CBIC elege Renato Correia como novo presidente; confira entrevista
Dentre os desafios do novo mandato estão combater a informalidade e aumentar os investimentos no setor
O engenheiro Renato de Sousa Correia foi eleito em maio de 2023 como o novo presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) para o próximo triênio (2023-2026). Antes de assumir o cargo, em 1º de Julho de 2023, ele exercia o segundo mandato consecutivo de vice-presidente da Região Centro-Oeste da CBIC.
Para a sua gestão, ele pretende continuar com o foco no planejamento estratégico adotado nos últimos anos pela entidade. Confira a entrevista completa com o novo presidente da CBIC.
Quais são os principais planos e desafios para seu mandato?
Renato Correia: A indústria da construção é um setor muito relevante para a economia do país. Grande gerador de emprego e renda, leva bem-estar e qualidade de vida aos brasileiros. Mas precisamos avançar sempre. A CBIC e toda sua base de associações vêm focando sua atuação em melhorar o ambiente de negócios, levar previsibilidade, simplificação e segurança jurídica ao setor. Além disso, é fundamental reforçarmos nossas ações para combater a informalidade e aumentar os investimentos no setor para atender as necessidades da população com saneamento, habitação, estradas, escolas, creches. A construção é para as pessoas.
A CBIC tem um legado, é uma entidade séria e comprometida com o Brasil, com a sociedade, com a melhoria das empresas, dos processos e do bem-estar social. Colocar nosso serviço a serviço dos brasileiros é o que a CBIC faz.
Você afirmou que habitação e saneamento não se resolvem sem uma indústria da construção adequada. Quais são os planos da CBIC neste sentido?
Renato Correia: A principal ação é fazer com que poder público e iniciativa privada caminhem de forma integrada na resolução dos gargalos de moradia e saneamento. É inaceitável que 100 milhões de brasileiros não tenham acesso a coleta de esgoto. Também é preciso reduzir o déficit habitacional de quase 7 milhões de famílias sem moradia digna. São demandas importantes e nós somos instrumento de solução para isso.
Durante a discussão do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida no Congresso, a CBIC levou uma série de sugestões técnicas no sentido de melhorar e dar eficiência ao programa, por exemplo, dar condição de valor, assegurar que as empresas vão receber, ter continuidade, segurança jurídica. Grande parte das sugestões foi acatada, pois levamos a experiência do setor, de quem atua no dia a dia e sabe os desafios e as oportunidades.
Precisamos que o poder público destine recurso para isso, que consiga utilizar de forma eficiente e que, de forma especial, proteja o FGTS. O FGTS foi criado como forma de proteger o trabalhador em caso de demissão, para que ele tenha uma subsistência nesse período adverso, e para financiar habitação e saneamento. Mas, à medida em que se retira para outras funções, em que pese ser necessário atender a população, essa reserva patrimonial é reduzida. É como se vendesse a janela da casa para atender o consumo imediato. Não é o melhor para a família e nem é o melhor para população brasileira.
A sustentabilidade é uma das grandes questões da construção civil atualmente. Quais avanços a CBIC pretende conquistar nessa área?
Renato Correia: A CBIC tem fomentado bastante o tema da sustentabilidade. Trabalhamos muito a conscientização do setor, para que todos se envolvam e se compreendam como parte do processo. A construção tem grande responsabilidade nas emissões de carbono, por exemplo, e assumimos o compromisso de trabalhar para amenizar os efeitos do processo construtivo ao meio ambiente. Temos trabalhado bastante temas que agregam alternativas com menos emissão de carbono do setor. É o caso da construção com madeira engenheirada, que traz ganhos ambientais e deixa os canteiros mais limpos e sustentáveis. Também temos feito parcerias importantes e a IFC (International Finance Corporation, braço do Grupo Banco Mundial) é uma delas por financiar construções sustentáveis, edifícios verdes. Essas são algumas iniciativas e que serão reforçadas cada vez mais com as práticas ESG.
O Minha Casa, Minha Vida é um dos principais projetos do governo atual e recentemente anunciou uma ampliação para atender famílias de classe média. Como você vê esse movimento? Quais as sugestões da CBIC para o programa?
Renato Correia: O movimento de ampliação do programa é muito positivo, inclusive sugerimos ao governo essa iniciativa. Todas as nossas sugestões foram no sentido de melhorar e de dar eficiência ao programa, como dar condição de valor, adequar o teto, dar segurança às empresas, garantir a continuidade do programa. O que queremos é que a moradia chegue à ponta, que as pessoas possam ter uma habitação de qualidade. A habitação é a porta de entrada de todos os outros direitos do cidadão.
Você comentou que para atender a demanda da sociedade é preciso um ambiente de negócios adequado e isso passa pela melhoria da legislação. Na sua opinião, quais leis precisariam de melhoria?
Renato Correia: Temos um acompanhamento intensivo dos projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional. São centenas de propostas que acompanhamos e fazemos uma atuação direta, tanto em Brasília quanto nos estados, com nossos associados. A indústria da construção é uma atividade pujante, longa e que acaba sendo atingida e impactada por muitos projetos. Destaco a Reforma Tributária, que é um tema desafiador e que precisa caminhar no sentido de alavancar o crescimento do país e promover maior igualdade social. O Brasil precisa se modernizar, simplificar e trazer uma tributação mais justa para toda a economia, permitindo que tenhamos um ambiente propício para o desenvolvimento, com menos burocracia e mais eficiência.
Tem havido muitos debates no setor de construção civil em relação à tecnologia e inteligência artificial. Quais avanços devemos ter nos próximos anos? Como a CBIC vê esta questão?
Renato Correia: A inteligência artificial tem ganhado espaço em todas as atividades econômicas e na construção não tem sido diferente. A IA tem tido papel importante em etapas como na modelagem e design, inclusive considerando fatores como sustentabilidade, eficiência energética e otimização de espaços; na automação da construção, deixando o processo mais eficiente e seguro; e no gerenciamento de projetos e planejamento, pela capacidade de analisar um grande volume de dados.
Mas é importante ressaltar que esses avanços ainda estão em processo de desenvolvimento e implementação, e podem variar de acordo com as regulamentações, investimentos e adoção da tecnologia por parte das empresas do setor. No entanto, a tendência é que a tecnologia e a inteligência artificial continuem desempenhando um papel cada vez mais relevante na transformação da indústria da construção nos próximos anos.
Recentemente, houve um debate sobre a questão da baixa concorrência em leilões no setor da infraestrutura. Por que isto acontece e qual seria a solução para esta questão?
Renato Correia: Essencialmente, projetos de grandes dimensões, seja de saneamento ou de extensão de rodovias, se feitos em lotes grandes e valores muito expressivos, podem diminuir a concorrência e aumentar o custo. Além disso, em eventuais problemas, a correção de rumo é mais difícil.
A CBIC tem defendido bastante a segmentação dos projetos, permitindo que mais empresas de médio porte sejam contratadas para lotes menores, favorecendo a concorrência e permitindo aos contratantes menos riscos e menores custos, em especial com seguros.
Entrevistado:
Renato Correia é engenheiro civil e presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), com mais de 30 anos de experiência no setor imobiliário. Sócio-diretor da Vega Incorporações de Goiânia, foi presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO), vice-presidente da CBIC na Região Centro-Oeste e vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção no Estado de Goiás (Sinduscon-GO). Representou o setor na Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) na elaboração da norma de desempenho das edificações habitacionais NBR 15575, que trata dos requisitos e características indispensáveis de uma obra para o consumidor. Também presidiu o Conselho de Desenvolvimento Econômico, Sustentável e Estratégico (Codese) de Goiânia, entidade apartidária e sem fins lucrativos responsável por envolver a sociedade civil no planejamento de médio e logo prazo das cidades.
Contato:
Assessoria de imprensa CBIC: imprensa@cbic.org.br
Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP
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