Japão projeta megaobra para conter tsunamis

Governo planeja construir 440 muralhas nas cidades mais ameaçadas pelo fenômeno sísmico, ao longo de 370 quilômetros e a um custo de US$ 10 bilhões

Governo planeja construir 440 muralhas nas cidades mais ameaçadas pelo fenômeno sísmico, ao longo de 370 quilômetros e a um custo de US$ 10 bilhões

Por: Altair Santos

Entre 1972 e 1984, o prefeito Kotaku Wamura, da pequena cidade de Fudai, no norte do Japão, empreendeu suas energias em uma obra que ele considerava essencial para a população de três mil habitantes: construir uma muralha com 15,5 metros de altura e 205 metros de comprimento. Sobrevivente de um tsunami que destruiu o vilarejo em 1933, Wamura gastou cerca de US$ 30 milhões no empreendimento, que consumiu 61.500 m³ de concreto armado. Em 2011, a construção cumpriu sua função. No grande tsunami que atingiu várias cidades japonesas, o paredão conteve uma onda com 20 metros de altura e permitiu que Fudai saísse da tragédia com danos mínimos.

Projeção mostra como deve ficar uma das muralhas de concreto na praia japonesa de Suruga, em Shizuoka

Incentivado pela ideia do ex-prefeito, que morreu em 1997, o governo japonês estuda construir 440 muros de concreto ao longo de 370 quilômetros de praia, protegendo as cidades mais propensas a tsunamis, entre as quais Fukushima, Miyagi e Iwate, destruídas pelo fenômeno sísmico do início desta década. O projeto causa polêmica e é repudiado por ambientalistas, que acusam que as megaobras irão acabar com o litoral japonês e prejudicar uma das principais atividades econômicas do país: a pesca. Mesmo assim, o investimento já está reservado e é estimado em US$ 10 bilhões. Cada muralha teria 20 metros de altura e o volume de concreto estimado para construí-las pode chegar a 8 milhões de m³.

O período de construção duraria cinco anos, avaliam os ministérios da Agricultura e de Terras, defensores das obras. Eles se apegam aos cálculos de que dos 35 mil quilômetros de costa que o Japão possui, 14 mil são vulneráveis a tsunamis. No entanto, Christian Dimmer,
professor-assistente no departamento de estudos urbanos na Universidade de Tóquio, afirma que a construção de muros de contenção não é garantia de que eles irão segurar tsunamis. “Paredões têm o potencial para salvar vidas onde quer que sejam construídas, desde que o tsunami não exceda a altura e não exerça pressão maior do que a que os muros podem suportar”, diz.

O custo das construções também é reclamado pelos opositores. O governo japonês está disposto a conceder bônus para as empreiteiras do país, a fim de que elas invistam em pesquisa de sistemas construtivos e em tecnologia do concreto, para construir muralhas que resistam a tsunamis ainda mais intensos do que os que atingiram o país em 2011. Com isso, apontam os críticos, as populações das cidades “protegidas” pagariam impostos mais caros ao longo de 25 anos. “O custo é elevado sob todos os aspectos. Não gostaria que o mundo passasse a ver o Japão como um país cercado por uma muralha de concreto“, critica o professor Masahito Abe, um dos opositores às megaobras.

Entrevistado
Universidade de Tóquio (via email e site institucional)

Contato
http://www.u-tokyo.ac.jp/public/contact_j.html

Crédito Foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

 



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