Conheça o prédio que sobreviveu à explosão no Líbano
Stone Garden foi construído com métodos utilizados pela engenharia durante a guerra civil no país
A explosão que atingiu Beirute no dia 4 de agosto de 2020 impressionou o mundo. Um depósito com 2.750 toneladas de nitrato de amônio foi aos ares e arrasou a região portuária e central da capital do Líbano em um raio de 14 quilômetros. Em meio aos escombros e um saldo de 202 mortes e mais de 6.500 feridos, uma edificação se destacou por ter se mantido intacta, apesar de estar no epicentro da catástrofe. O prédio residencial Stone Garden, com 13 pavimentos e localizado a pouco mais de 1.500 metros do local da explosão, não sofreu nenhum abalo em sua estrutura e nem em sua fachada.
Os danos se limitaram aos componentes envidraçados das janelas, o que impressionou a comunidade mundial da construção civil. Projetado pela arquiteta franco-libanesa Lina Ghotmeh, o edifício resistiu por duas razões: o conceito arquitetônico, que criou um efeito aerodinâmico capaz de suportar o grande deslocamento de ar causado pela explosão, e as paredes de concreto construídas de forma quase artesanal. O revestimento externo do prédio, com efeitos de estrias ao longo de seus 54.000 m2, também contribuiu para poupá-lo de maiores danos. O acabamento do Stone Garden utiliza uma mistura de argamassa, cimento pigmentado e cascalho.
A ideia para revestir o edifício veio do avô de Lina Ghotmeh, que foi fabricante de concreto no Líbano e forneceu material para erguer casas e prédios no período em que o país enfrentou a guerra civil, que durou de 1975 a 1990. “Construir edifícios que ficassem em pé em meio às explosões era a principal prioridade naquela época”, diz a arquiteta, que ao longo de sua carreira também ajudou a reconstruir várias edificações que ficaram em ruínas por causa dos bombardeios. Por isso, ela e sua equipe de engenheiros civis aprenderam não só a recuperar construções como a projetar estruturas reforçadas de concreto armado, como a que sustenta o Stone Garden.
Espessa camada de argamassa na fachada protege edifício de patologias do concreto
O edifício foi inaugurado em abril de 2020, com um dos metros quadrados mais caros de Beirute: 4.700 dólares. Suas paredes estruturais foram projetadas para ter 10 centímetros de espessura e mais 35 centímetros de revestimento externo. Segundo a arquiteta Lina Ghotmeh, a argamassa que reveste o prédio não possui apenas função estética, mas tem a tarefa de cumprir os desempenhos térmico e acústico com grande eficácia. Outro objetivo é proteger o prédio de patologias do concreto, como a oxidação das armaduras causada pela penetração de cloretos provenientes da maresia.
Internamente, os apartamentos conservam o estilo de concreto aparente, enquanto as paredes de vedação foram erguidas com blocos maciços de concreto. As fôrmas para a concretagem foram montadas com madeiras rústicas, a pedido da arquiteta, que também fez questão de que a espessa camada de argamassa fosse assentada exclusivamente por trabalhadores, dispensando o uso de máquinas. As estrias desenhadas na fachada foram feitas manualmente, com o uso de cinzéis. “Quis evitar qualquer processo industrial para a construção da fachada. Os trabalhadores que atuaram na obra foram verdadeiros artesãos”, finaliza a arquiteta do edifício que sobreviveu à tragédia no Líbano.
Entrevistado
Lina Ghotmeh Architecture (via assessoria de imprensa)
Contato
contact@linaghotmeh.com
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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