Marquise cai em Pernambuco
Para Paulo Helene, acidentes deste gênero normalmente têm relação com sobrecargas e umidade
Uma marquise desabou no Centro da cidade de Aliança, na Zona da Mata de Pernambuco, no dia 11 de setembro. O acidente resultou na morte de cinco pessoas, enquanto outras nove ficaram feridas. Na ocasião, a cidade estava comemorando 94 anos de sua emancipação e havia muitas pessoas circulando pela rua.
Sobretudo, as marquises são um elemento estrutural bastante presente nas edificações do centro da cidade do Recife, mas, pelo descuido com a sua manutenção, têm tido um acentuado índice de acidentes, segundo o estudo “Como se encontram as marquises do Recife?”, criado por João Carvalho, Tiago Chaves, Antonio Carlos Melo, Eliana Cristina Monteiro, todos da Escola Politécnica de Pernambuco, em parceria com Paulo Helene, da Escola Politécnica de São Paulo.
Neste estudo, que avaliou uma amostragem de 125 marquises na capital pernambucana, observou-se que 100% delas possuíam pelo menos quatro tipos de manifestações patológicas. O problema encontrado com maior incidência foi o de umidade, presente em 86% das marquises analisadas, seguido pelo destacamento do revestimento e de pintura (69%); incidência de mofo, bolor e limo (64%). Ainda, foi possível observar que 56% delas tinham o crescimento de vegetações que, devido ao acúmulo d’água em suas raízes, provoca umidade e outras patologias. A desagregação do concreto manifestou-se em 41% das marquises estudadas.
De acordo com Paulo Helene, engenheiro civil, presidente do Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON) e professor titular da Universidade de São Paulo, acidentes com marquises normalmente têm relação com cargas excessivas. “Em geral, são letreiros de propaganda, equipamentos de ar-condicionado (motor refrigerador), depósito e armazenamento de produtos, lixo e falta de manutenção”, explica Helene.
Além disso, a umidade e a água acumulada sobre a marquise, é uma das maiores incidências de manifestações patológicas porque os ralos entopem e a água de chuva fica represada.
“Como sabemos, a água de chuva, em geral ácida, é agressiva ao concreto. Da mesma forma, a água salgada da brisa marinha é o meio natural mais agressivo ao concreto armado e protendido. O aço é muito sensível ao cloreto e a corrosão é inevitável quando não há manutenção, limpeza e impermeabilização periódica”, comenta Helene.
Helene aponta que os mecanismos que levam ao colapso de marquises são:
– Deficiência na posição da armadura. Isto significa que a armadura deve ficar na face superior da laje;
– Deficiência de ancoragem da armadura na estrutura ou corpo da obra, o chamado gogó da ema ou erro mesmo de posicionamento;
– Dimensionar prevendo abertura de fissura no chamado Estado Limite de Serviço ELS. “Marquises deveriam ser dimensionadas no estádio I, ou seja, devem ser robustas e redundantes. São estruturas que não avisam claramente do risco iminente e só especialistas com uma boa inspeção podem perceber os sinais. Inspecionar uma marquise olhando por baixo é o mais comum dos erros. A fissura grave fica junto ao apoio e na face superior”, declara Helene.
Como evitar o desabamento de marquises?
Em primeiro lugar, Helene aponta que é necessário fazer um projeto cuidadoso, detalhado, redundante e robusto, sem permitir abertura de fissura. Além disso, a execução deve ser rigorosa e responsável. Dentre os cuidados também estão a impermeabilização e drenagem bem asseguradas e eficientes, assim como a limpeza e manutenção.
Além disso, é fundamental evitar sobrecargas extras, perfurações para fixar ar-condicionado, escarificações para passar conduítes de elétrica de letreiros, lixo e entupimentos, segundo Helene. Ainda, Helene recomenda renovar a impermeabilização a cada quatro anos, limpar semanalmente e desentupir ralos a cada 15 dias.
“Se possível, é altamente recomendável dimensionar incluindo uma armadura extra na face de baixo da laje da marquise com capacidade de suportar o peso dela. Assim procedendo (conceito de robustez), caso a armadura superior venha a falhar por corrosão (fissura) ou por mal posicionamento, a marquise fica pendurada na estrutura, mas não cai sobre as pessoas”, sugere Helene.
Entrevistado
Paulo Helene é presidente do Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON). Ele também é engenheiro civil, professor titular da Universidade de São Paulo e diretor da PhD Engenharia.
Contato
paulo.helene@concretophd.com.br
Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP
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