Industrialização pode ajudar a reduzir o déficit habitacional
Segundo Ibre/FGV, apenas 34,6% das empresas fazem uso de sistemas pré-fabricados em suas obras
O déficit habitacional no Brasil foi estimado em 5.876.699 domicílios em 2019, segundo os últimos dados divulgados pela Fundação João Pinheiro (FJP). Na pandemia, entretanto, esse índice parece ter aumentado. Em entrevista ao Massa Cinzenta, Renato de Sousa Correia, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), apontou que é preciso reduzir o déficit habitacional de quase 7 milhões de famílias sem moradia digna.
Durante o encontro entre a CBIC, a Caixa Econômica Federal e a Secretaria Nacional de Habitação (SNH) em julho de 2023, a industrialização do setor da construção foi apontada como ferramenta para contribuir com a resolução do déficit habitacional.
No evento, Inês Magalhães, vice-presidente de Habitação da Caixa, lembrou que a quantidade de unidades previstas para minimizar este índice nos próximos 20 anos é de cerca de um milhão de habitações por ano. Por isso, ela vê a necessidade de uma maior escala de produção.
- Brasil busca modelo de industrialização do concreto
- Industrialização do concreto tem novas normas. O que muda?
- Industrialização do concreto chegará a US$ 130 bi até 2025
O tema também fez parte do Seminário Industrialização da Construção Residencial, promovido pelo Sindicato da Construção Civil do Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS) e Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA-RS). Roberto Sukster, vice-presidente do Sinduscon-RS, ressaltou a importância de um esforço coletivo de toda a cadeia produtiva para tornar a construção industrializada uma realidade concreta. O presidente da Asbea-RS, Vicente Brandão, lembrou que a projeção do déficit habitacional para 2030, segundo um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), é de 30,7 milhões de unidades. “Além de vontade política, é preciso muita agilidade no enfrentamento deste gargalo social”, pontuou Brandão.
Uma das vantagens deste sistema é que ele reduz tempo de obra em até 70%, além de diminuir a quantidade de resíduos produzidos. De acordo com Ricardo Brito, diretor de Engenharia da Callabrez, a industrialização consiste na utilização de sistemas construtivos que utilizam menor número de materiais e poucos processos.
“Quando falamos em robotização ou digitalização isso vem desde a parte de projeto, passando pela execução e pela montagem. Industrializar efetivamente é quando estamos construindo offsite. Nós temos a planta, nós trabalhamos com as peças prontas na planta e trazemos para a montagem em canteiro. À medida em que a robotização avança, os processos de montagem começam a ficar muito mais seguros e eles passam a ser monitorados por drones e a fazer a operação dos guindastes com muito mais tecnologia envolvida. No projeto, a décima dimensão do BIM é a industrialização. Com relação à sustentabilidade, a industrialização tem um papel preponderante em relação à neutralidade de carbono”, afirmou a engenheira Íria Doniak, presidente executiva da Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (Abcic) e vice-presidente da Federação Internacional do Concreto (fib) na gestão 2023-2024 durante o evento Concrete Show 2023.
Entraves para industrialização da construção civil
No Brasil, ainda existem diversos desafios relacionados à industrialização. “Temos um mercado imenso para crescer com sistemas construtivos industrializados. As barreiras não são de natureza tecnológica – elas são referentes a questões tributárias, de financiamento (ainda demasiadamente longos), entre outros. Mas estes desafios estão sendo vencidos justamente porque estão sendo atropelados pela demanda da neutralidade de carbono. Não vai existir outra forma de desmaterializar a não ser utilizar o concreto de uma forma mais inteligente do que aquela que utilizamos hoje”, argumenta Íria.
“Nós precisamos trabalhar para mudar as políticas públicas no sentido de desenvolver projetos, como o Minha Casa Minha Vida, utilizando construção industrializada, como forma de reduzir a autoconstrução que gera muito desperdício. Temos muito potencial para crescer com relação a isso. Há vários sistemas construtivos que estão sendo desenvolvidos, como paredes de concreto pré-moldadas, alvenaria estrutural, entre outros. Com o déficit residencial que nós temos hoje, cabe ao Governo incentivar o uso de boas técnicas neste programa habitacional”, destacou Julio Timerman, vice-presidente do Instituto Brasileiro do Concreto (Ibracon), durante o Concrete Show 2023.
Uma pesquisa conduzida pela FGV IBRE em abril de 2023 com empresas do setor de construção no país apresentou uma visão bastante desfavorável com relação ao uso de pré-fabricados: somente 34,6% das empresas incorporam este tipo de tecnologia em seus projetos. O desempenho mais positivo é observado entre as empresas que se dedicam a Edificações Não Residenciais, alcançando 47,7%. Mesmo entre as empresas que adotam abordagens industrializadas, apenas 24,5% empregam essas técnicas em mais da metade de suas empreitadas.
De acordo com artigo da FGV “Construção: produtividade e modernização”, de Ana Maria Castelo, Iuri Viana e Carlos André Vieira, dentre os aspectos que dificultam a industrialização estão a qualificação da mão de obra, o custo do financiamento e a estrutura tributária que onera mais a aquisição de insumos industrializados, deixando a produção no canteiro menos onerosa do ponto de vista tributário. Segundo o artigo, no Brasil, há uma relação importante da questão da baixa produtividade na construção civil com os baixos níveis de utilização de processos industrializados.
A construção que lida com a parte fabril tem um entrave grande que é a questão dos impostos – tanto a produção fabril quanto a do canteiro de obras terão uma questão de taxação maior. “É muito difícil ver este tipo de construção ficar muito mais barata do que aquelas feitas com os sistemas construtivos tradicionais. Ainda existe uma questão logística importante – há um processo de fábrica que demora muito mais tempo e que precisa ser transportado para o canteiro de obras e esta montagem é muito rápida. Necessariamente, há este descompasso, no qual o tempo de produção é muito diferente”, explica Daniela Dietz Viana, professora adjunta do Departamento Interdisciplinar da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atuando no curso de Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia, com foco nas disciplinas da terminalidade de Engenharia de Serviços.
Para Daniela, uma das formas de entender este entrave é a questão do objetivo da construção. “Se o proprietário tem um ganho muito grande com esta questão do tempo, vai valer a pena gastar mais no produto e ganhar no tempo para ele ficar pronto. Há casos famosos de escolas e hospitais que foram desenvolvidos com esta tecnologia modular e tinham essa necessidade de serem produzidos de forma muito rápida”, aponta.
Íria e Timerman apontaram durante o Concrete Show 2023 que atualmente existe uma dificuldade com relação à mão de obra, uma vez que os jovens hoje estão mais interessados na tecnologia. “Trabalhar a indústria para qualificar e reter a mão-de-obra num ambiente industrial acaba sendo mais fácil e também conseguimos produzir mais com menos em todos os sentidos – tanto dos recursos materiais quanto dos recursos humanos”, conclui Íria.
Fontes:
Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)
FGV IBRE
Caixa Econômica Federal
Sindicato da Construção Civil do Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS)
Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA-RS)
Ricardo Brito é diretor de Engenharia da Callabrez
Daniela Dietz Viana é professora adjunta do Departamento Interdisciplinar da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atuando no curso de Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia, com foco nas disciplinas da terminalidade de Engenharia de Serviços.
Contatos
CBIC: imprensa@cbic.org.br
FG IBRE: assessoria.fgv@insightnet.com.br
Caixa Econômica Federal: imprensa@caixa.gov.br
Sindicato da Construção Civil do Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS): sinduscon@sinduscon-rs.com.br
Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA-RS): asbea@asbea.org.br
Assessoria de imprensa Callabrez – boncomunica@gmail.com
Daniela Dietz Viana: dietz.viana@ufrgs.br
Abcic – sylvia@meccanica.com.br
Ibracon – fabio@ibracon.org.br
Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP
Cadastre-se no Massa Cinzenta e fique por dentro do mundo da construção civil.
Cimento Certo
Conheça os 4 tipos de cimento Itambé e a melhor indicação de uso para argamassa e concreto.
Massa Cinzenta
Cooperação na forma de informação. Toda semana conteúdos novos para você ficar por dentro do mundo da construção civil.
15/05/2024
MASP realiza o maior projeto de restauro desde a sua inauguração
MASP passa por obras de restauro em suas estruturas. Crédito: Assessoria de Imprensa / MASP Quem passa pela Avenida Paulista vem notando uma diferença significativa na…
18/12/2024
Obras da Linha 2 do Metrô de Belo Horizonte foram iniciadas
Em setembro de 2024, tiveram início as obras da Linha 2 do Metrô de Belo Horizonte. Com uma extensão de 10,5 km e sete novas estações, a linha conectará a Estação Nova Suíça ao…
18/12/2024
Construção civil deve encerrar com crescimento de 4,1% em 2024 e superar a média nacional do PIB
O ano de 2024 marcou um período de crescimento expressivo para a construção civil no Brasil. Segundo o IBGE, o setor cresceu 4,1% no acumulado dos três primeiros trimestres,…
18/12/2024
Prêmio CBIC de Inovação e Sustentabilidade bate recorde de inscrições com projetos que transformam o setor da construção
A 25ª edição do Prêmio CBIC de Inovação e Sustentabilidade alcançou um marco inédito, com 101 inscrições de projetos que propõem soluções inovadoras e sustentáveis para a…
Cimento Certo
Conheça os 4 tipos de cimento Itambé e a melhor indicação de uso para argamassa e concreto.
Use nosso aplicativo para comparar e escolher o cimento certo para sua obra ou produto.
Cimento Portland pozolânico resistente a sulfatos – CP IV-32 RS
Baixo calor de hidratação, bastante utilizado com agregados reativos e tem ótima resistência a meios agressivos.
Cimento Portland composto com fíler – CP II-F-32
Com diversas possibilidades de aplicações, o Cimento Portland composto com fíler é um dos mais utilizados no Brasil.
Cimento Portland composto com fíler – CP II-F-40
Desempenho superior em diversas aplicações, com adição de fíler calcário. Disponível somente a granel.
Cimento Portland de alta resistência inicial – CP V-ARI
O Cimento Portland de alta resistência inicial tem alto grau de finura e menor teor de fíler em sua composição.
Cimento Certo
Conheça os 4 tipos de cimento Itambé e a melhor indicação de uso para argamassa e concreto.
Use nosso aplicativo para comparar e escolher o cimento certo para sua obra ou produto.