Japão faz concreto substituindo areia por cinza vulcânica

Pesquisa da Universidade de Tóquio foi colocada em prática por construtora especializada em projetos de casas

Por causa de sua resistência (em torno de 20 MPa) o concreto desenvolvido no Japão tem sido usado apenas na construção de casas com até dois pavimentos Crédito: Jérémie Souteyrat
Por causa de sua resistência (em torno de 20 MPa) o concreto desenvolvido no Japão tem sido usado apenas na construção de casas com até dois pavimentos
Crédito: Jérémie Souteyrat

Com o auxílio de pesquisadores da Universidade de Tóquio, uma construtora japonesa especializada em projetos residenciais passou a substituir o concreto armado convencional por um concreto alternativo. O material usa cinzas vulcânicas da ilha de Kyushu, no sul do Japão – um recurso natural disponível em grandes volumes na região -, em vez de areia como agregado fino. 

Antes de testar o concreto em obras, os pesquisadores realizaram vários ensaios em laboratório, durante 1 ano. O que inspirou o estudo foram as experiências romanas de 2.000 anos atrás. “Os construtores do Império Romano usaram cinzas de fluxos piroclásticos em estruturas de concreto como o Panteão, há 2.000 anos, o que nos inspirou a criar uma versão japonesa”, diz Yasuhiro Yamashita, arquiteto-chefe da construtora Atelier Tekuto. 

Na ilha de Kyushu, as erupções têm um fenômeno chamado de fluxo piroclástico, que mistura gás quente, matéria vulcânica, cinzas e fragmentos de rocha. Isso gera um agregado mais consistente que a areia, dizem os pesquisadores. “Conseguimos um concreto de alta densidade, além de grande capacidade de absorção e reação pozolânica natural. Isso o torna particularmente forte e durável”, explica o engenheiro.

Outra razão para o uso do concreto alternativo é que a areia de rio está cada vez mais escassa no Japão e a importação também é restrita. Além disso, o país estuda banir o uso de areia de origem marítima nas construções. Por isso, tanto a construtora que incentivou a pesquisa quanto a Universidade de Tóquio retiraram o sigilo do estudo para que outros construtores possam utilizar o concreto alternativo. 

Casal de médicos estimulou a reativação da pesquisa e o uso prático do concreto inovador

Tanto a construtora que incentivou a pesquisa quanto a Universidade de Tóquio retiraram o sigilo do estudo para que outros construtores possam utilizar o concreto alternativo Crédito: Jérémie Souteyrat
Tanto a construtora que incentivou a pesquisa quanto a Universidade de Tóquio retiraram o sigilo do estudo para que outros construtores possam utilizar o concreto alternativo
Crédito: Jérémie Souteyrat

Os dados estão na plataforma digital Rede Regional de Utilização de Material (RMUN). “Estamos convictos de que o concreto Shirasu (nome com que o material foi batizado no Japão) pode trazer grandes benefícios econômicos para a região”, avalia Yasuhiro Yamashita, que ao procurar a Universidade de Tóquio desengavetou uma pesquisa que havia iniciado nos anos 1990, mas não avançou. Na época, o principal objetivo do estudo era encontrar um substituto para o uso de areia do mar em obras.

Em 2006, a prefeitura de Kagoshima lançou o “Manual para projeto e construção do concreto Shirasu com agregado fino vulcânico”. Porém, não houve avanços. A pesquisa foi reativada em 2016, quando um casal de médicos bioquímicos procurou a construtora Atelier Tekuto e propôs um projeto de casa em concreto aparente, mas com baixa emissão de CO2. “Eles queriam uma peça desafiadora de arquitetura que não agredisse o meio ambiente. Com a ajuda de engenheiros e arquitetos recuperamos o estudo e conseguimos viabilizá-lo”, responde Yasuhiro Yamashita.

Ao mostrar a viabilidade de um concreto mais sustentável, o arquiteto e sua equipe ganharam três prêmios internacionais: o WAN Concrete, concedido pelo Japan Concrete Institute; o excelência em construção, do American Concrete Institute, e o concretos especiais, da fib (Federação Internacional do Concreto). Por causa de sua resistência (em torno de 20 MPa) o concreto desenvolvido no Japão tem sido usado apenas na construção de casas com até dois pavimentos. Desde a sua aplicação prática, o material já foi usado em mais de 20 projetos de residências em Tóquio e região.

Entrevistado
Construtora Atelier Tekuto (via área de comunicação)

Contato
info@tekuto.com

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330



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