Fenômenos climáticos exigem cuidados na construção
Será que as edificações do nosso país estão preparadas para suportar os fenômenos atmosféricos como os que estão acontecendo?
Será que as edificações do nosso país estão preparadas para suportar os fenômenos atmosféricos como os que estão acontecendo?
Créditos: Engº. Carlos Gustavo Marcondes Assessor Técnico Comercial Itambé
Em março de 2004, a população de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul se depararam com um fato inédito no Brasil. O primeiro ciclone tropical do Atlântico Sul, com rajadas de ventos de até 180 km/h, o que o classificou na categoria 2 da escala Saffir-Simpson.
A escala indica o potencial de destruição de um furacão levando em conta a pressão mínima, o vento e a ressaca causada pela tormenta. Os fenômenos são classificados em categorias que variam de 1 a 5. Na primeira categoria os ventos variam de 118 km/h a 152 km/h e não causam danos a estruturas de construções, mas podem arrastar arbustos e árvores e também podem causar pequenas inundações em vias costeiras e pequenos danos em marinas. Já a categoria 5 causa danos catastróficos, com ventos superiores a 250 km/h.
Pesquisas indicam que os ciclones sobre o Atlântico serão cada vez mais frequentes, além disso, grandes inundações também se tornaram comuns no Brasil. De acordo com um estudo feito pelo norte-americano James Biles, da Universidade de Indiana, e pelo argentino Daniel Cobos, da Universidade Nacional de Cuyo, a América Latina é uma das áreas mais expostas a desastres naturais. Nos últimos 10 anos, eles resultaram na morte de 45 mil pessoas e causaram prejuízos de US$ 20 bilhões.
Em resposta aos fenômenos climáticos que têm acontecido, tais como ciclones, avalanches, terremotos e enchentes, engenheiros e arquitetos se perguntam: Como construir para resistir a estes efeitos? Quais os cuidados que devem ser adotados desde a concepção do projeto até a escolha do sistema construtivo?
Práticas para minimizar os efeitos de uma catástrofe:
– Jamais construa em áreas de risco tais como: margens de rios, áreas sujeitas a inundações e deslizamentos, sob encostas de morros, etc.
– Ao construir, consulte o código de obras do município. Um bom código de município aborda as áreas que representam riscos de construção e não irá liberar alvará para que se construa nestas áreas, minimizando assim o risco de morte causado por deslizamentos, por exemplo.
– A edificação deve estar de acordo com as normas técnicas construtivas.
– Em áreas sujeitas a vendavais, as telhas precisam ser fixadas ao telhado, porque caso se desprendam se convertem em verdadeiras armas, já que podem se deslocar a grande velocidade. Existem sistemas que resistem a ventos de até 200 km/h. A norma brasileira pede resistência de até 144 km/h.
– A estrutura do telhado deve ser reforçada, já que a massa de ar incidente contra a estrutura forma vácuo causando destelhamento e por isso a estrutura deve estar suficientemente presa, com o uso de travamento de vigas e estas por sua vez devem estar bem aderidas aos pilares das moradias. Portanto, estruturas de madeira simples não são as mais indicadas para estas regiões.
– As portas e janelas devem ser bem lacradas, para não permitir o aumento da pressão interna na moradia. Janelas pequenas e em maior número poderiam ser uma solução, pois assim se manteria a mesma área de janela e minimizaria os riscos de quebras e acidentes, já que são alvos de pedras. Outra opção seria usar janelas mais resistentes e com malhas de aço.
– Casas com estruturas de concreto armado são melhores que de madeira, pois resistem mais e melhor à queda de árvores ou impactos de objetos com pesos significativos.
– Existem projetos com design de que devido ao formato resistem melhor a fortes vendavais, por isso deve-se consultar um arquiteto antes de construir nestas áreas.
– Em áreas sujeitas a inundações, as casas devem ser projetadas mais altas (montadas sobre pilares) e as fundações por sua vez devem ser melhoradas.
– No caso de terremotos a maneira mais eficiente de reduzir os danos é melhorar a resistência das edificações, por meio de pilares e vigas mais resistentes, ou utilizando-se um sistema construtivo (alvenaria estrutural, por exemplo) capaz de absorver melhor as deformações.
– A estrutura da edificação deve ser constantemente inspecionada a fim de investigar pontos frágeis (corrosões, cupim ou podridão no madeiramento).
– Prever a correta manutenção da residência, o que inclui uma simples pintura da edificação que impermeabilizará melhor a parede prolongando a vida útil da edificação.
– Chame sempre um especialista da área ao menor sinal de problemas na edificação a fim de adotar corretas práticas para remediar ou recuperar a estrutura.
Mas não é somente o poder privado que deve adotar práticas para minimizar os efeitos de uma catástrofe, o poder público também pode e deve colaborar. Seguem alguns exemplos:
– Adotar maior rigor ao liberar alvará de projetos de moradias.
– Utilizar tubulações de água e esgoto mais resistentes, pois além de conferirem maior durabilidade ao sistema, representam menor risco de alagamentos e infecções por contaminação de água pública devido à danificação da rede, o que também pode causar propagações de doenças como leptospirose etc.
– Estudar a possibilidade de utilizar fios de alta tensão subterrâneos, pois atualmente são comumente elevados, podendo causar danos maiores caso caiam, além de representar risco às pessoas devido a choque elétrico.
Aprimorar a qualidade das construções pode ser uma boa maneira de se evitar novas tragédias, contudo, sabe-se que as características das moradias que resistem a estes efeitos climáticos não apenas contemplam alguns cuidados ou o uso de novas tecnologias, mas também o acréscimo de elementos que antes não se via como quartos especialmente desenvolvidos para armazenar fontes de energia, alimentos, kits de primeiro socorros e água.
Embora isto torne a construção mais cara, estas melhorias continuam sendo desenvolvidas e aplicadas devido ao clamor dos próprios compradores. Atualmente existe inclusive uma recomendação da Organização das Nações Unidas (ONU), para que os países desenvolvam moradias que suportem fenômenos meteorológicos severos. E não obstante, o quarto informe do grupo intergovernamental de especialistas sobre a mudança climática, vinculado à ONU, alertou para o aumento de ciclones e furacões devido à elevação da temperatura no planeta, bem como para o fato de que o nível do mar poderá subir até um metro antes do final deste século.
De qualquer maneira, mesmo alterando as normas construtivas, edificações mais antigas continuarão existindo, pressupondo todos os riscos a elas envolvidos.
Assim nota-se que é praticamente impossível se proteger de desastres naturais o que nos remete à prevenção, por meio da conscientização da população para que se construa utilizando as melhores práticas e, além disso, aperfeiçoando sistemas de previsões do tempo e orientando a população exposta sobre como reagir em caso de perigo.
Jornalista responsável Altair Santos MTB 2330 Vogg Branded Content
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