Mulheres já são mais de 200 mil na construção civil
Em um espaço de 10 anos, presença feminina nos canteiros de obras cresceu cerca de 120%, de acordo com o IBGE
A construção civil está em crise? Para as mulheres, não parece. Elas descobriram um mercado de trabalho positivo nos canteiros de obras e já são mais de 200 mil atuando no país. O mercado para as mulheres no setor cresceu cerca de 120% de 2007 até o primeiro semestre de 2018, segundo os dados mais atuais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2007, existiam 109.006 trabalhadoras registradas. Em 2018, são 239.242.
O que explica esse avanço pode estar relacionado com o desemprego gerado pela lei das domésticas, de 2015, mas também pelo fechamento de vagas em outras áreas, como o de serviços, comércio e alimentação. Para conseguir trabalho, as mulheres buscam cursos profissionalizantes e hoje já rivalizam com os homens em três ocupações: azulejista, pintura e eletricista.
Também existem no país vários programas que estimulam a capacitação das mulheres. Dois exemplos: no Rio de Janeiro, o projeto Mão na Massa já capacitou mais de 1.500 profissionais. No Rio Grande do Sul, a ONG Mulher em Construção colocou mais de 4 mil profissionais para atuar em funções como pedreiras, azulejistas, pintoras, eletricistas e ceramistas. A justificativa de quem contrata é que as mulheres são mais precisas e têm mais foco nos detalhes, principalmente em operações de acabamento.
A mão de obra feminina na construção civil também está beneficiada pelos avanços tecnológicos no canteiro de obra, que cada vez mais dispensa a força física e privilegia a qualificação profissional. Além disso, alguns estados possuem leis que estabelecem cotas para mulheres na construção civil. O pioneiro é Minas Gerais, que desde 2015 reserva 5% das vagas para trabalhadoras em obras públicas.
Próximas barreiras a serem vencidas são salário e cargos de gestão
Porém, as mulheres seguem ganhando menos. Até mesmo as mais qualificadas. Engenheiras civis, por exemplo, têm média salarial de R$ 8,1 mil contra R$ 10 mil que são pagos aos homens que desempenham função semelhante. Esse não é um fenômeno exclusivo do Brasil ou da construção civil, mas global. Em todo o mundo, segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a renda das mulheres é menor que a dos homens. No Brasil, há funções em que a diferença chega a 42,7% do salário pago aos homens.
Mas há exceções. Na cidade de Joinville-SC, de acordo com dados do Observatório da Indústria Catarinense, vinculado à FIESC, as mulheres na construção civil têm salário médio superior aos dos homens: R$ 2.161,00 ante R$ 1.948,00. Um dos fatores é o grau de escolaridade das trabalhadoras. Na cidade catarinense, 79,4% das que atuam nos canteiros de obras possuem ensino básico completo. Entre eles, esse percentual é de 54,9%.
A barreira que as mulheres ainda não conseguiram romper na construção civil está nos cargos de gestão. Poucas ainda ocupam funções decisivas nas empresas ligadas ao setor e isso pode estar relacionado ao fato de que, nas escolas de engenharia do Brasil, elas ainda são minoria. Representam 30% dos acadêmicos, mas o índice de evasão entre as mulheres é bem menor que o registrado entre os homens. Entre as estudantes, 15% não finalizam a graduação contra 25% dos homens, de acordo com dados do Ministério da Educação (MEC).
Entrevistado
Reportagem com base em dados do IBGE, do Ministério do Trabalho, do Ministério da Educação e da CBIC
Contato: comunica@ibge.gov.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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