Industrialização: antídoto contra horas extras
Construção civil busca soluções para não estender carga horária dos trabalhadores, mas segmento vive dilema de não atuar como linha de montagem
Construção civil busca soluções para não estender carga horária dos trabalhadores, mas segmento vive dilema de não atuar como linha de montagem
Por: Altair Santos
Não é raro que temas como “hora extra” e “horário interjornada” estejam entre os assuntos mais polêmicos da construção civil. Mas como resolver esse impasse? Para o consultor em concreto dosado em central, e ex-presidente da ABESC (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem) Arcindo Vaquero y Mayor, a solução – ou pelo menos a amenização deste problema – está em melhorar a produtividade dentro do canteiro de obras. “Não é fácil solucionar esse problema. A construção civil não atua com linha de montagem. Acontecem muitos imprevistos numa obra, que vão desde ajuste de fôrmas até rearranjo nos horários dos caminhões. O que melhora isso é aumentar a industrialização. Só assim é possível reduzir as horas extras e ter um trabalho muito mais racional”, avalia.
Para o especialista, o ideal é que o trabalho se realize dentro do horário, sobretudo para as concreteiras, pois qualquer falha no cronograma pode refletir na segurança de trabalho e em problemas econômicos. “Qualquer atraso afeta toda a estrutura da concreteira. Não só motoristas, mas equipes de apoio, mecânicos, balanceiros, operadores de bomba e lavadores”, diz, completando que, para aprimorar seu desempenho, as empresas filiadas à ABESC não têm poupado em tecnologia. “Pela complexidade da mobilidade urbana atualmente, principalmente nas grandes cidades, cada vez mais nossos associados têm investido na racionalização da programação, seja usando softwares, radiocomunicação, telefonia celular ou GPS.”
Arcindo Vaquero y Mayor afirma que não existe setor mais preocupado em reduzir os impactos das horas extras do que a construção civil. “As horas excessivas trazem risco à obra. Uma grande quantidade de funcionários trabalhando em horários excepcionais abre brecha para acidentes de trabalho. Mas, como disse, não atuamos em linha de montagem. Hoje, a questão da mobilidade urbana, por exemplo, não só reflete na questão das horas extras como na produtividade. O ideal, aqui na cidade de São Paulo, era que cada caminhão fizesse quatro viagens (duas pela manhã e duas à tarde). O que acontece é que estamos fazendo em média 3,1 viagens por caminhão/dia. Isto acarreta em uma perda acumulada grande por caminhão”, esclarece o engenheiro civil.
Mudança na lei amplia polêmica
Recentemente, o Congresso Nacional passou a discutir a redução da jornada semanal de trabalho e o aumento do valor da hora extra. Há consenso no setor da construção civil de que a mudança na carga horária tende a elevar em até 10% o custo com mão de obra. A medida, alerta a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), pode impactar no programa Minha Casa Minha Vida. Cálculos preliminares apontam que 48 mil unidades deixariam de ser construídas. Outra preocupação é que a medida volte a estimular a informalidade no setor, que nos cinco anos recentes (2008 a 2013) caiu praticamente pela metade. “A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 231, que reduz a jornada de trabalho das atuais 44 horas semanais para 40 horas semanais, e aumenta a remuneração das horas extraordinárias de 50% das 75%, não leva em conta peculiaridades regionais e diferenças das diversas atividades econômicas”, reforça nota da CBIC.
Entrevistado
Engenheiro civil Arcindo Vaquero y Mayor, consultor na área de tecnologia do concreto dosado em central e meio ambiente, ex-presidente da ABESC (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem) e ligado à FIPH (Federación Ibero Americana de Hormigón Premezclado).
Contato: www.abesc.org.br/contato.html
Créditos Fotos: Divulgação/ABECE
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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