Interação solo-estrutura é o que mantém Torre de Pisa em pé
Terreno arenoso em que foi construído o monumento italiano funciona como uma suspensão para o edifício de quase um século
Estudo iniciado há 25 anos conclui que a Torre de Pisa tende a ficar em pé por mais 300 anos, graças a um fenômeno conhecido na engenharia como interação solo-estrutura. A pesquisa envolveu 16 engenheiros liderados pelo professor-emérito Michele Jamiolkowski, que atua no Instituto Politécnico de Turim, na Itália. O grupo afirma que, assentada sob terreno arenoso, as fundações da torre estão imunes a abalos que poderiam derrubá-la. É como se o solo funcionasse como uma suspensão para a edificação, dizem os pesquisadores.
O relatório da pesquisa define que “o mesmo solo que causou a inclinação e trouxe a torre à beira do colapso pode ser creditado por ajudar a estrutura a sobreviver a eventos sísmicos”. O documento ainda acrescenta que “a rigidez da Torre de Pisa, combinada com a maciez do solo da fundação, faz com que as características vibracionais da estrutura sejam substancialmente modificadas, de tal maneira que a construção não ressoa com o movimento de um terremoto”. Ainda de acordo com os pesquisadores, não há nenhuma outra estrutura semelhante no mundo.
Os estudos comandados pelo professor Michele Jamiolkowski começaram em março de 1993, quando a Torre de Pisa saiu de uma inclinação de 3,99 graus para 4,5 graus. O risco de colapso levou o governo italiano a decretar sua interdição. Antes, a visitação já havia sido interrompida em 1990 e se estendeu até 2001. O monumento de 55,86 metros de altura, cuja construção começou em 1174 e só foi concluída em 1370, se manteve escorado por estruturas metálicas até abril de 2011, quando seu trabalho de recuperação foi 100% concluído.
A equipe sediada no Instituto Politécnico de Turim, mas que envolvia pesquisadores de outras universidades, como George Mylonakis, do departamento de engenharia civil de Bristol, nos Estados Unidos, tinha duas opções para recuperar a inclinação original da torre. Uma seria injetar concreto no solo; a outra, seria investir em uma técnica não-invasiva, conhecida como “escavação subterrânea”. Foram feitas remoções de terras em pontos estratégicos da torre, o que permitiu que ela recuperasse meio grau e estabilizasse sua inclinação em 4 graus.
Pesquisa será apresentada na 16ª Conferência Europeia de Engenharia Sísmica
Para utilizar essa técnica, os pesquisadores colocaram sensores na fundação da edificação quase secular para realizar as escavações. Foi aí que perceberam como a interação solo-estrutura age na Torre de Pisa. “A considerável altura e rigidez da torre, combinada com a maciez do solo da fundação, faz com que as características vibracionais da estrutura sejam substancialmente modificadas, de tal maneira que a torre não responde a movimentos sísmicos. Essa tem sido a chave para sua sobrevivência. A combinação faz com que a Torre de Pisa tenha uma interação solo-estrutura única no mundo”, conclui o estudo.
A conclusão da pesquisa será apresentada em um workshop dentro da 16ª Conferência Europeia de Engenharia Sísmica, que acontece de 18 a 21 de junho em Salónica, na Grécia. Na ocasião, os pesquisadores dirão que a Torre de Pisa não corre nenhum risco de desabar e que sua estrutura deve resistir por pelo menos mais trezentos anos. Portanto, está assegurada a visitação ao monumento mais conhecido da Itália, o qual recebe anualmente cerca de 1,2 milhão de turistas.
Entrevistado
Reportagem com base na pesquisa “Torre de Pisa, intervenções e estudos para a sua salvaguarda”, comandada pelo Instituto Politécnico de Turim, na Itália, em parceria com a Universidade de Bristol, nos Estados Unidos
Contato
michele.jamiolkowski@polito.it
public-relations@bristol.ac.uk
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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