Pesquisas sobre “cimento verde” avançam e miram 2050
Na Alemanha, está em processo de implantação a primeira planta-piloto para produzir o material sem a utilização de clínquer
Na Alemanha, está em processo de implantação a primeira planta-piloto para produzir o material sem a utilização de clínquer
O Instituto de Tecnologia de Karlsruhe (KIT), na Alemanha, é um dos principais centros de pesquisa sobre consumo de energia da Europa. Desde 2009, entre seus estudos prioritários está o desenvolvimento de “cimentos verdes”. O objetivo é chegar a um material que gere menor emissão de CO2 e consuma menos quantidade de energia para ser produzido. Os avanços não param. No recente simpósio “O Futuro do Cimento”, que aconteceu em Paris (França), o KIT apresentou seus estudos mais recentes sobre a produção de cimentos que substituem o clínquer pelos hidrosilicatos de cálcio (Celitement®).
A descoberta permitirá produzir cimento com 50% menos consumo de energia, pois a mistura é atingida a 500 °C em vez dos 1.450 °C tradicionalmente necessários para a produção do material. Para o engenheiro químico-chefe do instituto, Peter Stemmermann, as pesquisas estão em evolução e o próximo passo é a construção de uma planta-piloto que permita produzir 100 quilos por dia do novo aglutinante. “Essa produção vai possibilitar realizar a aplicação do cimento em vários tipos de sistemas construtivos, a fim de que o material possa ser produzido em larga escala”, diz o pesquisador.
De acordo com Stemmermann, o “cimento verde” será realidade a partir de 2050. “Atualmente, são produzidas cerca de dois bilhões de toneladas de Cimento Portland por ano, em todo o mundo. Se todas as fábricas do planeta vierem a adotar a tecnologia que estamos desenvolvendo, meio bilhão de toneladas de dióxido de carbono deixaria de ser emitido na atmosfera a cada ano. Isso contribuiria enormemente para a preservação do clima. Mas, obviamente, não estamos falando de uma transformação a curto prazo. Imaginamos que podemos atingir esse cenário a partir de 2050 “, diz.
Além do desenvolvimento tecnológico, o centro de pesquisa da Alemanha também precisa viabilizar economicamente o “cimento verde”. “O caminho para uma implementação de produção em massa é longo. Certamente, exigirá vários anos de desenvolvimento extensivo. As etapas passam por testes exaustivos e pelos processos de certificação, de regulamentação e de normalização. Nossa previsão é de que, no curto prazo, o cimento à base de Celitement® só deverá ser usado para aplicações especiais e totalmente inovadoras. Superadas todas as barreiras, e com a produção em grande escala, o material tende a se tornar viável economicamente para a aplicação na maioria das obras”, prevê o engenheiro químico-chefe do KIT.
No Brasil
No Brasil, no começo desta década, pesquisadores da Escola Politécnica da USP, liderados pelos professores Vanderlei John e Rafael Pileggi, conseguiram produzir um tipo de “cimento verde”, usando uma tecnologia menos complexa que a em desenvolvimento na Alemanha. O que os especialistas brasileiros fizeram foi substituir parte do clínquer por pó de calcário cru superfino. O rearranjo na fórmula do cimento produzido na USP permitiu reduzir a emissão de CO2 em 50%. Atualmente, a tecnologia embrionária ainda encontra-se limitada a estudos acadêmicos.
Entrevistado
Peter Stemmermann, engenheiro químico-chefe do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe (KIT) (via assessoria de imprensa)
Contato: presse@kit.edu
Crédito Fotos: Markus Breig
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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