Liderança paternalista: a preferida entre brasileiros
O modelo de líder paternalista é o preferido entre brasileiros. Saiba os porquês dessa constatação e as vantagens em adotar este perfil
Estudo afirma que aplicar a gestão paternalista apresenta melhores resultados com funcionários brasileiros
O modelo de liderança paternalista, que relaciona a ação do gestor com proteção, amizade e familiaridade, é o preferido entre brasileiros. Essa afirmação surgiu após a recente publicação na revista científica Thunderbird International Business Review (publicada bimestralmente nos EUA) de um artigo produzido pelo brasileiro Alfredo Behrens. O estudo realizado por Behrens, que é professor e pesquisador do Profuturo (Programa de Estudos do Futuro) e da FIA (Fundação Instituto de Administração), avaliou a preferência de alunos de MBA do Brasil e da Europa.
Behrens conta que para descobrir qual estilo de gestor é o preferido entre os trabalhadores foram disponibilizados seis vídeos curtos, sem áudio, representando cada estilo de liderança. Além do paternalista e do intelectual – no qual o líder conquista a admiração de seus colaboradores pelo seu conhecimento – , outros quatro modelos de liderança foram citados na pesquisa: o estilo coercivo, que força a concordância imediata de seus subordinados; o autoritário, focado na motivação e inserção dos colaboradores no plano geral da empresa; o democrático, que atua através da análise e aceitação das ideias dos funcionários; e o líder modelo, que estabelece altos níveis para o desempenho da equipe e dá o exemplo de funcionário ideal.
Para realizar o estudo, o pesquisador contou com o apoio de colegas docentes de MBA no Brasil e no continente europeu, que apresentaram os vídeos aos seus alunos e coletaram as preferências dos grupos. “O estilo de liderança preferido entre os estudantes europeus é o do líder com foco intelectual – dois terços da amostra pesquisada preferiram este modelo. O percentual no Brasil foi o mesmo, porém o tipo de líder escolhido foi o paternal e protecionista“, afirma o professor.
Para confirmar as constatações da pesquisa o professor realizou um pequeno questionário informal durante uma palestra na UFPR (Universidade Federal do Paraná). “Mostrei os mesmos seis vídeos e fizemos uma rápida enquete. Os alunos de graduação confirmaram o perfil brasileiro, com a preferência pelo líder paternalista“, conta Behrens.
Preconceito
Os termos paternalista e protecionista normalmente possuem uma conotação pejorativa quando ligados à liderança. Isso acontece devido ao pré-conceito de que um amigo não pode cobrar resultados como um chefe. “O papel do gestor paternalista é lutar pelos seus colaboradores, principalmente, quando estes estiverem vulneráveis”, analisa o professor. “Cuidar um do outro não significa confundir a relação, principalmente, em um país como o Brasil onde a hierarquia é uma característica tão presente na sociedade”, afirma Alfredo Behrens.
Uma dica para garantir o respeito às hierarquias é que o chefe seja competente. “Quando o líder atua mais pela força do cargo em detrimento do caráter podem ocorrer rebeldias dos funcionários”, afirma o professor. Para ser um líder paternalista e garantir o sucesso das suas ações o gestor deve saber delegar. “Ele deve ser um líder autêntico e deixar que seus colaboradores cresçam com ele, assim todos terão oportunidades para progredir profissionalmente e a empresa terá maiores resultados”, ressalta o professor.
História
A preferência brasileira por uma liderança paternalista é justificada pela história nacional de lutas e insurreições populares. “Os líderes nacionais são sempre carismáticos e a política brasileira é voltada ao impacto populista”, explica Behrens. A população se subordina ao juízo do líder em troca de proteção e uma ação semelhante ocorre na relação empresarial. “Se a população prefere um modelo populista na política, preferirá, também, um com o mesmo perfil nas empresas. O profissional só irá se dedicar totalmente a esse chefe se acreditar que ele será capaz de protegê-lo”, afirma o pesquisador.
Alfredo Behrens defende que a liderança deve ser moldada ao que é esperado pelo colaborador. “Quando a liderança é adequada à realidade dos funcionários e ao que eles esperam de um líder a empresa torna-se mais produtiva”, afirma.
Entrevistado
Alfredo Behrens – Economista com PhD pela Universidade de Cambridge
Professor de Gestão Intercultural no MBA Internacional da FIA (Fundação Instituto de Administração)
Autor do livro Culture and Management in the Americas, pela Stanford University Press, 2009. Este livro foi finalista do Prêmio Jabutí em 2008 e que também foi recomendado pela Época Negócios como um dos melhores livros de negócios do ano.
http://www.alfredobehrens.com/
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