Concreto cicatrizante mostra eficácia em obras especiais

Material protagoniza pesquisas há 25 anos e uso é cada vez maior em projetos que exigem resistência e durabilidade

Complexo de túneis da rodovia Régis Bittencourt, na região da serra do Cafezal, em São Paulo, usa a tecnologia autocicatrizante através de aditivos Crédito: Governo de SP
Complexo de túneis da rodovia Régis Bittencourt, na região da serra do Cafezal, em São Paulo, usa a tecnologia autocicatrizante através de aditivos
Crédito: Governo de SP

Ainda que esteja em fase de pesquisa, com grande concentração de estudos em várias universidades espalhadas pelo mundo – incluindo as do Brasil -, o concreto cicatrizante já mostra eficácia em obras especiais. Nos Estados Unidos e na Europa, pontes pequenas, com até 200 metros de extensão, recebem aplicação de overlay de concreto com 5 centímetros de espessura, sem juntas de dilatação, graças ao uso de fibras e bactérias que autorregeneram o material. 

No Japão, estruturas pré-fabricadas usadas em obras de saneamento básico, e em ambientes agressivos, também usam a tecnologia autocicatrizante através de aditivos. No Brasil, a mesma técnica já foi usada na construção de túneis graneleiros na região do porto de Santos-SP e no complexo de túneis que fazem parte da duplicação da rodovia Régis Bittencourt, na região da serra do Cafezal, em São Paulo. As obras dos museus MIS (Museu da Imagem e do Som) e MAR (Museu de Arte do Rio), ambos na cidade do Rio de Janeiro, também utilizam aditivos semelhantes aplicados em concretos produzidos com cimento CP V-ARI e CP III 40 RS

Os relatos são do engenheiro civil Emílio Takagi, que palestrou recentemente no 4º Simpósio Paranaense de Patologia das Construções. Antes de participar do evento promovido pela UFPR, Takagi esteve no 7º Congresso Internacional de Materiais Autocicatrizantes, que aconteceu em Yokohama, no Japão. Lá, viu “in loco” as recentes pesquisas sobre a 6ª geração de concretos cicatrizantes, e que devem chegar ao mercado em 2021. Entre elas, o concreto de ultra-alta durabilidade e as nanocerâmicas.

Para Takagi, o material tornou-se protagonista nos centros de pesquisas voltados para a construção civil. “Os estudos sobre concreto cicatrizante têm 25 anos e avançam muito rapidamente, principalmente depois de 2005, quando foi criado o comitê técnico para estudar concreto cicatrizante, instalado pela RILEM (do francês Réunion Internationale des Laboratoires et Experts des Matériaux, systèmes de construction et ouvrages) [União Internacional de Laboratórios e Especialistas em Materiais, Sistemas e Estruturas de Construção])”, diz.

A prova de que o material e seus subprodutos evoluem é que em Yokohama foi apresentado um aditivo cristalino antimicrobiano de 4ª geração para ser aplicado no concreto cicatrizante. Ele permite reparar áreas maiores, já que a principal função da autocicatrização é regenerar trincas e fissuras, preenchendo os vazios e mantendo a integridade do concreto.

Inovações são proporcionais ao número de universidades que pesquisam o concreto cicatrizante

Emilio Takagi: mestre do ITA foi o primeiro brasileiro a se envolver em pesquisas de concreto cicatrizante Crédito: SPPC/UFPR
Emilio Takagi: mestre do ITA foi o primeiro brasileiro a se envolver em pesquisas de concreto cicatrizante
Crédito: SPPC/UFPR

O volume de inovações é proporcional ao número de universidades que se dedicam a pesquisar esse tipo de concreto. Estados Unidos, Canadá, Japão, China, Inglaterra, Alemanha, França, Bélgica e Holanda possuem laboratórios que estudam exclusivamente os processos de cicatrização do concreto.  No Brasil, o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) foi pioneiro, através de Emilio Takagi, mas universidades como PUC-MG, McKenzie, Unisinos, UFRGS, UEL, UnB e as federais de Taubaté-SP, Criciúma-SC, Sorocaba-SP e Poços de Caldas-MG também têm núcleos de pesquisa do material.

Takagi avalia que o Brasil dará um grande passo rumo ao desenvolvimento do concreto cicatrizante quando tiver uma norma técnica exclusiva para o material. Ele também avalia que o estudo desse tipo de concreto se tornará cada vez mais multidisciplinar. “Não se trata de um campo exclusivo da engenharia. Acredito que, no futuro, biólogos poderão trabalhar nas usinas de concreto para controlar o volume de bactérias regenerativas inseridas nos agregados”, prevê. 

Entrevistado
Reportagem com base na palestra do engenheiro civil e mestre em ciências pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Emilio Minoru Takagi, no 4º Simpósio Paranaense de Patologia das Construções

Contatos
sppc.ufpr.civil@gmail.com
etakagi@ita.br

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330



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