Laboratório Sirius não sairia do papel não fosse o concreto
Estrutura monolítica do túnel blindado do laboratório, onde circula a luz síncroton, tem resistência de 30 MPa
Construído em Campinas-SP, o laboratório Sirius – único na América Latina capaz de promover pesquisas com luz síncroton – só saiu do papel graças ao concreto. O material foi o único que viabilizou o túnel blindado por onde circulam os elétrons acionados por aceleradores. Cogitou-se usar elementos pré-fabricados, mas as características exigiram concreto armado moldado “in loco”, sem junta de dilatação, para garantir o confinamento da radiação. Toda a estrutura monolítica tem resistência de 30 MPa, com o piso medindo 90 centímetros de espessura e as paredes e o teto com 1 metro de espessura.
Para garantir o controle rigoroso do concreto e de seus agregados foi instalada uma central dentro do canteiro de obras. O engenheiro projetista Rafael Timerman, que atuou no projeto, revela que o túnel foi concebido sem excesso de armaduras, para não prejudicar a radiação que circula na área confinada. Por isso, a opção foi utilizar um concreto mais denso e coeso. A solução se baseou em conclusões técnicas tiradas depois de visitas a laboratórios com as mesmas características, construídos em outros países. “Observamos que muitos deformaram. Tivemos que aprender com os erros dos outros, com a experiência dos outros, para conceber o Sirius”, revela Timerman, que recentemente palestrou no XI Congresso Brasileiro de Pontes e Estruturas.
Além do concreto com características específicas, o solo em que foi construído o laboratório também precisou de tratamento especial para evitar deformações. Após estudos e simulações em protótipos, optou-se pelo reforço do solo usando brita graduada tratada com cimento. Além disso, para evitar qualquer risco de vibração, as fundações receberam 1.332 estacas do tipo hélice continua, com 40 centímetros de diâmetro e 15 metros de profundidade. “É importante frisar que todas as soluções, assim como o projeto estrutural , são todas nacionais”, frisa Rafael Timerman.
O volume total de concreto para a construção da estrutura soma 22.000 m³
A estrutura de concreto segue requisitos da ABNT NBR 6118 – Projeto de estruturas de concreto – Procedimento – e os estudos para a concepção do material tiveram a consultoria do engenheiro civil Roberto Dakuzaku. Para a revista Estrutura, publicação da ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural), o controlador de qualidade do concreto relata que a concretagem do túnel blindado se deu em 20 etapas, ao longo de 90 dias, formando ao final do processo uma peça única com mais de 500 metros de comprimento. Cada etapa de lançamento ocorreu ao longo de períodos que variaram de 12 horas a 14 horas. O volume total de concreto para a construção da estrutura soma 22.000 m³.
Além da estrutura monolítica do túnel blindado, todas as outras lajes da edificação também foram construídas em concreto armado. O objetivo foi alcançar a máxima rigidez para minimizar a propagação de vibrações provocadas pela ação do vento, circulação de pessoas e funcionamento dos equipamentos instalados no laboratório. “Conseguimos uma estrutura rígida e, ao mesmo tempo, funcional para as atividades do laboratório”, conclui Rafael Timerman.
Entrevistado
Reportagem com base em palestra do engenheiro projetista Rafael Timerman, no XI Congresso Brasileiro de Pontes e Estruturas e na edição de maio de 2019 da revista Estrutura
Contato
abece@abece.com.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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