Industrialização do concreto tem novas normas. O que muda?
Publicações da ABNT NBR 9062 e da ABNT NBR 16475 agregam mais qualidade e segurança a sistemas construtivos, como o de paredes de concreto
Publicações da ABNT NBR 9062 e da ABNT NBR 16475 agregam mais qualidade e segurança a sistemas construtivos, como o de paredes de concreto
Por: Altair Santos
Foram publicados em 15 de março de 2017 os novos textos da ABNT NBR 9062 (Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado) e da ABNT NBR 16475 (Painéis de parede de concreto pré-moldado – requisitos e procedimentos). A primeira, considerada a “norma-mãe” da construção industrializada do concreto, passou por um processo de ampla revisão, já que seu texto anterior vigorava desde 2006. Já a ABNT NBR 16475 é uma nova norma para o setor. Ela nasceu em função das demandas por sistemas construtivos que utilizam paredes de concreto, sobretudo para edifícios do programa Minha Casa Minha Vida.
Os debates para a elaboração de uma norma nacional para paredes e painéis de concreto começaram em 2012 e se estenderam até 2016, quando a ABNT NBR 16475 foi para consulta pública. A nova norma abrange, principalmente, a adequação dos painéis para que cumpram requisitos da Norma de Desempenho (ABNT NBR 15575). A expectativa é de que o mercado absorva ainda mais a tecnologia, que em algumas regiões já supera a alvenaria convencional e a estrutural. Para a engenheira civil Iria Doniak, presidente-executiva da ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada do Concreto), a entrada em vigor das duas normas representa uma conquista para o setor.
O engenheiro civil Carlos Eduardo Emrich Melo, que foi o coordenador da revisão da ABNT NBR 9062, fala sobre as alterações na norma técnica. Confira:
O que a revisão da ABNT NBR 9062 muda para o mercado da construção industrializada?
É uma atualização de grande porte. A norma 9062, que foi revisada em 2006, na época foi adequada à norma 6118 (ABNT NBR 6118 – Projeto de estruturas de concreto – Procedimento), que havia sofrido sua grande revisão. Esta adequação de 2006 foi para manter a norma dentro dos critérios que a 6118 estava colocando no mercado. Após a consolidação da nova NBR 6118, realizamos a grande mudança da NBR 9062. Em termos de mercado, acredito que a industrialização dá um grande salto técnico. Mas a revisão é uma consequência dos resultados que o setor vem acompanhando ao longo do tempo. Sempre são exigidas novas técnicas, melhoria na segurança e avanço na tecnologia dos projetos. Este processo é natural, e mesmo com o lançamento da revisão, já estamos pensando na próxima, pois o mercado é dinâmico.
A ABNT NBR 9062 pode, de que forma, atrair mais negócios para o setor?
Toda vez que se aumenta a segurança e se disponibiliza mais conhecimento para o mercado, a expectativa é de sempre atrair novos negócios. Subimos mais um degrau, e com isto o setor estará mais embasado nos pontos mais frágeis do sistema. Esta preocupação em discutir por quase três anos o sistema de pré-fabricação gerou uma base sólida para o mercado.
O que a norma ABNT NBR 9062 define sobre engenheiros de montagem?
A norma introduziu o conceito formal de engenharia de montagem. Não se trata de empilhar peças. A montagem é o ponto mais crítico do sistema pré-moldado. Assim, a responsabilidade – e consequentemente o reconhecimento destes profissionais – se tornou mais formal. São necessários estudos e planos de montagem, sempre visando a segurança. Foi muito interessante o retorno dos profissionais ligados a esta etapa, que se sentiram valorizados durante as discussões sobre o tema.
A ABNT NBR 9062 pode ser interpretada como a norma-mãe da construção industrializada do concreto?
Acredito que sim. Apesar de ser focada no setor da industrialização de pré-moldados de concreto, por ser uma norma antiga, já com mais de 30 anos (a primeira versão é de 1985), ela teve mais tempo de retorno do setor e foi se atualizando. Assim, os pilares da norma, que são a integração do projeto com a execução, segurança, possibilidade da capacidade experimental, regularização do processo, controle e qualidade, acabam sendo a base para qualquer setor industrializado.
Como a ABNT NBR 9062 se relaciona com a ABNT NBR 6118?
Existe um respeito muito grande com a 6118, pois ela é a base de cálculo de qualquer estrutura de concreto. Mas nesta revisão, o setor da pré-fabricação se coloca de forma mais contundente, mostrando que o sistema pré-fabricado é diferente em alguns pontos do sistema moldado “in loco”. Não é uma mera adaptação. Existem tecnologias, estudos, desenvolvimentos que descolam as duas normas. O investimento no setor da pré-fabricação, tanto em pesquisa quanto em execuções de empreendimento, deu ao setor uma solidez técnica que permite que o setor trate as diferenças entre as duas normas de forma sólida, no mesmo nível técnico.
Já Iria Doniak aborda a ABNT NBR 16475 como o fortalecimento dos sistemas industrializados no mercado da construção. Acompanhe:
Com a ABNT NBR 16475, os sistemas construtivos que usam painéis de paredes de concreto tendem a se tornar ainda mais populares?
O principal objetivo da busca por uma norma específica é difundir o uso do sistema construtivo de painéis, de forma segura e com condições que permitam aos profissionais da área desenvolver projetos e produzir painéis. Além disso, por mais que esse sistema seja utilizado no Brasil há décadas, alguns construtores e agentes financiadores de obras não se sentem seguros em adotar um sistema sem norma nacional. Assim, com a publicação da nova norma, que nasce alinhada com a Norma de Desempenho, espera-se conquistar essa confiança com relação ao seu uso. Outra questão importante é que a norma não vai apenas abranger os sistemas habitacionais – em especial, o programa Minha Casa Minha Vida, onde os painéis são largamente empregados. Ela é mais abrangente e compreende todos os usos dos painéis que são muito utilizados em outros segmentos e em maiores dimensões, como shopping centers, centros de distribuição e logística, entre outros.
A ABNT NBR 16475 tende a ser absorvida naturalmente pela indústria do setor ou pode levar um tempo para ser adotada?
Acreditamos que ela será absorvida naturalmente pela indústria do setor, pois propicia melhorias no processo de fabricação e controle, privilegiando a qualidade e melhorando o entendimento dos usuários sobre o sistema. A nova norma será um instrumento de trabalho muito útil, facilitando o desenvolvimento de projetos, a capacitação de fornecedores, o controle e recebimento dos produtos e a manutenção dos sistemas. Ela vem preencher uma lacuna muito importante, e que era cobrada por toda a cadeia produtiva.
A ABNT NBR 16475 observa também os requisitos da Norma de Desempenho, quanto a desempenho acústico e térmico?
A nova norma está alinhada com a Norma de Desempenho e vem, inclusive, para colaborar, de uma maneira mais fácil, no atendimento da ABNT NBR 15575 (Edificações Habitacionais – Desempenho), que tem exigido que os diversos produtos da construção civil tenham normas prescritivas específicas. Ela remete o desempenho para os requisitos da ABNT NBR 15575.
A norma se inspira em normas internacionais?
O conteúdo da ABNT NBR 16475 possui inovações teóricas importantes, ao apresentar, por exemplo, ações, recomendações e diretrizes de combate ao colapso progressivo. Uma delas, a proposição de valores recomendados para os sistemas de amarrações das estruturas pré-fabricadas, com base nas experiências do EuroCode, utilizado na Europa, e também nas do PCI (Precast/Prestressed Concrete Institute), empregadas nos Estados Unidos. Em especial, ainda destaco que evoluímos muito participando do SINAT (Sistema Nacional de Avaliações Técnicas) no âmbito do PBQP-H, do ministério das Cidades. Hoje, o setor de pré-fabricados de concreto possui no SINAT dois Datecs (documentação de avaliação técnica) que comprovam e atestam o atendimento aos requisitos da Norma de Desempenho. A experiência destes sistemas (PRECON e Domus Populli) nos ajuda muito, no âmbito associativo, a entender o processo de atendimento de desempenho. Não apenas sob o aspecto estrutural, mas, em paralelo, nos auxilia no desenvolvimento da normalização, no que tange ao uso para fins habitacionais.
Entrevistados
– Engenheiro civil Carlos Eduardo Emrich, coordenador da comissão de estudos de revisão da ABNT NBR 9062
– Engenheira civil Iria Lícia Oliva Doniak, presidente-executiva da ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto)
Contatos
carlos.cma@terra.com.br
www.cma.eng.br
abcic@abcic.org.br
Crédito Foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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