Indústria tuneleira experimenta aquecimento global
Brasil tem números mais modestos, mas acompanha tendência mundial de avançar em obras de túneis e no espaço subterrâneo, com foi revelado no WTC 2014
Brasil tem números mais modestos, mas acompanha tendência mundial de avançar em obras de túneis e no espaço subterrâneo, com foi revelado no WTC 2014
Por: Altair Santos
O Congresso Mundial de Túneis (WTC 2014) realizado de 9 a 15 de maio em Foz do Iguaçu-PR, trouxe para a indústria tuneleira do Brasil uma série de novidades. Além de tecnologias e métodos construtivos, revelou obras internacionais que servem de referência para o país.
Especialistas de 64 nacionalidades participaram do evento, e mais de 1.200 congressistas expuseram trabalhos. Para o presidente do Comitê Brasileiro de Túneis, Hugo Rocha, que junto com a Associação Internacional de Túneis e do Espaço Subterrâneo (ITA) promoveu o WTC 2014, ficou evidente que o mercado de túneis está em crescimento em todo o mundo, inclusive no Brasil.
Apesar de o país ter poucas obras em andamento, se comparado à China e à União Europeia, a indústria tuneleira nacional experimenta aquecimento de 265%, entre 2010 e 2014. O Comitê Brasileiro de Túneis saiu de 126 sócios para 460, revela Hugo Rocha, que na entrevista a seguir faz um balanço do setor. Confira:
Qual balanço o senhor faz do WTC 2014, realizado de 9 a 15 de maio em Foz do Iguaçu-PR?
Do ponto de vista da comissão organizadora, o evento foi avaliado como um sucesso. Tivemos 1.208 congressistas de 64 países e mais 200 expositores. O feedback é de aprovação.
Em termos de novas tecnologias e inovações, o WTC 2014 destacou alguma?
Foi mostrado um avanço grande em termos de tecnologia de equipamentos, tanto os mecanizados quanto os de automação para túneis convencionais. A cada congresso mundial, que é de periodicidade anual, percebemos que as inovações são constantes. Não só em relação a equipamentos, mas também quanto à segurança de trabalho, revestimentos impermeabilizantes e tecnologia do concreto.
Quais obras relevantes, em termos de túneis, foram destacadas no congresso?
Foram muitas obras. Mas os projetos futuros chamaram mais atenção. Entre eles, uma obra de onze quilômetros em um fiorde na Noruega, que passará pelo subleito do mar. Outro projeto é o da travessia do Estreito de Gibraltar, em uma região cheia de falhas geológicas. Também tem os túneis andinos, que se propõem atravessar a Cordilheira dos Andes, ligando a Argentina e o Chile. Mas quem mais se destaca são as obras na China. Hoje já há mais de trezentas tuneladoras trabalhando naquele país. Só para comparação, no Brasil atualmente existem quatro tuneladoras em operação e quatro que devem entrar em funcionamento em breve.
O Brasil hoje tem um volume significativo de obras envolvendo túneis ou poderia estar melhor?
O Brasil tem o aspecto topográfico, cujo relevo não é muito acidentado. Isso exige menos túneis. Mas o país está acordando para uma tendência forte na Europa, que é a de enterrar as estruturas de transporte, armazenamento e comunicação. Só no caso do metrô, o país tem obras em andamento e projetos que devem duplicar a rede atual. Além das construções em São Paulo e Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Fortaleza e Belo Horizonte também planejam metrôs. Além disso, tem o Rodoanel Norte, em São Paulo, que também inclui túneis em seu projeto, assim como o TAV (Trem de Alta Velocidade). Apesar de este projeto estar dormindo atualmente, é uma obra inevitável. Além disso, a própria EBL (Empresa Brasileira de Logística) planeja de cem a cento e cinquenta quilômetros de túneis para ferrovias. O mercado está decolando muito rápido. Uma prova é que o CBT (Comitê Brasileiro de Túneis) tinha cento e vinte e seis sócios há três anos e hoje conta com quatrocentos e sessenta. Isso é consequência do mercado.
Hoje, qual é a obra mais significativa, em termos de escavações de túneis, no Brasil?
Não cito apenas uma, mas um conjunto de obras, entre elas o Rodoanel Norte, a Linha 5 do Metrô de São Paulo, o Porto Maravilha e a Linha 4 do Metrô, ambas no Rio de Janeiro.
Os túneis e transposições subterrâneas são, atualmente, obras muito mais sustentáveis do que pontes e viadutos?
Depende do ponto de vista. Cada obra tem sua aplicabilidade, em razão da situação topográfica, geológicas e de ocupação urbana. Em alguns casos, é mais adequado o uso de pontes; em outros, túneis. Agora, sob o ponto de vista de interferência ao meio externo, o túnel tem um impacto menor. Ele só tem o emboque e o desemboque. Diria que os túneis têm uma convivência ambiental muito mais ajustada com situações de grande ocupação urbana.
Nas alegadas obras de mobilidade que vieram à tona por causa de Copa do Mundo e Olimpíadas, o senhor avalia que os túneis foram bem contemplados?
Não. Primeiro, porque as obras de mobilidade para a Copa do Mundo não ficarão prontas a tempo. As que foram concluídas são as mais fáceis, mas com resultados de médio e longo prazo discutíveis. Agora, as obras subterrâneas, que têm uma contribuição maior para a mobilidade urbana, praticamente nenhuma vai estar pronta.
O próximo WTC será na Croácia, em 2015. O que esperar até lá em termos de novidades?
Após a crise na Europa, todos estão concentrados no desenvolvimento tecnológico. A premissa é reduzir custo, melhorar a eficiência, reduzir prazo de execução e ganhar produtividade. Também são esperados equipamentos que reduzam impactos ambientais, reduzam perdas de materiais e reciclem materiais.
Entrevistado
Geólogo Hugo Cássio Rocha, chefe do departamento de projeto civil do Metrô de São Paulo e presidente do Comitê Brasileiro de Túneis
Contato: www.tuneis.com.br/footer/fale-conosco
Crédito Foto: Divulgação/WTC 2014
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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