Interoceânica leva o Brasil ao Pacífico
Rodovia é hoje a maior obra da engenharia sul-americana e realizará o sonho de ligar dois oceanos
Rodovia é hoje a maior obra da engenharia sul-americana e realizará o sonho de ligar dois oceanos
Um corredor rodoviário que facilite ao Brasil escoar sua produção agrícola e industrial para a Ásia está prestes a se concretizar em 2011. No ano que vem será concluída a rodovia Interoceânica, que ligará a capital do Acre, Rio Branco, com as cidades portuárias de San Juan de Marcona, Matarani e Illo, no Peru, passando pela Bolívia.
Com 2,6 mil quilômetros de extensão, a obra é hoje o maior desafio à engenharia sul-americana, já que corta a Amazônia peruana e os Andes. Idealizada em 1994, o empreendimento trinacional é liderado pelo Consórcio de la Infraestrutura de Integración Sur Americana (Conirsa), que engloba as empreiteiras brasileiras Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Queiroz Galvão. Ao todo, 3.800 operários dos três países trabalham na construção da rodovia.
A nova rota Atlântico-Pacífico tem custo estimado de US$ 1,8 bilhão, dos quais o governo brasileiro está financiando US$ 450 milhões. Outra parte do investimento vem dos governos da Bolívia e do Peru e de Parcerias Público-Privadas (PPPs), o que fará com que a rodovia tenha trechos com pedágio. Mesmo assim, estima-se que o custo do transporte será mais barato do que o atualmente cobrado pelo Canal do Panamá – hoje a principal ligação entre os dois oceanos.
Segundo Gilberto Siqueira, secretário de planejamento do Acre, a redução de milhas de navegação fará com que o novo corredor atraia, inclusive, exportações de países europeus. Estima-se uma economia de 80 dólares por tonelada, o que não é pouco. Seremos uma concorrência forte ao canal do Panamá, com potencial de atrair, a partir do porto de Suape, em Pernambuco, exportações europeias que precisem chegar à Ásia, avalia.
O cálculo estimado é que entre Rio Branco e os portos peruanos o trajeto pela Interoceânica seja percorrido em 72h. Do Canal do Panamá aos terminais do Peru, um navio leva pelo menos uma semana de viagem. A competitividade tende a mudar a economia da região. A rodovia mudará a geopolítica do estado. O Acre passará a ser a saída do Brasil para a economia asiática, diz Gilberto Siqueira. Segundo João Francisco Salomão, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Acre, a construção da rodovia já atrai indústrias para a região. Todo dia recebemos consultas de empresas interessadas em se instalar por aqui, afirma.
Megaobra
Chamada de la Carretera Interoceánica, a partir da Bolívia, a rodovia exige que sejam vencidos dois enormes obstáculos naturais: a Amazônia peruana, com muitos rios e vegetação densa, e a Cordilheira dos Andes, que tem 8 mil quilômetros de extensão e atinge quase 7 mil metros de altura em seu ponto máximo, o pico Aconcágua. Por isso, obras em concreto são fundamentais para vencer as barreiras. Parece inacreditável, mas a rodovia tem 207 pontes. A maior parte delas no trecho de transição entre a floresta e a cordilheira, disse o engenheiro Paolo Rocha, gerente de qualidade do consórcio Conirsa.
A megaobra não conta com túneis, mas tem um trecho que se esgueira pelas encostas andinas a mais de 4,5 mil metros de altitude, no ponto mais alto da estrada. Neste trajeto, há trechos que lembram a Estrada da Graciosa, no litoral paranaense. A estrada inclina-se a 45 graus e obriga os veículos a andarem a 40 km/h. Apesar da lentidão, por questões de segurança, será possível cruzar a parte peruana da estrada em 40h. Superado o obstáculo, avista-se o Pacífico o ponto final da Interoceânica.
Texto complementar
Brasil e Chile investem na Bioceânica
Em recente visita ao Brasil, o presidente chileno Sebastián Piñera assinou, junto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acordos para a construção de uma outra rodovia que ligará os oceanos Atlântico e Pacífico.
Trata-se da Bioceânica, que sairá do Porto de Santos, em São Paulo, e chegará aos portos de Arica e Iquique, no Pacífico. A rodovia terá 3,8 mil quilômetros e cruzará Brasil, Bolívia, Paraguai, Argentina e Chile. O projeto estava em discussão desde 2007 e o próximo passo será a definição dos consórcios que irão tocar a obra. A Bioceânica utilizará trechos de rodovias já construídas nos cinco países.
Entrevistados:
– Gilberto Siqueira, secretário de planejamento do Acre – Antônia Tainá Pires da Silva, assessora de imprensa: tainapires.ac@gmail.com
– João Francisco Salomão, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Acre : presidencia@fieac.org.br
Jornalista Responsável Altair Santos MTB 2330 Vogg Branded Content
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