato
Carlos.massucato@massucato.com
Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP
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