Investigar patologia em fachada é trabalho para “detetive”
Professor-doutor Angelo Just da Costa Silva apresenta roteiro de como detectar problemas em revestimento de paredes externas
Professor-doutor Angelo Just da Costa Silva apresenta roteiro de como detectar problemas em revestimento de paredes externas
Por: Altair Santos
As fachadas com revestimento cerâmico estão entre os sistemas construtivos que mais apresentam patologias. Não é à toa que a norma técnica que trata do tema passa por um processo minucioso de revisão. A nova ABNT NBR 13755 – Revestimento de paredes externas e fachadas com placas cerâmicas e com utilização de argamassa colante – Procedimento – pretende valorizar o detalhamento da execução, aumentando o controle antes, durante e depois da obra. Também se torna mais rigorosa com relação aos ensaios de resistência superficial, incluindo critérios de aceitação. A expectativa é de que a norma revisada seja publicada ainda em 2017.
A ABNT NBR 13755 é uma norma técnica cujo texto original tem dez anos. Sem as devidas atualizações, engenheiros que trabalham em inspeção de fachadas para detectar patologias devem atuar como verdadeiros “detetives”, explica Angelo Just da Costa Silva, professor-doutor da Universidade Federal de Pernambuco e da Universidade Católica de Pernambuco. O engenheiro civil palestrou no Simpósio Paranaense de Patologia das Construções, que ocorreu de 29 de maio a 2 de junho, no centro politécnico da UFPR. Ele procurou passar um roteiro de como investigar patologias em fachadas, e que inclui descrição do edifício, histórico do problema, ensaios, diagnóstico das causas e alternativas para recuperação.
Veja as mais importantes dicas dadas por Angelo Just da Costa Silva:
– Descrição do edifício
“Engenheiros, infelizmente, ainda têm dificuldades em gerar documentos sobre as edificações que constroem. Por isso, quem investiga a patologia tem que atuar como um detetive. É fundamental saber o ano de conclusão do edifício, quem construiu, materiais usados e técnicas utilizadas na obra da fachada. Quanto maior o número de informações em relação ao prédio, mais fácil de encontrar as causas prováveis.”
– Histórico do problema
“É importante verificar a área estimada da patologia, como ela está evoluindo, e como começou o problema. Em alguns casos, o edifício já passou por algum tipo de intervenção na fachada, mas as pessoas que contratam a inspeção não sabem dizer. Isso é relevante diagnosticar, pois se já houve outra intervenção no prédio é possível que a patologia esteja se repetindo, principalmente quando o revestimento cerâmico aplicado foi executado com as mesmas técnicas e usou os mesmos materiais.”
– Ensaios
“É importante comunicar a quem contratou a inspeção que ensaios podem ser custosos e que também são destrutivos, ou seja, será preciso quebrar a fachada, a qual, obviamente, depois será reparada. Mas os ensaios são imprescindíveis, pois são eles que vão responder se o condomínio terá de trocar a cerâmica que está caindo ou vai precisar trocar todo o revestimento do edifício. Há dois tipos de ensaios, e o ideal é que sejam aplicados em conjunto. Um deles é o ensaio de aderência em laboratório, que é mais preciso, porém com amostragem baixa. Já o ensaio de percussão, que é feito manualmente por operários, é menos preciso, mas com amostragem maior. Esses ensaios vão mostrar valores de ruptura e tipos de ruptura no revestimento.”
– Diagnóstico das causas prováveis
“As causas mais comuns passam por erros de projeto, uso de materiais inadequados, problemas na execução ou falta de manutenção. Se for projeto, a falha mais comum é a falta de juntas de movimentação na região de ancoramento entre a viga e a alvenaria. Se for problema com materiais, a argamassa colante pode ser a grande vilã. No caso da execução, o desaprumo é o erro mais comum.”
– Alternativas recomendadas para recuperação
“A partir do laudo, a tomada de decisão é do condomínio, com base no que a inspeção vai dizer. Se o prédio foi construído com concreto de alta resistência, onde a porosidade e a permeabilidade são baixas, será recomendado fazer um tratamento de superfície antes de reinstalar a fachada. Vai orientar ainda que se o prédio foi construído com bloco cerâmico o tratamento da aderência da fachada será um e se foi com bloco de concreto será outro. Também é importante que a mão de obra que vai atuar na fachada tenha treinamento. Outro fator importante que foi agregado recentemente é a Norma de Desempenho (ABNT NBR 15575). Ela traz mudanças, pois separa a vida útil da fachada da vida útil do prédio. A da fachada é menor, o que obriga operações de manutenção.”
Entrevistado
Engenheiro civil Angelo Just da Costa Silva, professor-doutor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Universidade Católica de Pernambuco, e diretor-técnico da Tecomat Engenharia Ltda.
Contato
angelo@unicap.br
Crédito Foto: Cia de Cimento Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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