Mundo se divide em a.C e d.C: antes e depois do concreto
Professor Paulo Helene mostra como emprego do material com armadura de aço, a partir do início do século 20, mudou edificações e cidades
Professor Paulo Helene mostra como emprego do material com armadura de aço, a partir do início do século 20, mudou edificações e cidades
Por: Altair Santos
O professor-doutor Paulo Helene, titular da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) sustenta a tese de que o melhor amigo do homem não é o cachorro – como se convencionou popularmente -, mas o concreto. Ele mostrou o porquê no seminário sobre patologias na construção, promovido entre os dias 18 e 22 de maio pelo departamento de engenharia civil da Universidade Federal do Paraná (UFPR). No evento, o especialista discorreu sobre a história das construções e a evolução das estruturas. Também abordou a mudança pela qual passou a humanidade entre o antes e o depois da invenção do concreto armado.
O material foi patenteado em 1892 na Suíça. É a partir deste ano que o concreto passou a se incorporar às cidades, propiciando transformações na engenharia e na arquitetura, e mudanças radicais na cena urbana. “O concreto criou a arte de projetar e construir estruturas. As obras, antes limitadas à alvenaria estrutural, ganharam novas alternativas geradas pelo concreto armado. As estruturas passaram a não depender mais das paredes de vedação e isso mudou o curso da história. Vieram os prédios com vários pavimentos – isso após a invenção do elevador – e uma série de outras transformações. O concreto armado é umas das grandes invenções que transformaram o século 20”, avalia Paulo Helene.
O professor-doutor da USP afirma também que o concreto armado qualificou a engenharia civil. “Foi na Roma antiga, por volta de mil anos antes de Cristo (1.000 a.C) que nasceu o termo engenheiro. Antes, só havia o arquiteto. E esse profissional, o arquiteto, sempre esteve mais valorizado que o engenheiro, até o surgimento do concreto armado. O concreto passou a exigir especializações da engenharia, para conseguir trabalhar com suas várias resistências, suas várias massas específicas, seus vários módulos. Isso ficou ainda mais evidente após a invenção do concreto protendido, a partir de 1928”, ensina Paulo Helene.
Concreto protendido
O conceituado engenheiro na área de patologias e estruturas entende que o concreto protendido revolucionou o mundo, pois permitiu criar obras para a posteridade. “Se constrói hoje para 200 anos de duração. Por isso que costumo dizer que o concreto é o melhor amigo do homem”, destaca Paulo Helene, que prendeu a atenção dos estudantes de engenharia civil da UFPR ao mostrar todo o seu conhecimento histórico sobre a evolução das construções. “Durante quatro mil anos a humanidade só conheceu madeira, argila, rocha e concreto simples. Esse material, que usava cimento simples, à base de cal e pozolana, foi criado na Roma Antiga e sua obra mais emblemática é o Panteão de Roma”, descreve.
Em sua palestra, Paulo Helene também mostrou que a primeira grande mudança na forma de se construir surgiu em 1750, na época da revolução industrial, quando se começou a usar o aço. “Por quase 150 anos, o aço foi o principal elemento para a construção de prédios, pontes e monumentos, como a Torre Eiffel. Os Estados Unidos, com a Escola de Chicago e o edifício Empire State Building, construído em 1931, foram os grandes propulsores deste modelo construtivo. Já países sul-americanos, que não possuíam siderurgias antes da Segunda Grande Guerra, tiveram que investir no concreto armado para construir os primeiros prédios altos. Por isso, o Uruguai ergueu, em 1925, o primeiro edifício a atingir os 100 metros de altura. Em seguida, no Brasil, o Edifício Martinelli, inaugurado em 1929, alcançou 103 metros. A partir daí, o concreto se transformou no segundo material mais consumido no planeta, depois da água”, resume.
Entrevistado
Engenheiro civil Paulo Roberto do Lago Helene, professor titular da Poli-USP, consultor e diretor da PhD Engenharia
Contato
paulo.helene@poli.usp.br
www.concretophd.com.br
Crédito Foto: Divulgação/PetCivil-UFPR
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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